Exibido em primeira mão na Comic Con Experience, o trailer de Bingo – O Rei das Manhãs surpreendeu pelo assumido tom pop e sarcástico ao contar a história de Arlindo Barreto, o Bozo dos anos 1980, que mergulhou fundo nas drogas por não conseguir lidar com a fama e a constante guerra pela audiência. Se você ainda não o viu, dê uma olhada abaixo e perceba porque este é, desde já, um dos filmes nacionais mais aguardados de 2017.
Para saber mais sobre o projeto, o Adoro Cinema, conversou com o diretor Daniel Rezende. Veterano montador de filmes como Cidade de Deus (que lhe rendeu uma indicação ao Oscar), Tropa de Elite, A Árvore da Vida e Robocop, Daniel tem sua primeira experiência na direção justamente com Bingo e explicou como foi esta mudança de funções.
“Se não em todos, na maioria dos filmes que fiz como montador eu aprendi muito com os diretores com quem trabalhei. Então acho que foi um passo de querer contar as próprias histórias e com uma visão minha, de alguma forma. Eu só deixei de ser um coautor do filme para começar a ser o capitão da equipe de alguns projetos”, simplifica.
“Eu não sou o tipo de diretor que quer fazer filme para fazer dinheiro, eu quero é contar determinadas histórias.”
Confira abaixo os principais destaques do bate-papo com Daniel Rezende sobre Bingo – O Rei das Manhãs- e não deixe de conferir o que ele pretende para seu projeto seguinte, Turma da Mônica – Laços.
Como Bozo se tornou Bingo?
Por mais que a história real traga Arlindo Barreto na pele do Bozo, no filme o personagem principal se chama Augusto e ele se traveste como Bingo. Por que a mudança?
“Desde o início, não queria abrir mão da minha liberdade criativa. Então a gente resolveu ficcionalizar tudo para poder ter liberdade criativa e não se ater a nomes, a marcas e a qualquer tipo de coisa que pudesse nos prender de qualquer forma. A gente queria fazer a história que a gente queria contar, então isso foi um princípio desde o início”, explica o diretor.
Apesar da decisão, Daniel sentiu que o longa-metragem necessitava de alguma referência histórica.
“Eu queria que tivesse alguma coisa que nos baseasse na realidade, e fiz muita questão que a gente conseguisse ter o nome Gretchen. Então a gente tinha a Gretchen no filme, que a Emanuelle Araújo faz, e ela está maravilhosa. Ela personificou a Gretchen, traz uma coisa pop e um pé na realidade dentro de uma história que está completamente ficcionalizada.”
Emmanuelle Araújo e Vladimir Brichta, em “Bingo – O Rei das Manhãs”.
Um dos pontos principais de Bingo é o contraste entre a imagem do ídolo infantil, amigo da criançada, com o envolvimento do homem por trás da maquiagem com as drogas. ”
O que mais me atraiu nesse projeto era exatamente olhar para o contraplano daquilo que a gente não via. Dessa história a gente fez um filme de ficção, mas ela é completamente inspirada em uma história verídica, que realmente aconteceu”, explica o diretor.
“Achava muito interessante esses contrastes. Você ter o cara que era o símbolo da alegria, da infância e da ingenuidade de certa forma e, ao mesmo tempo, por trás você tem um cara conturbado, tem conflitos, questões, desejos”,comenta.
“Por isso é um filme que você ri e chora, se diverte e se emociona. É um filme completamente alegre e ao mesmo tempo denso.”
De Wagner Moura a Vladimir Brichta
Inicialmente, seria Wagner Moura o intérprete de Augusto/Bingo, mas a concorrida agenda do ator o impediu de participar das filmagens. Foi o próprio Wagner quem sugeriu a escalação de Vladimir Brichta, seu conterrâneo.
“Originalmente, esse filme foi pensado com o Wagner Moura. Eu já tinha trabalhado com ele num curta [ Blackout , de 2008], e a gente já tinha falado sobre esse filme. Ele não pode fazer, por questões de agenda, e ele me disse que, se tem um ator que vai fazer desse filme maravilhoso, é o Vladimir Brichta. Eu já conhecia o trabalho dele, mas não o conhecia pessoalmente. Ele [Wagner] me deu o telefone, eu liguei para o Vladimir e a gente se encontrou. Mandei o roteiro e, quando ele sentou na minha frente, falou: ‘Cara, esse é o filme que eu esperei chegar na minha vida para fazer. Eu quero e vou fazer esse filme!’, explicou.
Daniel aproveitou a oportunidade para se derramar em elogios ao trabalho feito por Vladimir.
“Poucas vezes trabalhei com um ator que comprou um projeto e se entregou de tal forma, tão visceralmente e vorazmente, tão profissionalmente e com tanta vontade e alegria como foi com o Vladimir. É um personagem tão difícil, tão cheio de camadas e profundidade, e ele fez com tanta maestria, que eu acho que seguramente vai ser um papel muito importante na carreira dele.”
Vladimir Brichta caracterizado como Bingo – Roupagem pop brega
Os anos 1980 tinham um visual bem particular, que andava lado a lado com o kitsch e o brega. Daniel explicou como transpôs este estilo em Bingo
“Há uma roupagem muito pop, porque no recorte dos anos 1980 você tem cor, exagero, politicamente incorreto, um pé no brega e um pé no pop. Então tudo isso, de certa forma, eu quis colocar no filme. E aí o sarcasmo e a ironia estão muito próximos dos contrastes, porque geralmente você é sarcástico ou irônico quando fala algo e quer dizer o oposto, então tinha muito a ver com a linguagem desse filme.”
Último filme de Domingos Montagner
Dentre os vários fatos tristes de 2016, um dos mais marcantes foi o falecimento do ator Domingos Montagner. Será seu último filme, onde teve uma participação que foi além do exibido nas telonas.
“A gente fez um processo de preparação dele como palhaço, que foi feito, inclusive, pela companhia La Mínima, que está no filme e é do Fernando Sampaio e do nosso já saudoso Domingos Montagner. O Fernando e o Domingos estão no filme como palhaços, eles têm uma participação e também prepararam o Vladimir como palhaço.”
Fonte: https://cinema.terra.com.br/adorocinema/bingo-o-rei-das-manhas-e-um-filme-que-voce-ri-e-chora-se-diverte-e-se-emociona-exclusivo,3b9b7e529d094f4b8c7880efc143685frdbvimew.html