A Thelma é de uma riqueza que impressiona. Ao mesmo tempo que ela precisa rever a relação com o filho, também tem de lidar com um aneurisma inoperável que acaba de descobrir”, explica.
Natural do Rio de Janeiro, Adriana era apenas jovem modelo quando participou de um concurso de atuação do “Domingão do Faustão”, em 1989, que lhe rendeu um papel pequeno na clássica “Top Model”.
Sem desperdiçar oportunidades, fixou-se na emissora e se destacou em novelas como “Meu Bem, Meu Mal” e “Pedra Sobre Pedra”. Em seguida, também enfrentou uma enxurrada de críticas pela complexa Mariana de “Renascer”.
Após uma breve passagem pelo SBT, retornou à Globo e ao posto de protagonista em “A Indomada”, de 1997. “Tudo o que passei me ajudou a ser a atriz que sou hoje” analisa Esteves, que ainda teria outros momentos de destaque em produções como “Dalva e Herivelto – Uma Canção de Amor”, de 2010, na popular “Avenida Brasil”, de 2012 e, mais recentemente, na visceral série “Justiça”, que acabou lhe rendendo uma indicação ao Emmy Internacional da categoria Melhor Atriz.
Suas últimas personagens na tevê, em produções como “Justiça”, “Segundo Sol” e “Assédio”, tiveram forte carga dramática. Continuar nesta linha de atuação em “Amor de Mãe” é uma decisão sua?
Eu não traço planos do tipo “agora vou fazer apenas comédia” ou “chega de fazer personagens densas”. Os convites vão aparecendo e vou vendo o que me instiga, para qual caminho quero seguir. Embora sejam personagens fortes, dramáticas e recheadas de frustrações, o desenvolvimento de cada uma delas foi bem diferente. A minha carreira tem alguns ciclos e acho que daqui a pouco pode pinta algum projeto delicioso de comédia e mudar tudo de novo.
A maternidade é uma questão muito latente em “Assédio” e “Amor de Mãe”. É um tema “urgente” para você?
Foi apenas uma grande coincidência. Mas estou gostando de tratar sobre esse assunto. E é impressionante ver a criatividade dos autores em abordar temas tão pertinentes de forma tão diferente e complementares. Eu demorei mais de uma década para virar “mãe” na teledramaturgia. Hoje tenho algumas personagens do tipo nas costas, mas quando li as primeiras cenas da Thelma pude logo ver que nunca tinha feito nada parecido.
O que a personagem tem de tão diferente?
Ela anula a própria vida para ser apenas mãe. Fiquei meio chocada quando comecei a me preparar para esse papel. É uma atitude ruim para todos os envolvidos e comecei também a fazer uma autoanálise para ver se, em algum momento da minha vida, já sufoquei meus filhos dessa forma.
Você tem feito novelas de forma mais espaçada. O que a levou a fazer “Segundo Sol” no ano passado e já voltar ao ar em outro folhetim ainda em 2019?
A vontade de trabalhar com certas pessoas. Amei fazer novamente uma vilã do João Emanuel Carneiro. Assim como senti que não poderia deixar a Thelma para outra atriz. Certeza que se recusasse estaria frustrada em casa olhando essa personagem linda em outras mãos (risos). Eu conheci o texto da Manuela (Dias, autora) em “Justiça” e me apaixonei pela forma crua e realista que ela cria.
Além disso, estou cercada de amigos e sendo dirigida pelo José Luiz Villamarim, a gente se tornou amigo em “Avenida Brasil” e, sempre que for possível, estaremos trabalhando juntos.
O sucesso de “Avenida Brasil” parece “perseguir” todos os envolvidos no projeto. Como você lida com isso?
É muito isso mesmo. Onde quer que a gente vá, “Avenida Brasil” é assunto. Eu fico entre a saudade e a vontade de falar de futuro. A novela foi exibida em 2012, todos já fizemos outras coisas ótimas depois. Mas um sucesso como esse não se renega. Então, tenho apenas que agradecer por esse carinho todo que a gente recebe até hoje. Agora com a reprise as coisas se intensificaram.
Você tem acompanhado o “Vale a Pena Ver de Novo”?
Sim. Quando soube que a novela tinha sido escolhida, fiquei meio enciumada (risos). Eu queria guardar aquelas lembranças todas comigo. Mas fui dando uma olhada e hoje me divirto muito ao relembrar os bastidores das cenas, em como chegamos a algumas emoções, na dedicação de todo mundo. A Carminha é mais uma das grandes “viradas” da minha trajetória.
Em que sentido?
Esse ano faço 30 anos de carreira e algumas personagens me impulsionaram a ser a atriz que sou hoje. Por exemplo, a Marina de “Pedra Sobre Pedra”, que foi minha primeira protagonista. Com a Mariana de “Renascer” eu aprendi a lidar com críticas e a me superar.
Anos depois, “A Indomada” e “Torre de Babel” me deram versatilidade. Em “O Cravo e a Rosa” e nas temporadas de “Toma Lá, Dá Cá”, mergulhei na comédia. A gente passa por esses momentos e nem sente, mas dá um orgulho danado olhar para trás e ver as coisas legais que aconteceram.
Equilíbrio de forças
Se os anos 2010 de Adriana Esteves foram marcados por vilãs e tipos mais densos, a década passada foi inteiramente dedicada ao humor. A primeira experiência com o gênero foi sob a batuta de Walcyr Carrasco em “O Cravo e a Rosa”, de 2000, onde viveu a espevitada Catarina. “Cheguei a duvidar se conseguiria ter o ‘timing’ para a comédia. Era algo muito distante de mim e foi libertador”, conta.
Com sua verve cômica descoberta, autores e diretores ficaram de olho no “passe” da atriz, que enveredou por protagonistas recheadas de humor em produções como “Kubanacan”, “A Lua Me Disse” e “Toma Lá, Dá Cá”. “Foi um processo intenso e muito divertido. Esses trabalhos deram leveza ao meu processo criativo. Hoje, já posso dizer que sei fazer rir um pouquinho também”, ressalta.
Reforço visual
Embora tenha muitas louras no currículo, Adriana Esteves é do tipo que gosta de mudar de visual entre uma personagem e outra. Entre suas mudanças mais radicais estão os cortes curtos feitos para tramas como “Renascer” e “O Cravo e a Rosa”, além do cabelo cacheado para viver a vilã Sandrinha de “Torre de Babel”. “A caracterização sempre me ajuda muito a achar o tom da personagem. Algumas vezes, já me sinto bem de cara e em outras preciso me acostumar. Isso faz parte da minha profissão”, conta.
Em “Amor de Mãe”, para uma personagem misteriosa e sem grandes excessos de vaidade como Thelma, Adriana acabou escurecendo as madeixas. No dia a dia, a atriz está bem feliz em mostrar sua versão morena. Em cena, ela reforça a postura discreta da personagem com roupas retas e pouquíssima maquiagem. “Ela desistiu da própria individualidade para viver a maternidade. É uma mulher que parou no tempo”, analisa.
Foto: Artur Meninea/Gshow