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Adriana Esteves: ‘Sou várias malucas numa só’

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Adriana Esteves
Foto Leo Martins

 

Laureta é dona de um bordel de luxo. Fria, vaidosa e manipuladora, a vilã de “Segundo Sol” tem todos os ingredientes necessários para se tornar, assim como Carminha, de “Avenida Brasil”, a megera que o país ama odiar. Para Adriana Esteves, intérprete das duas, há, no entanto, nítidas diferenças entre elas. “Uma é racional; a outra, impulsiva”, diz. “E está todo mundo aqui dentro de mim”, completa a atriz de 48 anos, que faz análise há mais de 20.

“Faço para tentar me acarinhar. Me cobro demais”. A confissão ajuda a entender por que Adriana é a antítese das colegas que colecionam seguidores nas redes, palestras e presenças em eventos. É crítica demais para se exibir. Seu barato é mesmo atuar. “Antes, uma entrevista era um martírio para mim. Eu achava que tinha que ter boas respostas. Hoje, aprendi que só vão sair de mim as verdades”.
Verdades como as que transmite no olhar quando fala sobre a luta contra a depressão, a paixão pelo marido Vladimir Brichta, (pai de seu filho Vicente, de 11 anos), a saudade da irmã Cláudia, morta em 2002, e a alegria de viver Sônia, em Benzinho, longa de Gustavo Pizzi, que estreia esta semana nos cinemas.

Mais uma vilã, do mesmo autor, e, na Bahia, que você conhece tão bem. Isso facilita as coisas?

Não. O início do trabalho é complicado porque temos expectativas, e mergulhamos num buraco sem saber o que vai acontecer. Para mim, é difícil todos os dias, o que não quer dizer que seja ruim. Não lido com acomodação. Para mim, o jogo nunca está ganho.

Onde costuma buscar referências para as vilãs?
Penso como eu seria se fosse aquela pessoa. Carminha, Laureta, Fátima (da série Justiça)… está todo mundo aqui dentro de mim. Descobrir que eu podia fazer comédia levou um tempo, mas fui entendendo que eu também continha essa maluca. Sou várias malucas numa só (risos). Está em mim até o que eu odeio, o ser humano tem tudo. É preciso coragem para mexer nisso. Somos muito complexos.

Conseguiria exemplificar?

Não. São coisas que saem em forma de trabalho, não de maneira pensada. Não sou um ser racional. Procuro o tempo inteiro frear meu coração. O afeto é o que me move. Aprendi com o grande mestre Amir Haddad, que teatro se faz com os melhores sentimentos. Quanto pior a situação, o ódio entre personagens, mais amor tem de ser colocado ali.

Usa isso no dia a dia?
Falo muito disso com meus filhos (Além de Vicente, Adriana é mãe de Felipe, de 18, do casamento com o ator Marco Ricca). Seja na escola, com o pequeno, ou na faculdade, com o maior. Diante das dificuldades, digo para pensarem, deflacionarem um pouco, avaliarem onde podem ter compaixão, entender a outra pessoa. Essa é a saída.

“Benzinho” ainda não estreou no Brasil , mas ganhou prêmios na Europa. Você imaginava?
Tinha a certeza de que o que estava sendo feito era de uma belíssima qualidade. O filme é uma obra de arte. Os protagonistas são a Karine Teles e o Otávio Müller, e eu faço Sônia, irmã da protagonista. Acredito muito nessa história de amor entre irmãs.

É muito ligada na sua irmã, Márcia?
Eu (com os olhos marejados) tenho duas irmãs… Cláudia, a caçula, morreu em 2002, de infarto. Foi a perda mais difícil que já enfrentou? Na relação de carinho entre as personagens Sônia e Irene, tem uma coisa que adoro e com a qual me identifico, que são os sobrinhos. A Cláudia não teve filhos, mas a Márcia e eu temos isso, como no filme. Os filhos da minha irmã são meus, e os meus são dela. Não me sinto com três filhos, mas com cinco. E do tipo bem galinha com os pintinhos. E ainda pego os sobrinhos do Vladimir, as filhas do Marco Ricca, todo mundo.

