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Adriana Esteves entrevista Gabriela Duarte – Jornal do Brasil jan/1998

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Adriana Esteves - Top Model
Foto Rede Globo
No dia 22 de dezembro, uma segunda-feira, recebi o convite do JB para entrevistar Gabriela Duarte. Aceitei na hora, instigada pela novidade de elaborar uma pauta, criar perguntas e fazer o texto de abertura. A entrevista, sendo com a Gabi, foi um delicioso e ensolarado bate-papo na Praia do Pepino, na tarde que precedeu a noite de Natal. Gabriela e eu nos conhecemos há 10 anos quando fizemos juntas nossa primeira novela, Top Model. Somos as duas filhas de Regina (a dela Duarte e a minha Esteves); durante um período de adolescência fomos vizinhas de rua na Barra da Tijuca e não são raras as vezes em que somos confundidas na rua por causa de nossa semelhança física. Nossa entrevista teve a sede de botar o papo em dia, trocar experiências, discutir nossos ofícios e – por que não dizer? – jogar conversa fora. Tenho um grande orgulho de acompanhar a trajetória desta atriz que hoje, aos 23 anos, está fazendo um lindo trabalho na TV; (atualmente interpreta a Eduarda da novela das oito, Por Amor). Encontrar Gabriela é sempre a certeza de receber um forte abraço, trocar afinidades e ganhar aquele sorriso que encanta não só os amigos, mas todo o Brasil.
#AdrianaEsteves, 28 anos, atriz: Por Amor é a primeira novela que você protagoniza ou Irmãos Coragem você protagonizava também?
GABRIELA DUARTE: Em Irmãos Coragem não era a protagonista. Nessa novela, pela própria história da Janete Clair e pelo fato da minha mãe te ficado grávida, o papel da Ritinha foi diminuindo. Por Amor é a primeira com essa importância dentro da trama. É difícil ser a protagonista da novela, não te dava um medo?
ADRIANA ESTEVES: Ao protagonista é atribuído uma importância que no caso vem com uma responsabilidade absurda, uma quantidade de trabalho excessiva, exige uma disciplina o ano inteiro. Queria que você falasse sobre isso, como está sendo nessa novela este ano. Eu sei que é uma escola danada.
GABRIELA DUARTE: É muito difícil conciliar as coisas. Mas é maravilhoso porque é uma escola, você aprende muito. Por outro lado, você deixa de viver a tua vida para viver só aquilo, tudo fica em segundo plano, mas se não for assim, não sai. Eu sou muito perfeccionista porque sou muito chata comigo em tudo. Se estou gordinha e eu quero emagrecer eu me cobro. Na novela precisa existir essa disciplina. Saio no final de semana e não me desligo.
ADRIANA ESTEVES: Assisto muito aos capítulos de Por Amor. Na hora da novela ninguém pode me ligar e há muito tempo isso não acontecia comigo em relação a uma novela. O que mais gosto no teu personagem é que ela é uma protagonista jovem de carne e osso. Igual a gente, nós erramos e acertamos. Ela é um ser humano. Gostaria que você me falasse do prazer e talvez de uma coisa que não seja tão legal fazer uma pessoa que nem sempre acerta.
GABRIELA DUARTE: Fica uma coisa meio chavão agradecer ao Manoel Carlos pela personagem. Mas não tem como não falar. Só posso agradecer porque ele me deu um personagem que não representa nada. Ela não é o bem nem o mal. Em toda novela existe até na vida da gente existe. As pessoas têm muita a necessidade de rotular as pessoas. O grande barato é esse. Está fazendo uma menina tem tudo e todas as emoções e passa isso.
ADRIANA ESTEVES: O seu personagem surpreendeu todo mundo. Acho que as pessoas esperavam que entrasse um personagem que até eu já fiz muito o da mocinha correta, que tudo dá certo, que consegue tudo. Aí entra a Gabriela fazendo a Eduarda, uma personagem que erra, que não tem vergonha de falar em primeiro lugar o meu marido, coisas politicamente incorretas e viva!
GABRIELA DUARTE: A Eduarda tem todos os ingredientes que irritam as pessoas como a insegurança, o que ela não tem nenhuma vergonha de expressar. Depois que as pessoas começaram a reagir, fiquei com medo, é uma rejeição. Comecei a ouvir muito que ela era chata. Eu parei para pensar e descobri que essa era a função dessa menina nessa história, se eu não fizer ela chata não vai ter nada. E ela não é uma menina boazinha, normal.
ADRIANA ESTEVES: Acho ela corajosa porque ela se assume, ela banca.
