Início Adriana Esteves Nada a reclamar!

Nada a reclamar!

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Até hoje, as pessoas a chamam na rua – “Carminha!”. A vilã de “Avenida Brasil” marcou a carreira de Adriana Esteves, da mesma forma que a novela de João Emanuel Carneiro marcou a história da TV brasileira. Todo mundo reconhece que “Avenida Brasil” foi um “fenômeno”. Não teria sido a mesma coisa sem Adriana na pele da maléfica Carminha. Adriana está no ar com outra vilã, mas dessa vez a química não está sendo a mesma. Havia muita expectativa por “Babilônia”, e pela nova vilã de Adriana, mas o texto de Gilberto Braga não conseguiu atuar no imaginário do público. As duas vilãs que Adriana e Glória Pires representam não valem meia Carminha. “Babilônia” já está se despedindo e será substituída por uma nova novela de João Emanuel.
Você está desapontada com o fracasso de sua nova vilã em “Babilônia”?
Mas assim? Já vai esculhambando comigo? (risos) Não sinto o que você chama de fracasso da novela. Continuamos gravando normalmente, agora de forma mais acelerada, nessa fase final. Essa coisa de a novela não ter funcionado não atinge o set. Não estamos em crise, pressionados. Pelo menos, não sinto. Os números, o desapontamento, fico sabendo por meio da imprensa. Para mim, como atriz, está sendo uma experiência enriquecedora. Me dei muito bem no set com a Glória (Pires), acho que estamos batendo numa sintonia muito boa. E ela é uma atriz maravilhosa. A questão é que se criou uma expectativa muito grande pela novela, como se ela estivesse vindo com tudo. O Gilberto (Braga) abordou temas polêmicos e que provocaram debate, mas a questão é – já tenho experiência para saber que as coisas nem sempre funcionam ou não funcionam de acordo com a expectativa. E, depois, tem uma coisa importante: “Avenida Brasil” já tem três anos. As coisas estão mudando. Existem outros formatos. As séries estão ocupando o lugar que antes era só das novelas. Acho que tudo isso precisa ser relativizado e levado em conta. O próprio conceito do vilão não deixa de passar por uma mudança. Dublei a vilã de “Minions” e foi uma experiência bem divertida. O filme arrebentou. As crianças adoram os minions, que existem para servir os vilões. E, no dia a dia, as denúncias se sucedem. Descobrem-se hoje os podres de quem era bonzinho ontem. O mundo está mudando e as novelas não dão conta de tanta mudança.
Mas você não ficou apreensiva de emendar duas vilãs?
Na verdade, não emendei. Lá atrás, sim, já fiz isso, mas hoje tenho 45 anos, não tenho mais pique. E fiz outras coisas, série, fiz filmes no intervalo. E claro que fiquei em dúvida. Carminha foi muito forte para mim, para o público. Sempre tem aquele sentimento de incerteza – e se não der certo? Por outro lado, se eu estivesse 100% segura, qual seria a graça? Fiz o filme do Jorge (Furtado, “Real Beleza”), que ainda não vi, vou ver hoje à noite, e posso até dizer os momentos em que, no set, vacilei e me senti fragilizada. Mas isso faz parte, estimula. Você diz, e tem razão, que “Avenida Brasil” foi um fenômeno. O fenômeno a gente tenta entender, explicar, mas, por natureza, é a exceção. Fora de série.
Já que a nova vilã não funciona, vamos voltar à antiga. Por que você acha que a Carminha mexeu tanto com as pessoas?
Foi uma coisa de momento, uma combinação de texto bem escrito com um novo estilo de direção (da Amora Mautner) e num momento mais calmo que hoje. Naquele quadro, veio aquela mulher (a Nina de Débora Falabella) em busca de justiça e a outra, a Carminha, que era uma praga. Tudo muito folhetinesco. A Carminha foi um presente para mim. Parece chavão dizer, mas, dentro do naturalismo da TV, eu nem sabia que podia interpretar daquele jeito, fazer aquelas coisas. Foi uma coisa de ir exagerando, caricaturando e o texto não só segurava como estimulava que a Carminha fosse cada vez mais longe. Já tinha feito vilã antes, mas nunca daquele jeito. Foi uma catarse, e as pessoas perceberam isso. Viajaram.
E agora?
