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Bingo: O Rei das Manhãs é filme nacional pra se orgulhar

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LOS ANGELES – Um grupo eclético formado por amigos e profissionais de cinema ocupava a casa de um dos diretores de fotografia mais PROEMINENTES da TV norte-americana no momento. Mas curiosamente ele não era o centro das atenções. Afinal, o cara estava em Toronto terminando de filmar a primeira temporada de American Gods. O mestre de cerimônias do encontro, que caminhava entre os presentes misturando empolgação e apreensão, era Daniel Rezende, diretor de Bingo: O Rei das Manhãs.

Tava todo mundo lá pra prestigiar a primeira exibição do filme em Los Angeles, para o primeiro grupo fora do círculo de confiança imediata do Rezende. O jeito meio tenso do cineasta não era aquele típico de novato, até porque o currículo do sujeito como editor é de fazer inveja – Cidade de DeusA Árvore da VidaTropa de EliteDiários de Motocicleta e por aí vai. No entanto, parecia vir mais de algo similar àquela coisa de deixar o filho mais novo dar os primeiros passos longe da proteção do pai.

Só que também rolava uma razão oculta, conhecida por muita gente de mercado: Vladimir Brichta, o ator principal, ainda não tinha conseguido emplacar um grande sucesso na telona. Quando o filme começasse, não haveria mais volta. Ele seria julgado e, bem, as primeiras impressões são as que ficam.

Por conta da mistura de brasileiros, norte-americanos, ingleses, australianos e até indianos, a experiência de ver Bingo: O Rei das Manhãs por aqui foi diferente. Uma coisa é ter vivido a época, as polêmicas e as encarnações do Bozo, em São Paulo, onde o longa se passa. Isso com certeza dá outro peso à temática e à importância do personagem. Porém, quando pessoas de várias partes do mundo reagem de um modo bem parecido ao do nativo (local e culturalmente), fica mais fácil identificar que ali tem coisa MUITO boa.

Talvez por conta da escolha acertadíssima da trilha sonora capaz de conversar com qualquer público, talvez pela jornada impressionante do personagem principal, a experiência tenha sido tão única e cheia de descobertas também pra eles. Afinal, vamos lá, o Bozo foi um fenômeno muito maior que a programação do SBT permitia.

Sempre tive uma relação curiosa com o palhaço, pois fui ao programa certa vez, quando era criança. Joguei Batalha Naval (perdi – duh!) e ganhei um kit da Cola Tenaz; vi a Vovó Mafalda se trocando no camarim, que ficava bem atrás da plateia, e descobri que “ela” era “ele”; sofri por algumas horas debaixo das luzes quentes de palco à base de sanduíche de presunto com queijo e guaraná sem gelo. Além disso, consegui telefonar para o programa uma vez, na tal da Corrida dos Cavalinhos (o malhado SEMPRE ganhava!), mas meu primo ficou com ciúmes e desligou na cara do Bozo. E, pra concluir, por um período, ainda tive a chance de conviver com o Luiz Ricardo, um de seus intérpretes.

Logo, quando recebi o convite para essa exibição privada do filme, fiquei morrendo de medo. Poderia ser trágico, como tantas outras tentativas de comédias produzidas no Brasil. Mas as credenciais de Daniel Rezende impressionavam. E não, elas não decepcionaram.

Bingo: O Rei das Manhãs apresenta uma versão fictícia (e, em muitos pontos, até branda) da vida de Arlindo Barreto, o primeiro Bozo (claro que o nome Bingo foi utilizado por questões legais), e trata-se de um drama bastante acessível. Afinal, como não se importar com o pai esforçado, que ganha a vida em filmes pornôs por não conseguir trabalho mais “decente” como ator e que se reinventa, de supetão, para dar a volta por cima, criar um programa de sucesso e, de quebra, dar uma banana para a Globo?

A escolha de Vladimir Brichta foi fundamental nesse aspecto. A recusa de Wagner Moura (que virou brincadeira na produção e até ajudou na promoção do filme) foi o melhor presente ao longa de Rezende, pois Brichta é simplesmente fantástico. Descontraído, sorridente e intenso, ele carrega todos os aspectos da vida de Barreto com naturalidade impressionante.

A trama é construída sobre três bases: reconhecimento profissional, dificuldades da paternidade e drogas. Muitas delas. Barreto perdeu o controle, bebeu, cheirou e comeu tudo que pode, até chegar a uma tentativa de suicídio. Nesse aspecto, o filme alivia a barra e se mantém focado nos sintomas, não nos efeitos. Por certo lado, faz sentido, pois atenua o desfecho sem aliviar no sofrimento envolvido. É uma verdadeira história de ascensão, queda e redescoberta para honrar o personagem que, conforme batizado pela revista Trip, foi o “herói trash de uma geração”.

A edição é forte, a direção de Rezende é eficaz e a enormidade de efeitos especiais invisíveis completa o principal trio da qualidade técnica. Quase tudo se encaixa muito bem: a presença de Leandra Leal no elenco engrandeceu a narrativa e o elenco coadjuvante segura a bucha, com destaque especial para Fernando Sampaio como o cinegrafista Nando, o amigo de baladas e representante da plateia no elenco. Quando Nando ri, todo mundo ri.

Fonte: http://judao.com.br/bingo-o-rei-das-manhas-e-filme-nacional-pra-se-orgulhar/

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