Você se cobra muito?
Acho que sim. Faço análise há mais de 20 anos para tentar me acarinhar um pouco. Acho que tenho evoluído. Se eu fizesse algo para alguém, por menor que fosse, eu morria. Aprendi que um pedido de desculpas dá uma sanada nisso. Todo mundo erra. E se a pessoa não te perdoar, você se perdoando já alivia. Comecei a me tornar uma pessoa melhor, para quem está ao meu lado, quando percebi isso. Porque se eu me cobrar, não me perdoar, também não vou admitir que o outro erre. Tô dando uma relaxada, não é possível que a idade não ajude.

É o lado bom da passagem do tempo?
Temos que crescer, tem que ficar mais gostoso. Uma entrevista, para mim, era um martírio. Era um sofrimento porque eu achava que tinha que ter boas respostas. E o que são boas respostas? Fui acalmando e aprendendo que o que vai sair de mim são só as minhas verdades. Não tenho como criar respostas. Foi muito difícil aos 18, 19 anos, dar opiniões que eu não tinha sobre as coisas.

Em 1993, depois de ser criticada pela Mariana, de ‘Renascer’, você entrou em depressão. Hoje, como vê isso?
Depois que me curei da doença, quis encontrar desculpas. Eu tinha 23 anos. Falei sobre ser criticada num trabalho tão visto como uma novela das oito, a mudança de menina para mulher… Mas não tem explicação. Algumas pessoas são mais propensas à depressão, mas pode acontecer com todo mundo. O importante é lidar como doença. Tem que procurar médico e tratar. Mesmo que demore um pouquinho, a gente sai, e sai forte.

Como vai a fobia de avião?
Melhorei, mas não me curei. O Vlad foi comigo para Tóquio (em 2011, durante as gravações de Morde & Assopra) para eu conseguir voar. Agora estou mais madura. Ainda tomo calmantes, mas passei quatro meses na ponte aérea com “Assédio”, uma série que ainda vai ao ar e o longa “Marighela”, sem tomar nada. Uma vitória!

Uma vez, você declarou que sofreu assédio. O que houve?
Não conheço uma mulher que não tenha sofrido algum tipo de assédio. Desde coisas mais traumáticas, na infância, até a adolescência e a fase adulta. O que aconteceu comigo é detalhe para curioso, voyeur. Estou falando de assédio, não de estupro. O assédio pode ser moral. Tem vários tipos e acontece o tempo todo.

Quando você e Brichta se conheceram, ele tinha perdido a ex-mulher, e você, a irmã. O sofrimento aproxima?
A gente se apaixona pelo pacote. Ver como ele lidou com situações difíceis, de um jeito maduro, mesmo sendo novo, me faz admirá-lo mais. Mas o que senti foi amor mesmo. E até hoje é paixão. Sou completamente apaixonada por ele. Com uma relação de muitos anos, diminui o frisson, o desespero, mas aumenta a convicção, a certeza de terreno seguro. Adoro entrar na casa e saber que ele vai me dar colo.

Costumam levar os personagens para casa?
Eles ficam no estúdio, mas o trabalho a gente leva pra casa. Falamos sobre o tema. Somos apaixonados por essa novela.

Quando você grava demais, como em “Avenida Brasil”, o Vladimir assume as tarefas?
Eu chegava em casa, o mercado estava feito e aquele homem, lindo, diga-se de passagem, me esperando na porta com uma garrafa de vinho. Ali acabava “Avenida Brasil”. Não tem como não ficar encantada. A gente divide tudo: cuidados com os filhos, casa… E tem a regra: quando um está trabalhando mais, o outro assume o comando. Quando ele estava em “Rock Story”, eu o esperava com tudo pronto.

É uma mãe controladora?
Melhorei. Quando o Felipe começou a namorar, todo mundo achou que eu ia ficar com ciúme, mas conheci a Flavinha, e me apaixonei.

 

Fonte: https://blogs.oglobo.globo.com/marina-caruso/post/adriana-esteves-sou-varias-malucas-numa-so.html

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