Não faz tanto tempo assim, o público viu Juliana Paes dando à luz em cena na Globo. Aconteceu em “ Pantana l”, quando ela viveu Maria Marruá. Agora, em “Pedaço de mim”, trama lançada na última sexta-feira pela Netflix , a situação se repetiu logo no primeiro capítulo.
Esse é apenas um exemplo da sensação de familiaridade que marca a nova produção.
A conexão com atores famosos e queridos e com histórias famosas é um capital desse melodrama. O espectador queima etapas no seu mergulho na história, o que acontece de forma quase instantânea.
Juliana e Vladimir Brichta , que fazem seu marido, são grandes razões para o público se sentir “em casa” de cara. Mas não como únicos. O texto bem construído leva a assinatura de Ângela Chaves — autora que tem no currículo, entre outras tramas, “ Éramos seis ” e “Os dias eram assim”. E a direção artística é do competentemente Maurício Farias, que, durante muitos anos, esteve à frente de “ A grande família ” e, mais recentemente, de “ Um lugar ao Sol ”.
Juliana interpreta a terapeuta ocupacional Liana. No momento em que a história começa, seu casamento com Tomás (Brichta) está em crise. Ela está tentando engravidar, mas descobre que foi traída, há uma briga e ele acaba saindo de casa. Durante essa separação, Tomás sofre um acidente de trânsito e passa uma semana sumido — na verdade, está hospitalizado. É quando ela tem uma noite com outro homem (Oscar/Felipe Abib).
O casal supera a crise e reata. E ela descobre que está grávida. Não é uma gestação qualquer e sim uma superfecundação heteroparental. Em outras palavras, Liana espera gêmeos de pais diferentes. O elenco, de primeira — além dos citados, há Palomma Duarte, Jussara Freira, João Vitti, Martha Nowill e Antônio Grassi —, é compacto. Ele atende a um enredo concentrado, sem as inúmeras subtramas que puxam os folhetins tradicionais.
“Pedaço de mim” tem a estrutura de uma novela. Por exemplo, cada acontecimento é importante para que o enredo venha a ter uma repercussão, ou seja, os personagens comentam, explicam e reiteram o que se passou. E mais: num único capítulo, vimos uma cena de paixão, um menino com uma doença grave, um personagem com a cabeça enfaixada e alguém dizendo uma frase feita (“a vida é um sopro”).
É ou não é puro? É, mas diferentemente do que acontece com o público brasileiro. A história terá 17 capítulos, e não mais de uma centena que caracterizam as novelas. A Netflix classifica a produção como “melodrama”, evitando usar o formato como critério e preferindo o gênero.
De qualquer maneira, a trama (uma produção de A Fábrica) reflete um novo momento do mercado audiovisual. Seus profissionais estão transitando por diversas plataformas. E os velhos hábitos do público são subvertidos o tempo todo. Vale a pena observar.
Foto: Reprodução Netflix