“Assédio” estreia nesta sexta-feira com trama inspirada em
Roger Abdelmassih
Sororidade é uma palavra que define bem o tema da série Assédio. Em 2010, o médico Roger Abdelmassih foi condenado a 278 anos de prisão (posteriormente, reduzidos para 181 anos) após a confirmação de 52 estupros realizados por ele em sua clínica de inseminação artificial, em São Paulo. O caso alcançou grande repercussão e foi contado no livro A Clínica: As Farsas e os Crimes de Roger Abdelmassih, de Vicente Vilardaga, inspiração para a adaptação em 10 episódios semanais que estreia nesta sexta-feira, às 23h10min, em 2018, Assédio foi disponibilizada na plataforma Globoplay.
Durante quase duas décadas, o hoje ex-médico ajudou a trazer ao mundo mais de 8 mil bebês por meio da inseminação artificial, processo que culminou também no abuso sexual de dezenas de suas pacientes. Na ficção, o nome do profissional criminoso é Roger Sadala (vivido por Antonio Calloni). Em cada capítulo é contada a história de uma vítima: Stela (Adriana Esteves), Eugenia (Paula Possani), Maria José (Hermila Guedes), Vera (Fernanda D’umbra) e Daiane (Jéssica Ellen) são algumas delas.
Em Assédio, esses ataques são denunciados por meio da jornalista Mira (interpretada pela gaúcha Elisa Volpatto), que convence as vítimas a denunciarem Sadala ao Ministério Público. Por isso, a união e a coragem dessas mulheres é o ponto chave da série, sobretudo na luta por fazer justiça:
— Havia o depoimento de mais de 50 mulheres falando exatamente a mesma coisa. Isso não é importante? Fico toda arrepiada. A palavra era a única coisa que elas tinham e precisava ser validada. A palavra de uma mulher precisa ser validada na nossa sociedade — diz Elisa, que se preparou para o papel assistindo a produções que envolvem jornalismo investigativo, como os filmes Spotlight – Segredos Revelados e Todos os Homens do Presidente.
Suspense psicológico como foco principal
Para dar intensidade ao texto e à complexidade do tema, Amora Mautner, diretora artística de Assédio, conta que uma das preocupações foi não destacar no trabalho a questão sexual, porque se trata, em sua essência, de um suspense psicológico.
— Aquelas mulheres estão morrendo ali. E fiquei com essa questão da morte na cabeça. Para fazer essa atmosfera, a gente pensou em necrotério, fomos nessa cor do verde, minimalismo nos objetos. Era tudo mais asséptico. Tentamos pulsar a morte de todas as formas — revela Amora, que trabalha na direção da próxima novela das nove da Globo.
Vítimas vitoriosas
A atriz Elisa Volpatto destaca o quanto sua personagem em Assédio, a jornalista Mira, representa a luta das mulheres na sociedade:
— Ela acreditou na palavra dessas mulheres e como foi importante que alguém acreditasse para ajudá-las a ter força para lutar. As vítimas geralmente ficam muito fragilizadas, têm muita vergonha do que aconteceu e muita dificuldade de falar sobre o assunto.
O primeiro caso retratado em Assédio é o de Stela, vivida por Adriana Esteves, atriz que foi um exemplo de como ser sensível e deixar a cena viva, segundo Elisa:
— A Adriana é, sobretudo, um ser humano maravilhoso. É muito lindo poder observar como ela trabalha, como se atém ao texto, ao sentido das coisas. A dedicação dela é comovente. Sabe o que faz, se entrega, propõe, faz escolhas. É uma artista de verdade.
Muitas cenas retratadas na série comoveram a diretora Amora Mautner:
— Eu chorava depois de prontas, quando assistia. Eu não gravei nenhuma cena de estupro como se elas fossem só vítimas. Sempre lembrava que elas seriam vitoriosas no fim.