GABRIELA DUARTE: Acho que a Eduarda teve cenas onde já pude mostrar muita coisa dela ela tem uma flexibilidade que eu posso fazer o que eu quiser. Quem vai dizer que eu estou fazendo a Eduarda errado, por exemplo? Ela me dá uma liberdade pelo fato de não ser a boa. Com a Ritinha [de Irmãos Coragem] já não tinha isso. Era limitado. A Eduarda não. Ela é boa de fazer, de uma generosidade.
ADRIANA ESTEVES: Ela oscila, então ela normal. Às vezes, ela é má, em outras é boa. Isto não te assusta tem dia que está cheia de nheco, nheco, chata. No outro dia a Gabriela faz uma cena que emociona a gente. Fiquei completamente mobilizada com a cena da troca dos bebês que acabou com a minha noite. A cena que você pega o bebê na hora que a sua mãe apresenta o bebê para você, eu chorava.
GABRIELA DUARTE: Fiquei muito chocada com essa cena também. Ela (Helena) não olhava para o bebê, ela olhava para mim. Sabe quando você dá um presente para uma criança e quer ver a reação dela? Uma coisa que você sabe que é tudo que a criança quer? Isso me emocionou muito na hora da cena.
ADRIANA ESTEVES: Queria saber de você quais são os atores, pessoas que exercem uma influência no seu trabalho, conhecendo ou não, já tendo trabalhado ou não, pessoas que você já trabalhou há cinco anos atrás e que não encontra mais, o que é muito natural na nossa profissão. Alguém que tenha te marcado não só interpretando, mas na sua postura em relação a esse ofício.
GABRIELA DUARTE: Tem uma pessoa que a gente trabalhou junto e é uma pessoa que me ensinou. Na nossa profissão tem uma coisa maravilhosa não existe uma coisa didática. As pessoas me perguntam, a tua mãe te ensina? Me ensina, claro, mas existem outras pessoas, a Susana Vieira, o Paulo José, o que eu aprendo com essas pessoas, nossa! Uma pessoa que admiro como ser humano, como atriz, uma coisa de comédia, é a Zezé Polessa. O trabalho dela me encanta. Quando fizemos a Top Model eu adorava ver as cenas dela, ela tinha uma naturalidade, uma espontaneidade que eu ficava muito impressionada.
ADRIANA ESTEVES: Mas não tem outras pessoas que te influenciam? Tipo o dono da venda da esquina.
GABRIELA DUARTE: Agora eu estou no palco. O meu momento é um laboratório constante. O meu namorado mora em Batatais, interior de Ribeirão Preto, tenho visto coisas que você não vê em qualquer lugar, jeito de falar.
ADRIANA ESTEVES: É claro que da sua mãe você recebe influência mesmo que ela não fosse a grande atriz que ela é você teria a influência dela em casa no seu jeito de ser. Mas existem várias outras pessoas, porque você tem todo um trabalho que não é só televisão. Você trabalhou um tempo com a Bia Lessa, fez um trabalho brilhante na Vida como ela é. Fiquei encantada. Me fala um pouco desse trabalho. Acho que foi um pouco para romper padrões da mocinha.
GABRIELA DUARTE: Acho que inconscientemente foi. A verdade é que foi uma decisão difícil. O Daniel Filho deu uma penada comigo, deu trabalho para me convencer. Tinha 80% que queria, mas tinha os 20% que relutava por causa da nudez. Não tenho a intenção de chocar. Acho muito delicado. Tenho medo da coisa apelativa. Nesse trabalho tinha uma base. Nelson Rodrigues tem que existir a nudez, não tem como.
ADRIANA ESTEVES: Me fala do trabalho com a Bia Lessa.
GABRIELA DUARTE: Estava saindo do grupo do Antunes Filho com quem trabalhei oito meses e encontrei a Bia que me convidou para viajar com as peças Orlando, em Munique e a Viagem ao centro da terra, em Hamburgo.
ADRIANA ESTEVES: Isso foi antes de Irmãos Coragem?
GABRIELA DUARTE: Foi.
ADRIANA ESTEVES: Depois de Irmãos Coragem você parou para estudar de novo e foi para o Actors’Studio?
GABRIELA DUARTE: Foi, mas antes gravei AVidaComoElaÉ.
ADRIANA ESTEVES: O que me passa é que você dosa bastante a sua carreira. Você tem a noção da sua idade e não se permite um desgaste de um veículo.
ADRIANA ESTEVES: Tem um pouco isso mesmo. Mas às vezes me arrependo. Mas sinto que me poupei muito dentro da televisão, mas isso foi maravilhoso, porque pude fazer outras coisas fora que me ajudaram. Mas sinto que podia trabalhar mais. Fiz três novelas até hoje e tenho quase 10 anos de carreira.
ADRIANA ESTEVES: Foram três novelas, espetáculos de teatro e a Vida Como Ela É.
GABRIELA DUARTE: Novelas foram Top Model, Irmãos Coragem e Por Amor. Teatro fiz a Viagem ao Centro da Terra, Orlando, Confissões de Adolescente, Namoro e Lili, um infantil.
