Existem tipos diferentes de atrizes e normalmente todas erram e acertam, até as maiores. Num conceito mais técnico, quem foge do naturalismo e abraça a caricatura costuma trilhar um caminho perigoso, pois um passo a mais do objetivo e a personagem deixa de ser crível. Praticamente todos os artistas com este tipo de interpretação já cometeu este deslize, menos Adriana Esteves. Novamente ela vai por um caminho difícil em que não pode se dar o luxo de errar e acerta espetacularmente.
Os adjetivos podem soar exagerados e quase sempre é recomendável fugir deles em um texto analítico. Mas é difícil descrever o trabalho da atriz sem usar este recurso da Língua Portuguesa. O trabalho em específico é a série Os Outros https://www.drivla.com.br/os-outros/ original do Globoplay e que liberou os dois primeiros episódios nesta semana.
Na produção, Adriane vive Cibele, uma típica mulher de classe média, trabalhadora, casada e mãe de família. Ela vive com o marido e o filho num gigantesco condomínio do Rio de Janeiro. O pontapé inicial da história é uma briga envolvendo o filho dela e um vizinho. A personagem fica inconformada com o fato do menino ter tido o braço quebrado e não perdoa nem o agressor e muito menos o pai do moço.
No primeiro episódio a atriz já mostra que pretende entregar mais uma performance acima da média e, ao final o que se vê é algo assombroso. Cibele é visceral como tudo que Esteves fez na TV, mas muito diferente de outros personagens icônicos, como Carminha, de Avenida Brasil (2012). A mãe é devota, mas sem o estereótipo da matriarca exagerada e super protetora.
Os Outros é uma série bem escrita e bem produzida, que promete muito ao entregar dois grandes episódios. Mas mesmo um elenco afiado, tendo atores bem preparados é difícil competir. Adriana Esteves não teme ser comparada a outros papéis e se joga a cada cena com alto grau de carga dramática. Os trejeitos que ela empresta para seus personagens estão todos ali, mas vistos numa personalidade muito diferente.
Quando se foge do naturalismo, como é o estilo dela atuar, há sempre o risco do erro pelo exagero. Mas Adriana sabe como poucas se equilibrar em cima desta linha tão tênue que a faz lembrar uma atleta olímpica. Não caiu nenhuma vez e, novamente, entrega uma performance que assombra os telespectadores e lhe renderia uma medalha de ouro se fosse em Olimpíada
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