Após quase dez anos de união, com uma vida de filhos, trabalhos e amores compartilhada, Adriana Esteves e Vladimir Brichta fazem seu primeiro filme juntos. Em “Real beleza”, o casal verdadeiro se entrega a uma arrebatadora paixão de ficção. Pontas distintas que se entrelaçam sem se devorar.
— A intimidade poderia atrapalhar se não entendêssemos o nosso limite. Até no casamento, a gente conserva certas individualidades. Entender isso no trabalho é importante. Tenho muito pudor de interferir na criação do outro, e não fiz isso com Adriana. A gente guardava o frescor para a cena — explica Vladimir.
O longa de Jorge Furtado é repleto dessas intersecções. Adriana, no entanto, sente dificuldade de verbalizar as conexões com Anita, a mulher madura e casada que se envolve com o fotógrafo vivido por Brichta, de 39 anos.
— Não sei como eu a interpretei. É como eu a via. Ela brotou ali em mim — vagueia a atriz de 45 anos que, pela primeira vez no cinema, aparece toda nua: — A repercussão do nu mostra que as coisas estão muito caretas. A nudez, de repente, é um tabu. Quem vê o filme sabe que isso é um detalhe, que gosto muito, aliás. Aquela mulher se desnuda da mesma forma que chora. Ela está se abrindo. É metafórico tirar a roupa.
No filme, essa mesma mulher se debate: ficar em casa com o marido mais velho e deficiente visual — papel defendido por Francisco Cuoco — ou se render ao novo. Casado com Thaís Almeida, quase 53 anos mais jovem, o veterano ator conhece os desdobramentos do amor que se mantém à revelia do tempo.
— Penso muito sobre envelhecer. Ou você lida com isso da melhor maneira possível ou morre. Por enquanto, prefiro ficar todo dia mais velho. A gente sabe que tem um repúdio da sociedade. É inevitável, mas não modifica nada. O que as pessoas falam não é mentira: existe mesmo uma diferença enorme de idade. Então, é natural que digam. A nossa aceitação é que faz a diferença — afirma Cuoco, de 81 anos, que pretende trabalhar ao lado da mulher no teatro.
Outra fagulha de coincidência recai sobre a estreante Vitória Strada, de 18 anos. Cabe a ela personificar a beleza que extrapola a superfície, algo perseguido pelo fotógrafo na história. A estampa com conteúdo faz a jovem ter uma chance única como modelo, carreira que Vitória exerce desde os 12. Não demorou muito para que ela, ainda longe do sonho de ser atriz, se deparasse com o termo “book rosa”, popularizado pela novela “Verdades secretas”.
— Lembro de um comentário aos 13 anos e de ter achado engraçado. Pensei: “Mas o meu é cinza”. Não foi comigo, eu era muito nova. E os meus pais sempre me protegeram desse tipo de coisa. Toda profissão tem um lado ruim, mas o mais fácil não é o melhor. Sempre consegui as coisas pelo meu mérito, por isso fiquei tão feliz de estar nesse filme — ressalta Vitória, estudante de Teatro na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que disputou o papel com 350 garotas.
Fonte: http://extra.globo.com/tv-e-lazer/adriana-esteves-fala-sobre-repercussao-de-sua-nudez-em-filme-as-pessoas-estao-muito-caretas-17154700.html