Mais acostumado a transitar pela comédia, o cineasta Jorge Furtado entra em cartaz nesta quinta (6) caminhando por outro gênero: o drama. Em seu novo longa, “Real Beleza”, conta a história de João (interpretado por Vladimir Brichta) —um fotógrafo em decadência que precisa encontrar uma nova e ideal modelo para reascender sua carreira.
Após entrevistar muitas candidatas em cidades do interior gaúcho, o profissional se depara com Maria —que ganha vida na pele de Vitória Strada, já apontada como sósia de Caterine Zeta-Jones. Mas Pedro (Francisco Cuoco), pai da adolescente de 16 anos, não quer que ela se torne modelo internacional.
Na tentativa de convencer o pai a autorizar a viagem da menina, João se apaixona por Anita (Adriana Esteves), mãe de Maria. “Foi um grande desafio, porque muito do que acontece na história é silêncio, olhar. Essas pausas são muito expressivas, são contadas pela imaginação do público”, afirma Furtado.
Abaixo, leia a entrevista com o cineasta e diretor de “Real Beleza”:
“Guia” – O filme traz muita sutileza nas imagens e na linguagem. Qual o maior desafio deste tipo de roteiro?
Jorge Furtado – Estou acostumado a fazer comédias, e a comédia é muito determinada pelo roteiro, bem fechada —a gente sabe exatamente o tamanho que a cena vai ter. Num drama romântico não. As pessoas olhavam o roteiro e diziam que não parecia um longa porque ele tinha metade do tamanho de um roteiro comum. Muito do que acontece na história é silêncio, pausa, olhar. Grande parte da história é contada pela imaginação do público, e os silêncios são muito expressivos.
Quando criou os personagens, já sabia que atores iriam encená-los?
A primeira pessoa que eu chamei foi o Vladimir Brichta. O roteiro ainda não estava fechado, fui fazendo com ele. Então pensamos na personagem da Anita e falei “óbvio, a Adriana Esteves”. Até comentei com ele para ver se teria algum problema em trabalhar com a mulher. E aí a minha vida estava ganha, ela é uma atriz muito intensa. Depois, quando pensei no personagem do Pedro, queria alguém mais velho, com sabedoria, e que fosse um cara bonito. E o Francisco Cuoco tinha tudo isso.
Os personagens fazem referência a autores como Fernando Pessoa, Borges e Guimarães Rosa. São suas referências literárias?
Sim, são meus autores preferidos. E quase todos os livros que aparecem em detalhe no filme são meus. A direção de arte levou cerca de cinco mil obras para lá, para criar a biblioteca do Pedro. Mas os que surgem com destaque, como “Alice”, de Lewis Carrol, são meus.
É difícil lançar um drama no circuito nacional, tão carregado por comédias?
Sempre procurei seguir um caminho intermediário —mesmo quando faço uma comédia, é para rir, mas não só para isso. Eu espero que o filme seja mais durável que uma comédia de verão. Como diz a música “Real Beleza”, de Sérgio Sampaio, que dá nome ao filme: “Uma canção para o povo da rua, e mais erudita não há”. Ela entretém, diverte, mas também ensina e eleva. Claro que hoje os grandes sucessos da bilheteria nacional são comédia, mas faço um cinema relevante.
O que é a real beleza para Jorge Furtado?
É a beleza que está associada à verdade. Não é bonito o que não é da natureza —como ter 60 anos e querer aparentar 30. A beleza, inclusive nas artes, é aquilo que é verdadeiro, que vai a fundo.
Fonte: http://guia.folha.uol.com.br/cinema/2015/08/1664887-quero-filmes-mais-duraveis-que-uma-comedia-de-verao-diz-jorge-furtado.shtml