ADRIANA ESTEVES: Qual foi o trabalho que você experimentou o clímax, aquela cena que você não sabia que ia conseguir fazer e consegue e vai para casa feliz. Quando foi o dia que você realmente falou eu sou uma atriz.
GABRIELA DUARTE: Foi em Irmãos Coragem sob a direção do Luiz Fernando Carvalho. Ele conseguiu arrancar as coisas. É para isso que existe o diretor. Você sabe que existem coisas aqui dentro, mas muitas vezes você não sabe como é que você vai expressar. É aí que entra o papel interessante do diretor de ator. Como ele vai trazer, tirar isso de você. Detesto o método [Walter] Avancini de ter afogar, ele afogava a minha mãe, dava na cara. É um método. Eu não gosto.
ADRIANA ESTEVES: Mas você não teve uma fase que achasse que deveria sofrer para crescer como atriz e que deveria talvez ir trabalhar com o Antunes?
GABRIELA DUARTE: O Antunes me fez ver isso. Um dos terrores psicológicos que ele usava comigo era assim: Gabriela você tem que rodar bolsinha no cais do porto. Eu tinha 16 anos, Adriana, era muito louco. As pessoas que estudavam com ele, era gente de fora que morava em pensão no centro de São Paulo, uma vida dura. Eu me sentia muito culpada porque tinha uma vida ótima. Tinha o meu primeiro carrinho que ganhei com 18 anos. Ia de carro e as pessoas pegavam metrô. Foi uma loucura, uma culpa social. Teve uma época que infernizei a minha mãe dizendo que ia morar sozinha. E ela me deu uma grande lição, uma das, ela disse que o fato de eu morar sozinha fisicamente não significava que eu iria me tornar uma pessoa independente, a independência está na cabeça.
ADRIANA ESTEVES: Você não acha que tinha uma coisa talvez inconsciente ou totalmente consciente tua de também por estar na mesma carreira de querer romper com a tua mãe para começar sozinha?
GABRIELA DUARTE: Eu acho Adriana que teoricamente isso já existiu muito na minha vida. A gente já tentou de tudo. A gente já decidiu não dá entrevista juntas, não fazer comercial, o que fazia com que deixássemos de ganhar uma grana. Agora, nós fazemos uma novela juntas.
ADRIANA ESTEVES: Eu sei como é isso. A gente faz isso com o marido, e aí, a gente fala, não vamos ser casal. Acho que numa determinada época da nossa vida, nós vamos descobrir que não tem que se fazer nada.
GABRIELA DUARTE: É isso. Quando voltei de Nova Iorque e começou a rolar o papo da novela, senti que era o momento, estava mais segura até para romper, porque acho que o rompimento pode estar aí, na nossa união. Muita gente já comentou comigo dizendo que agora eu deixei de ser a filha da Regina Duarte. Isso me deixa profundamente envaidecida.
ADRIANA ESTEVES: Quando a gente vê você no ar é impressionante a sua segurança como atriz contracenando com a Regina Duarte, com o Antônio Fagundes, com o Fábio Assunção ou com a Viviane Pasmanter ou com quem for, tem uma segurança ali de uma atriz e a sua personalidade aparece, as suas características com atriz aparecem. Muito difícil aparecer, uma vez que, perto da sua mãe vocês têm uma semelhança física absurda. E foi um movimento pela união, você não precisou ter aceitado um outro convite de uma novela que ela não fizesse é a novela que vocês fazem mãe e filha.
GABRIELA DUARTE: Mais uma vez, volto a dizer, que eu tenho que agradecer ao Manoel. Estamos fazendo um trabalho bonito junto. Ele me deu a oportunidade de muitas vezes, em sentido figurado, claro, ele me botou falando alto com a minha mãe, botando o dedo na cara dela, no início da novela tinha muito isso, a gente tinha briga em que eu falava ‘nem você eu respeito mais’. Não era uma coisa de mãe e filha, uma história de amor, de duas fofinhas que se adoram e que estar tudo bem sempre.
ADRIANA ESTEVES: Me fala da sua experiência do Actors’Studio. Como foi o curso, que aulas você teve lá, em que pode dificultar a interpretação em outra língua que talvez a gente não domine tanto ou nada, não sei.
GABRIELA DUARTE: A minha sorte é que eu já tinha uma boa noção. Mas tudo que eu sei de inglês eu aprendi agora, na marra, não tem outro jeito. Os textos, os professores, tudo em inglês. Uma das coisas que essa viagem me mostrou muito foi que o quanto é bom interpretar na sua língua. Como é difícil você ser ator numa língua que não é a sua. É complicado demais, Adriana.
