Segundo Sol chega ao fim, mas deixa Adriana Esteves, Deborah Secco e Letícia Colin como personagens memoráveis.
A última semana de Segundo Sol tem sido uma mera confirmação do que já era fato previsto. A consagração de Adriana Esteves e Deborah Secco se faz valer a cada cena. Adriana já foi consagrada por Carminha e, cabe ressaltar, não seria diferente com Laureta. A vilã, com sua alma diluída pelo sofrimento, é um dos pontos fortes da trama. O que, de fato, se torna um prato cheio para a atriz que pode saborear um texto pensado para ser o melhor.
O carisma da vilã é inegável. Desde o primeiro capítulo, Laureta conquista o público com suas frases de impacto, seu humor e suas tiradas certeiras. Um texto que, saindo da boca de Adriana, se torna um deleite.
Adriana Esteves: Repleta de amor e dor.
Laureta Bottini, vale dizer, é das grandes. O final de sua personagem revela sua outra nuance. Ela não consegue se abrir e demonstrar o que sente, porque uma sucessão de acontecimentos em sua trajetória – incluindo estupro e pedofilia – faz com que o que há dentro dela se dilacere. Não é maldade. Ela é uma mulher que destrói tudo a seu redor, porque o que há dentro dela é cinzas e dor.
Mais uma vez, elogiar a performance de sua intérprete é inevitável. Inclusive, muito se falou da composição que Adriana deu a sua personagem. Laureta é dona de uma postura firme. Possui um olhar convicto. Profere uma fala sutil. Caminha sob um andar soberbo. A lista só cresce quando pensamos na reta final da trama, onde, para Laureta, era tudo ou nada. A mulher se reconstruiu e Adriana fez isso com maestria.
Deborah Secco: A personagem da sua vida.
Não seria justo, no entanto, não creditar o talento de Deborah Secco. A atriz, que há muito tempo é subjugada pela televisão, enquanto esbanja talento no cinema, tem em sua Karola o seu momento de glória. Deborah, assim como Adriana e Renata Sorrah, é visceral e apaixonada pelo que faz. Isso se transparece em sua personagem e em suas nuances.
Karola é uma mulher carente, apaixonada e perdida. Seu imenso desejo de ter uma família se traduz na forma com que ela ama de um jeito torto, doentio e exagerado ao seu ruruzinho. Mais do que isso, justifica a aproximação dependente que ela teve, desde o início, com Laureta.
Deborah compôs uma Karola desengonçada, engraçada e tão leve que era fácil para a atriz colocar no texto seus cacos muito bem articulados. “Ruruzinho de mãe”, neste ponto, é um exemplo claro. Deborah pensou em referências pessoais e deu vida a uma personagem complexa. Ela se mostrou imensamente apaixonada pelo trabalho e pela possibilidade de compor uma vilã. No entanto, Karola se tornou mais do que uma vilã. Posso descrevê-la, facilmente, como uma anti-heroína mal amada e com tantas camadas que em uma cena só era possível amar e odiar Karola na mesma intensidade.
O embate do ano: Karola e Laureta
A fusão do trabalho de duas atrizes tão entregues não poderia gerar outro resultado, senão cenas memoráveis. Embates onde ambas sangram e choram em nome de suas personagens. A revelação de que Karola é filha de Laureta deu espaço para que as duas protagonizassem o momento mais emocionante da novela. A dor de Karola ao descobrir sempre ter estado ao lado da mãe que sempre sonhou é palpável. O amor que Laureta sente pela filha é inegável.
A química entre as duas em cena foi tão grande, que se ficassem caladas se olhando sem proferir uma palavra sequer, tudo seria dito. O olhar de Karola se traduz na dualidade da raiva e da realização por saber que finalmente teria uma família. Já o de Laureta, tenta desviar diversas vezes para evitar uma abertura do que sente, mas a missão falha e ela, finalmente, chora. Um choro sofrido, doloroso e aliviado por estar finalmente diante de Karola como filha.
Justiça seja feita, o tom dado às personagens pelas atrizes foi perfeito e sobrepôs diversas falhas do enredo de Segundo Sol, que muito pecou, principalmente no que diz respeito a diversas irresponsabilidades com temas sociais abordados de maneira torta na novela.
Fechando a santíssima trindade: Letícia Colin.
Podemos ressaltar, também, que a chave que tranca a santíssima trindade da novela é Letícia Colin. A menina chegou grande, se segurando com uma fortíssima presença em cena. Trouxe um repertório brilhante nos embates com Karola e Laureta e fez valer o título de Letícia como uma das melhores da sua geração e a quem podemos confiar o futuro da arte.
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