Quando a Globo anunciou que Avenida Brasil seria a próxima novela reprisada no Vale a Pena Ver de Novo, as redes sociais foram tomadas por comentários de telespectadores que curtiram a notícia, saudosistas. Até hoje, o folhetim causa comoção nacional, e até quem não é telespectador assíduo de novelas se lembra do fenômeno que foi durante sua exibição original, em 2012. Afinal, por que Avenida Brasil fez (e faz) tanto sucesso?
Para Mauro Alencar, doutor em Teledramaturgia Brasileira e Latino-Americana pela USP (Universidade de São Paulo) e membro do Emmy Internacional, Avenida Brasil tem uma característica mística. Os personagens da trama viraram praticamente mitos urbanos, representando a ascensão da classe C, algo muito marcante no momento econômico do Brasil naquela época.
A maior parte da novela era ambientada no (mítico) bairro do Divino, no subúrbio carioca. Em vez de criar uma trama na Zona Sul, área mais nobre do Rio de Janeiro, e provocar inspiração ou repulsa das pessoas, o fato de contar a história no subúrbio trouxe proximidade, intimidade e identificação com os telespectadores.
“Essa concepção positivista dos moradores do subúrbio, não tenho dúvidas, criou o que chamamos de cânone e tornou a novela Avenida Brasil um dos grandes referenciais para a teledramaturgia mundial. Tudo, absolutamente tudo, configurou-se como um legítimo retrato do novo momento social do Brasil”, afirma Mauro.
Além disso, o folhetim inovou e misturou elementos clássicos de novela, de cinema e de séries. Os “congelamentos” no final de cada capítulo, por exemplo, deixavam ganchos instigantes para os telespectadores, assim como os chamados cliffhangers das séries norte-americanas.
“Avenida Brasil, sem dúvida alguma, foi um marco absoluto de novos olhares sobre o gênero; tanto em sua narrativa, construção de personagem, quanto na concepção estética. É um folhetim clássico que flerta com outros gêneros, como o seriado e o cinema, de forma que apresenta em cada capítulo um texto rico em nuances e facetas a se explorar”, diz Alencar.
O especialista também destaca uma característica que os telespectadores perceberam bem: os personagens eram fortes e muito carismáticos, resultado de boas atuações, direção, texto e trabalho da equipe técnica.
Toda a família de Tufão (Murilo Benício) era uma atração. A torcida para Nina (Débora Falabella) destruir e humilhar Carminha (Adriana Esteves) também era enorme, e a própria vilã chamava muita atenção com suas maldades e suas frases de efeito.
O doutor em teledramaturgia não arrisca dizer que Avenida Brasil foi a melhor novela desta década –destaca outros títulos entre as melhores, como Cheias de Charme (2012), Cordel Encantado (2011), A Força do Querer (2017) e O Outro Lado do Paraíso (2017).
Mas as histórias do Divino, da vingança de Nina, do lixão e de Cadinho (Alexandre Borges) e suas três famílias têm grande potencial para levantar a audiência do Vale a Pena Ver de Novo em sua primeira reexibição (em 2012, a novela foi a atração mais vista da TV aberta).
“Avenida Brasil, para além de suas qualidades artísticas, mantém-se não apenas atual, como poderá trazer interessantes contrastes com o conturbado tempo em que vivemos. Essa é a maior razão de toda obra de arte: impulsionar o desenvolvimento artístico e social e ser alimentada por ambos”, destaca Alencar.
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