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Adriana Esteves: “Eu não poderia me tornar atriz hoje em dia”

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Adriana Esteves
Foto: Sergio Zallis

Mais uma vez, Adriana Esteves está participando do Emmy Internacional, agora com Amor de Mãe, que disputa o pódio de melhor novela do ano. Entre as quatro indicações acumuladas em sua carreira na Academia Internacional das Artes & Ciências Televisivas consta Avenida Brasil (2012), que a consagrou como uma das vilãs mais populares da TV brasileira.

Lá se vão quase dez anos, e Carminha continua sendo lembrada, seja nas ruas, seja nas figurinhas mandadas via WhatsApp. “Eu adoro receber. Pra mim, são como um aplauso do público”, admite Adriana, que pode ser vista nos cinemas em Marighella, dirigido pelo colega Wagner Moura. No longa-metragem brasileiro de maior bilheteria desde o início da pandemia, a atriz de 51 anos é Clara Charf, companheira do guerrilheiro.

Outra aparição nas telonas, em Medida Provisória, de Lázaro Ramos, já está marcada para janeiro de 2022, quando ela dará vida a mais um papel polêmico, uma burocrata racista e preconceituosa. Atuando em várias frentes, Adriana ainda tem planos para fazer uma nova série e regressar ao teatro junto do marido, o ator Vladimir Brichta, com quem está casada desde 2003.

 

“Há quem ache enfadonho ser romântico, mas nós curtimos. Temos de escolher diariamente a pessoa que está ao nosso lado”, fala, na franca entrevista que concedeu a VEJA RIO.

 

Você está nos cinemas com Marighella, que foi rodado em 2017 e demorou a estrear após enfrentar uma série de entraves burocráticos nos órgãos federais. Houve censura? Tenho certeza de que o filme foi muito dificultado e houve vontade de massacrá-lo. Nos dias de hoje, considero uma vitória a estreia de Marighella nos cinemas do Brasil todo.

 

Você interpreta Clara Charf, a viúva do “inimigo número 1 da ditadura militar”. O que o papel lhe ensinou? O lugar da minha personagem é o do amor, não só pelo marido, mas pelo país. Ela era uma militante política, ativista pelos direitos das mulheres, e apoiou Marighella, vivendo situações muito difíceis.

 

Chegou a conhecê-la pessoalmente? Sim, durante as pesquisas para o filme. Ela está com 96 anos e até hoje fala de Marighella com os olhos brilhando. É o grande amor de sua vida, e eu adoro contar histórias assim. O início da minha carreira, antes das Carminhas e Thelmas, foi todo com papéis românticos.

 

Considera-se também romântica? Eu e o Vlad curtimos essa brincadeira de ser romântico, de ser namorado um do outro. Às vezes os meninos passam pelo corredor e nos veem no chamego, de mãos dadas. Tem gente que acha isso enfadonho, chato. A gente ama.

 

Um casamento duradouro precisa disso? Pra mim, sim. Eu tive parcerias, amores e casamentos incríveis. Fico em constante vigília. Temos de escolher diariamente a pessoa que está ao nosso lado.

 

Seu ex-marido Marco Ricca contraiu Covid-19 e ficou em estado grave. Como foi enfrentar esse período? Se você tem empatia, já sofre o suficiente ao ver a dor e o luto dos outros. De repente, estávamos passando por isso dentro de casa, com o pai do meu filho mais velho entubado no hospital. Achamos que ele ia morrer. Foi horrível.

 

A pandemia acentuou a ocorrência de transtornos mentais. Conseguiu manter a cabeça saudável? Sou muito ansiosa e me cuido para nunca mais passar pelo que passei no início dos anos 90, quando sofri de depressão. Tinha 22 anos, havia acabado de gravar Renascer e entendi as críticas à personagem como um massacre a mim. Demorei uns dois, três anos para sair desse processo. Em 1995, eu renasci após a depressão. Como a ciência já provou, o exercício é fundamental. Hoje busco fazer umas vezes por semana e, na pandemia, comecei a praticar ioga e meditação.

 

A terapia também ajudou? Com certeza. Faço isso há dezesseis anos. Nunca faltei, nem mesmo com a Carminha fervendo. O mais importante é que as pessoas que estejam em depressão peçam ajuda e falem o que estão sentindo.

 

Você vai fazer 52 anos em dezembro. Acha que está melhor agora do que aos 20? Olha, a cabecinha certamente está (risos).

 

A exemplo de Wagner Moura e Lázaro Ramos, que estão estreando na direção de cinema, também tem vontade de trabalhar atrás das câmeras? A princípio, levantar um projeto sozinha não me anima. Mas gosto muito de todas as funções do cinema. É artesanal, tem um tempo perfeito de trabalho. No caso de Marighella, eu falei para o Wagner: “Estou junto, seja onde for”. Entraria feliz na produção ou numa assistência de direção.

 

Que lembranças a novela Amor de Mãe, que está concorrendo ao Emmy, deixa? Quando voltamos a gravar, após seis meses parados, não tinha vacina e estávamos vendo um número gigantesco de contaminação e mortes. Deu muito medo. Eu era uma das atrizes que não queriam voltar. Trabalhamos num momento dificílimo, mas foi ótimo conseguir terminar a novela.

 

Por que não está nas redes sociais, ao contrário da maioria de seus colegas? Não tenho vontade de dedicar minha vida a isso. Eu me conheço, não me faria bem. Aumentaria minha ansiedade e poderia dar asas a um lado narcísico que não me interessa incentivar. Mas sempre posso mudar de ideia (risos).

 

O que acha daqueles testes de elenco que exigem que os atores tenham no mínimo 10 000 seguidores? Dá vontade de rir, é absurdo um pré-requisito desses. Isso não é mentira, não?

 

Não, inclusive os anúncios são divulgados nas próprias redes sociais das produções. Bom, então eu não poderia entrar para a carreira de atriz hoje em dia. Não tenho nem Instagram.

 

Foto: Sergio Zallis

Fonte: https://vejario.abril.com.br/beira-mar/adriana-esteves-depressao-cinema/

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