Lançada em setembro no Globoplay, a minissérie Assédio chega à Globo nesta sexta (3) com uma missão indigesta: fazer o grande público assistir a uma história pesada, sobre um médico que abusava sexualmente de suas pacientes. Apesar de mostrar cenas intensas de nudez e estupro, a atração vai ao ar sem cortes na TV aberta.
A decisão pegou de surpresa até mesmo executivos do Grupo Globo. João Mesquita, diretor-geral do Globoplay, alegou na quinta passada (25), durante apresentação de sua plataforma no Rio2C, maior evento de audiovisual do Brasil, que o streaming era uma saída para exibir programas mais densos, que não poderiam ir ao ar na Globo.
“Às vezes, os nossos produtos vão ter versões diferentes. No Globoplay, pode ter mais violência, mais sexo, porque não precisa respeitar nenhuma limitação de horário. Depois, quando for passar na TV aberta, muda tudo. Assédio é um bom exemplo, vai ao ar completamente reeditada, porque não pode passar uma série de cenas que estavam disponíveis no Globoplay”, apostou ele.
Horas antes da fala de Mesquita, a diretora de Assédio, Amora Mautner, afirmou desconhecer qualquer intervenção na série para sua exibição na Globo. Questionada se precisou fazer qualquer corte, ela foi curta e grossa. “Por enquanto, não. Até agora, não me pediram nada”, declarou Amora, atualmente envolvida na próxima novela das nove, A Dona do Pedaço.
Procurada pelo Notícias da TV, a Globo ficou do lado da diretora. Afirmou que a série vai ao ar na íntegra, “do jeitinho que foi exibida no Globoplay”. Vai se aproveitar do horário de exibição tardio: sua estreia está prevista para 23h10, depois do Globo Repórter. Verdades Secretas (2015), na mesma faixa, também mostrou corpos nus e cenas de sexo intenso –mas nunca tão desconfortáveis quanto os abusos de Assédio.
“Se as cenas incomodam, é porque precisam incomodar. Têm que causar uma dor mesmo. Mas não uma dor para importunar ninguém, acho que é mais uma coisa de se colocar no lugar do outro, que é o que a dramaturgia faz de melhor quando funciona”, opinou Maria Camargo, autora da minissérie.
Amora defendeu que o público ficará preso na frente da TV por causa da trama, baseada na história do médico Roger Abdelmassih, condenado por 56 condutas de abuso de suas pacientes mulheres. E também pelo alto nível das atuações, que tem Antonio Calloni na pele do estuprador e um grande elenco feminino.
“Eu acho que é uma história que no mínimo curiosidade gera. E eu tenho esperanças de quem quer for ver a história, caso se preste a acompanhar, vai gostar. Porque já no primeiro capítulo tem a Adriana Esteves ‘recebendo um santo’. A pessoa vê isso e não larga mais. Viu a Adriana, já era. E o texto é muito bom, a história é muito boa, todo mundo fez um trabalho legal, espero que vocês gostem”, especulou.