Filme Medida Provisória
Aconteceu em São Paulo, dia 28/03, a coletiva de imprensa e pré estreia, respectivamente, no Hotel Renaissance e Shopping Iguatemi do filme ‘Medida Provisória’.
O filme é uma adaptação da obra teatral ‘Namíbia, não!’, de autoria de Aldri Anunciação entre 2009 e 2011. Na sinopse: em 2016, o Governo brasileiro decreta uma Medida Provisória obrigando que todos os de ‘melanina acentuada’ sejam capturados e enviados imediatamente à África, provocando, em pleno século XXI, o revés da diáspora vivida pelo povo africano do Brasil escravocrata. A medida é uma ação de reparação social aos danos causados pela União. Mas, para não incorrer no crime de “Invasão a Domicílio”, eles só podem ser capturados na rua. Assim, André e Antônio passam o dia trancados no apartamento, debatendo as questões sociais e econômicas da vida atual, seus anseios pessoais e as consequências de um iminente retorno à África-mãe.
‘Medida Provisória’ tem direção de Lázaro Ramos, participam do roteiro Aldri Assunção, Elísio Lopes, Lázaro Ramos e Lusa Silvestre. É uma produção e coprodução de Lereby, Lata Filmes e Melanina Acentuada Produções e protagonizado pelo ator Alfred Enoch, Taís Araújo, Adriana Esteves, Mariana Xavier, Renata Sorrah e grande elenco.
O longa é distópico, ou seja, uma sociedade imaginária controlada pelo Estado fundamentalista ou por outros meios de opressão que promovem condições de vida insuportáveis e insalubres para os indivíduos.
Apesar da distopia, infelizmente, é semelhante a muitas condições que temos vivido nesses tempos sombrios da política. Será que esse Brasil distópico não está próximo do nosso futuro próximo?
Antonio (Alfred Enoch) é um advogado atuante nas lutas por mudanças na legislação, ele é casado com Capitu (Taís Araújo) médica, e eles moram junto com o primo Andre (Seu Jorge) jornalista. O plot twist é quando o governo brasileiro adota a medida provisória que: todos que tem melanina acentuada (negros) devem ser capturados e enviados para a África, com o objetivo de serem “devolvidos” para o local de seus ancestrais. A inspetora Isabel (Adriana Esteves) é a responsável pela área onde vivem Antonio, Capitu e Andre e não medirá esforços para ter êxito em seu trabalho.
O filme prende a atenção do começo ao fim, trazendo questões importantes para a reflexão. Tem vários easter eggs (detalhes referenciando outras obras).
‘Medida Provisória’ tem grandes méritos nos critérios mais ‘técnicos’: direção, fotografia, design de som, direção de arte, estética, plano sequência, planos e contra planos e pós produção. Mas, gostaria de ressaltar aqui a representatividade (extremamente importante) de pessoas negras seja na produção ou elenco.
Eu sei que não é o meu lugar de fala, eu não tenho legitimidade para falar sobre o assunto. Mas é urgente combater e unir esforços na luta antirracista, destruindo o racismo estrutural, exclusão social e a discriminação racial.
“Numa sociedade racista não basta não ser racista, é preciso ser antirracista”. Angela Davis
Foto: Taciana Vitti
O filme aborda o que existe no cotidiano de pessoas negras periféricas. Nas regiões mais ricas das grandes cidades as pessoas negras ou de melanina acentuada podem circular em horário de trabalho ou quando estão em serviços precários. Caso resolvam passear em shoppings, praças, parques das regiões ricas são vigiados e abordados. Não por acaso o Parque Ibirapuera foi privatizado, era o lugar de maior acesso das pessoas aos finais de semana.
Acredito que a distopia é o desejo dos racistas brasileiros, e neste caso o desejo não é restrito às elites. A ascensão dos poucos negros à universidade, negócios, cargos de especialistas, ocupações até então ocupadas majoritariamente por brancos, desencadeou ações similares ao “volta pra África” quais sejam: encarceramento em massa, fuzilamento de família negra pelo exército, jovens negros assassinados porque estão em carros zero, pessoas negras presas por reconhecimento fácil digital, é equívoco, mas até provar lá se foram meses…
Enfim, a Medida provisória é o cotidiano da população negra. Quanto mais periférica, mais restrita é a área de acesso à cidade e maiores são os riscos de violência a depender dos recursos que conseguiu adquirir.
Precisamos de mais, muitos mais pessoas antirracista!