ADRIANA ESTEVES: A melhor hora era a de expressão corporal?
GABRIELA DUARTE: Era a do relaxamento.
ADRIANA ESTEVES: Você dosa muito bem a sua superexposição na mídia. Queria saber se isso é natural ou se é consciente.
GABRIELA DUARTE: Existe uma seleção consciente. Procuro fazer um pouco de cada coisa. Tudo é importante tanto fazer a capa de uma revista super bacana como fazer a Caras, sem menosprezar, muito pelo contrário. Fazer uma revista de maior penetração no mercado e uma de menor, tudo é importante. Mas existe a tentativa de não ficar muito exposta. Quando fui para Nova Iorque, falava-se muito de mim, quando voltei tive a sensação que precisava cavar o meu espaço. Fiquei oito meses afastada e quando voltei as pessoas não sabiam que tinha voltado. A minha vida parou de trabalho. Mas foi um momento muito rico. Percebi que a gente tem que batalhar o nosso espaço para as pessoas saberem que você foi estudar, já voltou, e continua sendo atriz. Depois que passou essa tempestade, percebi que a vida é boa, que ela pode não te dar, mas ela, além de não te tirar, depois que passa a tempestade, ela te dá, uma coisa boa que, no caso, foi a novela. Sofri muito, foi um momento muito difícil, até porque as coisas começaram a dar erradas, foi o caso da novela A Indomada. Mas logo depois disso, surgiu Por Amor. Você lembra que te falei que às vezes a gente fica chateada com uma coisa que não aconteceu e mais para frente a gente pensa: aí que bom que não aconteceu.
ADRIANA ESTEVES: Pela sinopse, a sua personagem vai sair no meio. Em vista do sucesso, já senti que o autor está botando para sair lá no finalzão, caso tenha que sair antes um pouco, vai dar uma dor muito grande?
GABRIELA DUARTE: Vai, sempre dá. Mas, sinceramente, acho muito difícil ele ter história para sustentar a novela até o final, se a Eduarda morre agora, por exemplo, no meio agora, no capítulo 100, acho difícil ele ter 80 capítulos para resolver a o problema da Helena que vai tentar reaver o bebê. Isso se resolve em 15, 20 capítulos.
ADRIANA ESTEVES: Você se recorda de uma polêmica tão forte como essa que mobilizasse o país?
GABRIELA DUARTE: Me lembro da Odete Roitman.
ADRIANA ESTEVES: Você acha que a novela no Brasil é realmente formadora de opinião. Ela pode influenciar no comportamento das pessoas, como em questões tão fortes como essa da troca de bebês?
GABRIELA DUARTE: Acho que sim. A novela mobiliza. Existe uma mobilização muito grande em cima da troca. As mães, os médicos, todos estão falando. Mas não basta levantar polêmica, desde que seja muito bem feita. Está sendo muito bem realizada, é muito bem escrita, interpretada e dirigida. A história está muito bem amarrada.
ADRIANA ESTEVES: Contracenar diretamente com a sua mãe, você acha que é mais difícil do seria contracenar com o seu marido? Não estou falando pelo que essa pessoa representa para o Brasil, mas por ela ser a sua mãe, que sabe tudo de você, não tem como trucar.
GABRIELA DUARTE: Todo mundo me pergunta isso. Como é contracenar com a minha mãe, mas nunca existiu uma pergunta nesse nível de objetividade. É uma pessoa que sabe tudo de você e a grande dificuldade é essa, não é contracenar com a Regina Duarte, é minha mãe, é Regina Duarte para os outros, para mim é a minha mãe. Existe uma intimidade, uma generosidade entre a gente que facilita muito as coisas. As pessoas falam ‘contracenar com a Regina Duarte é dificílimo’, para mim, não é pô, é a minha mãe, a gente convive 24 horas por dia, a gente bate o texto em casa. A grande dificuldade é essa, e aliás, só essa, é uma pessoa que, sabe quando você dá aquela canastrada, só ela percebe, você vê no olho dela, assim, hum, Gabriela se concentra. No caso do desgaste da relação é muito mais fácil trabalhar com a minha mãe do que seria trabalhar com o marido. Mãe e filha é incondicional, a gente pode se esfaquear mais a gente vai se amar sempre.
ADRIANA ESTEVES: Gabriela você é uma atriz que eu tenho vontade de ver no cinema, eu imagino você no cinema e imagino que você sente isso também. Como é isso, ainda não rolou.
GABRIELA DUARTE: Não. E eu quero fazer cinema, eu quero fazer cinema.”

 

 

Foto: Rede Globo

Fonte: https://www.facebook.com/cenasdateledramaturgia/

 

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