Adriana Esteves, 51 anos de idade, está no ar com a reta final da novela Amor de Mãe, na qual interpreta a personagem Thelma, apontada pelo público como uma vilã desequilibrada. Em conversa com Quem, a atriz explica que não teve medo de ter o atual papel comparado com o da icônica Carminha de Avenida Brasil (Globo, 2012).
“São personagens extremamente diferentes, de autores diferentes. Já fiz duas vilãs do João Emanuel Carneiro – a Carminha, de Avenida Brasil, e a Laureta, de Segundo Sol – e ali, sim, minha preocupação foi maior. As duas eram filhas do mesmo autor”, diz, citando a diferença de trabalho entre os atores João Emanuel Carneiro e Manuela Dias, responsável por Amor de Mãe. “Se as personagens ficassem parecidas, o erro seria meu. Eu que teria um problema por querer imprimir determinada personalidade. Quando eu recebo um personagem, sou o oposto disto: gosto de zerar minha personalidade e corresponder, da melhor maneira possível, ao que o autor pensou.”
Com a carreira iniciada na novela Vale Tudo (Globo, 1988), quando fez uma figuração em uma cena estrelada por Gloria Pires, Adriana coleciona personagens marcantes – como a vilã Sandrinha, de Torre de Babel (Globo, 1998) e Catarina, de O Cravo e a Rosa (Globo, 2000) – e também já recebeu críticas no início da carreira, quando interpretou a mocinha Mariana, de Renascer (Globo, 1993), e acabou sendo diagnosticada com síndrome do pânico.
“A minha vida ficou muito mais gostosa na fase madura. Na fase adulta, meu trabalho ficou melhor e mais gostoso também”, afirma a atriz, que é mãe de Vicente, de 14 anos, do casamento com Vladimir Brichta, e Felipe, de 21, da união com Marco Ricca, e também considera Agnes, do casamento anterior de Vladimir, como filha. “Hoje, não vou para o trabalho encontrar alguém que quer competir comigo. Eu vou de coração aberto porque sei que terei colegas com vontade de me dar a mão para fazer cenas bonitas”, diz.
de Mãe e o que pode adiantar do desfecho da Thelma?
Acreditei muito no final da Thelma. É um final que me sensibilizou muito. Desde que fui convidada para a novela e li a sinopse, pensei muito em como seria o final da personagem. Acho que preparei a personagem para esse final. Não posso dar spoiler, mas é um final que havia imaginado também.
E como encarou o intervalo de paralisação das gravações?
Ainda bem que ele demorou. Assim, tive tempo de me preparar para me despedir dessa personagem.
Entre o intervalo de gravação na pandemia, retomada dos estúdios e volta ao ar, o elenco manteve contato?
Temos um grupo de WhatsApp, mas é amadurecido. Sem histeria. É um grupo maduro, mas é atuante. A gente conversa, sim. Acho que nem queremos encerrá-lo mesmo com o fim da novela.
O que avalia como grande ponto alto de Amor de Mãe?
A novela aborda esse momento feminino com muitas mulheres fortes, cheias de personalidade. Somos guerreiras, sim. E guerreiras cheias de fragilidades. A sororidade é um ponto muito claro na novela. Chega um momento em que uma precisa da ajuda da outra e elas se fortalecem com a ajuda uma das outras. Nesta reta final, a Lurdes terá um embate muito forte na disputa pelo amor do filho. É preciso dizer que a briga entre elas é com dor porque elas sentem saudade da amizade. Vem o questionamento: por que nós vamos brigar se existe amor entre nós duas?
Avalia que a rivalidade feminina ganhou um novo olhar?
De uns anos para cá, eu percebo que antes havia um grande resquício de machismo ao dizer que mulher não é amiga de mulher. As meninas competiam. É tão bonito perceber que a gente foi desconstruindo essa questão que estava arraigada na gente. A gente morre de prazer ao reconhecer a admiração por outra mulher. Poder gostar de outra mulher me fortalece muito. Durante parte da minha trajetória, tive um pouquinho de solidão por não acreditar que somos melhores juntas.
O amadurecimento te ajudou a ter esse ponto de vista?
A minha vida ficou muito mais gostosa na fase madura. Na fase adulta, meu trabalho ficou melhor e mais gostoso também. Hoje, não vou para o trabalho encontrar alguém que quer competir comigo. Eu vou de coração aberto porque sei que terei colegas com vontade de me dar a mão para fazer cenas bonitas.
Com mais de 30 anos de carreira, você já teve diferentes momentos na profissão. Tem algum hábito para compor os personagens?
Quando eu começo a fazer uma personagem, eu não penso muito se ela vai ser vilã ou mocinha — mocinha, agora, já não dá mais (risos). Gosto de pensar na pessoa. Tenho que ajudar a construir aquele ser humano. Se é escrita de forma em que a personagem se humaniza, não é tão importante se ela fará vilanias ou não. Afinal, estará dentro de um contexto coerente daquela personagem.
Carminha foi uma vilã icônica. Temeu ter as personagens comparadas?
Não me preocupei porque são personagens extremamente diferentes, de autores diferentes. Já fiz duas vilãs do João Emanuel Carneiro – a Carminha, de Avenida Brasil, e a Laureta, de Segundo Sol – e ali, sim, minha preocupação foi maior. As duas eram filhas do mesmo autor. Agora, o João e a Manuela são autores completamente diferentes. Se elas ficassem parecidas, o erro seria meu. Eu que teria um problema por querer imprimir determinada personalidade. Quando eu recebo um personagem, sou oposto disto: gosto de zerar minha personalidade e corresponder, da melhor maneira possível, ao que o autor pensou.
Já se imaginou voltando a interpretar algum dos seus papéis?
Se isso algum dia acontecer, uma segunda fase de uma série, uma continuação de uma novela, ou até mesmo de um filme, será um momento inédito em minha trajetória. Serão outros desafios.
Foto: Sergio Zallis