Em Justiça, nova trama das 23 horas, a personagem de Adriana Esteves busca a felicidade após uma tragédia. Na vida real, a atriz se orgulha de já ter encontrado a chave da satisfação.
Na adolescência, Adriana Esteves ganhou o apelido carinhoso de Trovoada. Tudo por causa do temperamento agitado que mantém até hoje. A diferença é que, agora, ela sabe usar a inquietação em prol da própria felicidade. “Sou a favor de cavar a vida. Nós temos que buscar nossa evolução”, defende ela, depois de muita psicanálise. Fátima, sua personagem de Justiça, nova trama das 23 horas da Globo, carrega esse mesmo espírito. Na minissérie, que estreia dia 22, Adriana, 46, vive uma empregada doméstica que vai presa depois que o vizinho esconde drogas em seu quintal. No tempo em que passa na cadeia, precisa lutar para sobreviver e se manter focada em seus objetivos. O drama faz com que ela perca o marido (interpretado por Ângelo Antônio), seu grande amor, e a afasta dos filhos por sete anos. “Mas a personagem não se deixa abater facilmente. Mesmo com toda dor, arruma forças para seguir adiante”, conta Adriana.
Quem vê a confiança da atriz na tela não imagina quão sofrido é seu processo de preparo para cada papel. Na época da vilã Carminha, em Avenida Brasil, chegou a questionar o autor da novela, João Emanuel Carneiro, se era ela mesmo a pessoa certa para o personagem. “Ela entrou para fazer o teste e, em cinco minutos, todo mundo sabia que a personagem era da Adriana. Menos ela. Foi a única que duvidou”, lembra a diretora Amora Mautner. O sucesso estrondoso foi fortalecendo a autoconfiança da atriz, que encontrou fãs entusiasmados no Chile, na Costa Rica e na França. “Sempre fico com medo quando chega um convite. Mas aí me cerco de conhecimento: vou estudar, ler, pesquisar. Aos poucos, ganho coragem e me jogo de vez”, afirma.
CONTROLE TOTAL
No divã desde os 19 anos, Adriana acredita ter mudado bastante sua personalidade e, principalmente, conseguido suavizar seu lado controlador. O que não quer dizer que os três filhos, Vicente, 9 anos, Felipe, 16 (do casamento com o ator Marco Rica), e Agnes, 18 (filha do marido, Vladimir Brichta, de uma relação anterior), saiam do radar da mãe. “Tenho paixão por assumir o papel de matriarca, tomar conta do que me compete. Sinto-me responsável”, diz ela, antes de admitir que o hábito é quase uma obsessão. Mesmo quando está atolada de trabalho, faz questão de ligar para o trio e perguntar como foi o dia na escola, se já almoçaram ou fizeram a lição de casa. Os pais da atriz, a professora aposentada Regina e o pediatra Paulo, também não escapam do monitoramento. Esse instinto maternal se manifestou cedo, lembra Regina: “Adriana tinha 7 anos quando viu uma cadela amamentando os filhotes. Aquilo a impressionou de tal maneira que ela comentou que queria ter vários filhos”.
“TENHO PAIXÃO POR ASSUMIR O PAPEL DE MATRIARCA, TOMAR CONTA DO QUE ME COMPETE”
O sonho se realizou e, hoje, ao lado de Brichta, 40 anos, comanda uma casa feliz. Há 12 anos juntos, ela garante que o clima ainda é de lua de mel. “Ele é meu eterno namorado”, derrete-se. “O que me encanta em Adriana, entre outras coisas, é a forma como ela conduz tudo a seu redor. É pelo afeto que ela se relaciona, trabalha, educa, namora, cobra”, elogia Brichta. Os dois se conheceram durante a produção da novela Coração de Estudante, em 2002, mas só engataram o namoro dois anos depois. Primeiro, tornaram-se amigos. Na época, Adriana sofria com a morte precoce da irmã caçula, Claudia, de infarto. Vladimir, que havia perdido a mulher e mãe de sua filha alguns anos antes devido a uma doença rara, ofereceu conforto e solidariedade à colega de elenco. Hoje, o casal é visto pelos amigos como um exemplo. Adriana gosta de preparar surpresas e organizar encontros românticos sem motivo. Para Brichta, o segredo está na maturidade: “Quando nos encontramos, sabíamos que o amor não era só uma questão de hormônio, mas um estado que pode nos instigar e contaminar por completo”. Mesmo depois de tanto tempo casados, eles ainda não se sentem confortáveis assistindo às cenas de beijo um do outro. “O antídoto do ciúme é o amor. Não reclamamos porque sabemos que esse é o nosso trabalho. Ficou incomodado? Marca um restaurante legal e faz a noite ser bem melhor do que a ficção”, sugere ela.
A paixão por decoração e o gosto por uma boa reforma também os mantêm em sintonia. Depois de refazer todo o apartamento onde vivem, em São Conrado, Zona Sul do Rio de Janeiro, estão às voltas com retoques na casa de veraneio em Mangaratiba, município próximo a Angra dos Reis, na região da Costa Verde fluminense. “Adoro brincar de arquiteta e decoradora. E o Vlad embarca nessa viagem. Sonhávamos em ter uma casa e ela está do jeito que queríamos. Tem jardim, uma mangueira linda e, claro, uma rede. Afinal, sou casada com nordestino, né?”, brinca.
“TODO MUNDO TEM PROBLEMAS, MAS EU FOCO NA SOLUÇÃO E SOU FELIZ ASSIM”
VOLTA POR CIMA
No trabalho, tudo começou como uma brincadeira. Uma proposta despretensiosa acabou colocando Adriana Esteves ainda menina na carreira de modelo – aos 14 anos, já havia feito diversas campanhas publicitárias. Com o dinheiro dos cachês, comprou um carro. Virou apresentadora de um programa no canal Bandeirantes e fez algumas pontas em novela antes de participar do quadro Estrela por um Dia, no Domingão do Faustão. Saiu dali com um papel na trama Top Model, de 1989. Quatro anos mais tarde, depois de receber muitas críticas negativas sobre sua atuação em Renascer, entrou em depressão. “Foram os anos mais difíceis da minha vida”, diz. Mas não o suficiente para afastá-la da profissão ou da vontade de buscar satisfação pessoal. Hoje, realizada no casamento, orgulhosa dos filhos e com uma carreira de sucesso, faz o balanço: “No saldo, há mais pontos positivos do que negativos. Todo mundo tem problemas, mas eu foco na solução e sou feliz assim”.