Previsto para 20 de novembro , o filme “Marighella“ teve a estreia adiada (a nova data ainda está indeterminada). Em nota, a produtora do longa, O2, informou que não conseguiu cumprir “todos os trâmites” exigidos pela Agência Nacional do Cinema (Ancine).
Mas o que são, afinal, os tais trâmites? Esta foi uma das perguntas que circularam nas redes sociais, onde também foi cogitada a possilidade de censura contra o filme de Wagner Moura, que conta a história do ex-deputado, poeta e guerrilheiro assassinado pela ditadura militar em 1969.
Segundo a O2 e fontes ouvidas pela reportagem, o impasse esbarra, de fato, em entraves burocráticos.
O que aconteceu?
“Marighella”, que tem distribuição da Paris Filmes, recebeu investimento do FSA (Fundo Setorial do Audiovisual, administrado pela Ancine) de cerca de R$ 3 milhões . Segundo a O2 Filmes, este apoio obriga a produtora a informar à Ancine a data de lançamento com pelo menos 90 dias de antecedência. Este prazo é necessário para que o FSA possa arcar também com parte dos gastos da distribuição do filme nas salas de cinema. O problema é que a empresa não comunicou o FSA dentro do tempo exigido.
Por que a produtora não cumpriu o prazo?
Segundo a O2, não foi possível comunicar a Ancine com três meses de antecedência porque o contrato com o FSA ainda não havia sido formalizado.
Além disso, descumprindo o prazo, o FSA teria direito a reter 5% das receitas de distribuição do filme, mesmo sem investir em sua comercialização.
Diante do impasse, o que a produtora fez?
A O2 pediu, então, uma excepcionalidade. Ou seja, solicitou que a Ancine antecipasse a verba para comercialização, mesmo sem a assinatura do contrato. O pedido foi negado porque, de acordo com funcionários da Ancine, a produtora possui pendências relativas a pedidos de prorrogação de prazos em outros projetos.
De acordo com funcionários do órgão, estas pendências são um pequeno problema burocrático que, em circunstâncias normais, seria resolvido rapidamente. Mas a Ancine passa por uma crise, com o afastamento do diretor-presidente, Christian de Castro ; funcionários sobrecarregados ; cortes orçamentários ; e revisão de procedimentos para atender às demandas do TCU (Tribunal de Contas da União), que este ano exigiu mudanças na forma como são analisadas as prestações de conta dentro da agência .
Ataques e demora para a estreia
Desde que “Marighella” estreou mundialmente no Festival de Berlim, em fevereiro, a distribuidora Paris Filmes foi pressionada para lançar o filme em circuito comercial.
A principal cobrança veio do próprio diretor, Wagner Moura . Na época, ele disse que “gostaria muito que o filme fosse lançado no Brasil o mais rápido possível, mas eles ( Paris Filmes ) acham que não seria um bom momento”.
Foi só em junho que a data foi revelada: 20 de novembro , dia nacional da Consciência Negra. O anúncio foi feito pelo jornalista e autor do livro “Marighella”, Mário Magalhães, que deu origem ao roteiro de Moura e Felipe Braga.
Há meses o filme é atacado por supostamente defender uma ideologia de esquerda. Em fevereiro, logo após a sessão em Berlim, que teve presença até do ex-deputado federal Jean Wyllys, detratores fizeram uma campanha para lhe atribuir nota baixa no “IMDb” , principal site de dados sobre cinema. Mais de 2 mil avaliações, muitas delas negativas, foram feitas na página do título.