Filme sobre fotógrafo em busca de modelo propõe discussão sobre o belo e reúne no mesmo set a atriz e o marido, Vladimir Brichta, após mais de 10 anos
Uma modelo gaúcha pode ser bela, assim como um bom livro de poesia ou uma música clássica. Essa relativização do belo é o objetivo de Real Beleza, novo longa de Jorge Furtado que chega agora aos cinemas. O primeiro drama do gaúcho, diretor de comédias como Meu Tio Matou um Cara (2004) eSaneamento Básico, o Filme (2007), começa com um fotógrafo (Vladimir Brichta) em busca de uma menina para trabalhar como modelo, e desemboca tanto em um romance proibido como em uma história toda permeada por reflexões sobre o belo. Reflexões que se sobrepõem à cena que poderia ter ofuscado o resto do filme: o nu frontal de Adriana Esteves.
A trama gira em torno de João (Brichta), que chega ao Rio Grande do Sul atrás de meninas que possam trabalhar como modelo com ele em São Paulo. A busca pelo interior gaúcho não dá muito resultado no início, e é logo nessas primeiras cenas que se dá a partida para essa discussão em torno do belo. O personagem parece estar em crise com o próprio padrão de beleza, e começa a remodelar seus conceitos. Quando reclama por não ter encontrado quem procurava, seu assistente Wilson (Thiago Prade) pergunta se ele não achou nenhuma das meninas bonitas. “Bonitas são todas, mas nenhuma tem o que eu procuro.”
Quando a busca finalmente dá resultado, Maria (Vitória Strada), a escolhida, apesar de sonhar com a carreira de modelo, recusa o convite. Ela é menor de idade e acredita que seu pai (Francisco Cuoco), Pedro, não a deixaria assinar contrato. João, no entanto, não desiste e decide ir até a casa da garota para falar com seu pai, a trinta quilômetros de onde estão – outra pequena cidade do interior do Rio Grande do Sul. As locações, aliás, passam muito do clima do filme. Os ambientes, tranquilos e cheios de verde, são apropriados para a estética reflexiva do longa.
Quando o personagem de Brichta chega ao local, Maria e Pedro não estão: a menina foi acompanhar o pai, que precisava realizar exames em uma cidade maior da região. Quem o fotógrafo encontra é a mãe da garota, Anita (Adriana Esteves). É nela que João parece encontrar a beleza que procurava, e ele se apaixona. Os personagens vivem então um romance, enquanto o marido e a filha de Anita estão fora. Nesse ínterim, ocorre a cena de nu frontal de Adriana Esteves, praticamente uma raridade no cinema nacional – apesar dos 53 anos que separam Real Beleza de Os Cafajestes, em que Norma Bengell inaugurou o nu total no cinema brasileiro.
Brichta e Adriana, casados na vida real, atuam juntos, coisa que não acontecia desde a novelaKubanacan, em 2004 – e pela primeira vez no cinema. Ambos os atores rasgam elogios um ao outro e destacam a evolução dos dois na carreira profissional nesse tempo. “É curioso ver depois de dez anos como cada um de nós se transformou como ator, porque como indivíduo a gente sabe”, diz Brichta.
Quando Pedro volta para a casa com a filha, entra no roteiro outro elemento para discutir a beleza: o homem é cego. Amante de literatura, ele passou a contar com a mulher para apreciar as obras das quais é fã. “O fato de ele ser cego justifica dramaticamente a presença de Anita e a não ruptura do casal, porque ela se torna a leitora dele”, opina Brichta. “O curioso de ter uma pessoa cega no filme é que a beleza é muito associada à visão, mas a beleza pode ser ouvida, sentida. E é isso que esse personagem se propõe a mostrar. Acho que o nome do filme é bastante sugestivo, qual é a real beleza?”, completa Adriana.
A relação do pai, cego, com o fotógrafo, com quem sua mulher o traiu, e que tenta persuadir a assinar o contrato da filha, acaba se tornando o clímax do longa. A partir das conversas entre os dois, o diretor questiona o que é a beleza e qual a importância que cada tipo do belo tem. Mesmo sem ver, o belo continua fazendo parte da vida de Pedro e isso é o que o filme busca com o personagem. “Ele perde a visão, mas continua percebendo a beleza. Eu fiquei muito interessado nas várias maneiras de se enxergar a beleza através do clima, da percepção”, diz Cuoco, que deu vida ao patriarca.
Real Beleza explora um gênero não muito popular no cinema nacional, o drama romântico. Vitória Strada, que estreia como atriz, é uma surpresa boa na pele de Maria. E o desenrolar da delicada situação acaba sendo mais surpreendente do que se poderia esperar.
Fonte: http://veja.abril.com.br/noticia/entretenimento/real-beleza-vai-alem-do-nu-frontal-de-adriana-esteves?utm_source=redesabril_veja&utm_medium=twitter&utm_campaign=redesabril_veja&utm_content=feed&