Agora é essa loucura toda. Você abre o jornal, liga a TV e tudo parece um descalabro tão grande que a ficção, sob certos aspectos, parece tímida. O que é a maldade num mundo em que tudo, menos o respeito e a ética, parece liberado?
Tenho um amigo crítico que certa vez esculhambou com você. Que certa vez escreveu que você tinha de aprender, que era ruim. Até hoje ele se arrepende de haver escrito aquilo. Virou seu fã. O que você pensa disso?
O Marco (Ricca), com quem fui casada, dizia que a vantagem da juventude é que se pode errar e aprender. Eu certamente não sei e talvez até diga que não era ruim como seu amigo escreveu, mas errei, aprendi e fico contente de saber que ele se arrepende, porque é sinal de que aprendi e fiz boas coisas. Todo mundo se fixa na Carminha, mas eu fiz a Dalva de Oliveira (na TV), fiz Maria Bonita (no teatro). São trabalhos de que me orgulho muito, que me amadureceram como mulher e como atriz.
E agora você está trabalhando com seu marido, Vladimir Brichta, no filme de Jorge Furtado. E vocês têm umas cenas calientes. Como é fazer sexo com o próprio marido diante da equipe?
Ah, é meio esquisito. É tudo coreografado, tudo mentirinha, mas a gente tem de simular intensidade. O Jorge teve a sensibilidade de filmar com o mínimo do mínimo da equipe. Não vou dizer que estava confortável, mas é só atuação. Tinha de passar para o público aquela mulher que vive apagada e aí chega aquele cara, o fotógrafo, que reacende nela o fogo da paixão, do desejo. Por isso, faço o que faço no filme.
Gostei bastante de “Real Beleza”. É um filme sobre nada que é sobre tudo.
O que havia de atraente para você no projeto?
Ah, era tudo. Havia feito alguma coisa do Jorge na TV, mas não no cinema. Então trabalhar com ele, na serra gaúcha, e com o Vladimir, o (Francisco) Cuoco, e o Jorge fazendo o primeiro drama dele, foi tudo muito interessante. O Jorge diz que precisou se reinventar para fazer o drama, que tem um timing diferente, então foi um processo muito interessante trabalhar com um diretor importante como o Jorge, e num momento especial, de descoberta, para ele.
Você faz essa mulher dividida entre dois homens – o marido e o fotógrafo que irrompe na vida dela. E o filme tem uma discussão sobre a beleza, a filha que quer ser modelo. É muita coisa, mas tudo tratado com leveza e num tempo que é lento sem ser parado. Como foi para você entrar nesse ritmo?
Você disse tudo – o filme tem um tempo. O Jorge já dominava o tempo da comédia e aqui se preocupava com a gente em descobrir um tempo para o drama. Como você diz, é mais lento sem ser parado. E eu ali no meio, dividida entre os dois homens. É possível amar os dois? São sentimentos diferentes. Uma coisa mais calma e outra mais agitada. Uma coisa mais cabeça e outra, desejo. E tem a relação de mãe e filha… Ainda não vi o Real Beleza, mas tive um dos melhores tempos da minha vida, cercada de pessoas queridas, que admiro.
Na entrevista que deu ao jornal O Estado de S.Paulo, no lançamento de “Muitos Homens num Só”, Vladimir (Brichta) falou com muito carinho da ligação de vocês, do quanto a admira. E você?
Estamos casados há nove anos, mais dois de namoro. Então são onze anos. Temos o nosso filho, o filho que eu tive com o Marco (Ricca) e a filha do Vladimir. Confesso que sou mãezona, mas o mais bacana nessa família é que descobri que o laço não é só de sangue. É toda uma relação de afeto que nos une. Já tive meus dissabores, mas estou num momento muito feliz.
É difícil não pensar em “As Pontes de Madison” diante de “Real Beleza”. A mulher do lar, insatisfeita, o fotógrafo. Mas o Jorge (Furtado) jura que não viu o filme de Clint Eastwood. E você?
Ele não viu, mas eu vi por nós dois (risos). Já tinha visto o filme umas duas vezes, e gosto muito, mas resolvi rever antes da filmagem. Meryl Streep foi superreferência para mim. O desejo e, ao mesmo tempo, o recato, a fidelidade. Não estou nem de longe me comparando, mas Meryl foi um espelho para mim, nesse papel que, ao contrário da Carminha, pede tanta contenção.

 

Fonte: http://portal.tododia.uol.com.br/_conteudo/2015/08/cultura_e_entretenimento/86671-nada-a-reclamar.php

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