Início Adriana Esteves Série ‘Os Outros’, produção do Globoplay lança segunda temporada.

Série ‘Os Outros’, produção do Globoplay lança segunda temporada.

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Foto: Daniel Klajmic/Divulgação

Tendo muito dinheiro ou não, toda pessoa está à beira do colapso, e “Os Outros” sabe bem disso. Após narrar o desenrolar da briga entre duas famílias de classe média, a segunda temporada da série se muda para um condomínio de luxo do Rio de Janeiro na ânsia de escrutinar o caos vivido por gente rica.

Ali, muito milionário vive de fachada. É o caso da nova protagonista, Raquel, uma corretora de imóveis bem-sucedida e rica, que finge estar feliz, mas sofre por não conseguir engravidar, o que pensa ser crucial para manter o casamento de pé.

Ela é interpretada por Leticia Colin, agora no panteão de estrelas da Globo após o sucesso de Vanessa, sua vilã na novela “Todas as Flores”. Mas, se aquela personagem era uma ambiciosa desvairada, esta segue por outro caminho —Raquel é metódica, preocupada, e muito religiosa. Ela lidera uma célula, ou seja, uma reunião de moradores do condomínio que querem comungar a palavra de Deus.

A princípio a série dá indícios de que vai usar Raquel para criticar fanatismo religioso, mas o criador e autor Lucas Paraizo afirma que essa não é a intenção. “Pelo contrário, quero humanizar a religião. Essa temporada é sobre fé. O elemento surge de forma estereotipada, mas isso muda à medida que a história avança.”

“Quero dialogar com os religiosos. Os evangélicos, especialmente, que estão tomando protagonismo no nosso país, não são apenas um tipo de pessoa. São diversos e complexos, é nisso que quero tocar”, ele diz.

Nesse sentido, “Os Outros” deve amenizar também as cenas de violência. A temporada inaugural exibe nos primeiros minutos o rosto de um adolescente ensanguentado, depois mostra um marido agredindo sua mulher, e, mais adiante, filma um homem sendo empurrado da sacada do apartamento.

Cenas do tipo foram consideradas corajosa por uns, mas apelativas por outros. “A violência dessa temporada é menos visceral, menos física, está em outra instância. É menos reativa, mais premeditada. Não mudei para agradar, foi porque quis tratar essas cenas sob outra ótica para ampliar a discussão sobre o que é violência”, afirma Paraizo.

Para além das brigas e mortes, “Os Outros” é sobre intolerância, define o autor. A trama nasceu no Brasil polarizado de 2019, quando o cenário político fervia com o início da gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro. À época, o autor notou que havia cada vez mais embates entre familiares e vizinhos, cenário que só piorou com a chegada da pandemia.

“A intolerância está em várias camadas da sociedade. A primeira temporada começa com um soco na cara, numa quadra esportiva. Mas depois, vai entrando naquele condomínio, e você percebe que todas as relações estão contaminadas”, afirma o autor. “Trazer o conflito para dentro de casa, essa é a anatomia que nos interessa.”

“Os Outros” é uma série antológica, com cada temporada contando a história de diferentes personagens, ainda que dentro de um mesmo universo —caso de “True Detective” e “The White Lotus”, uma referência declarada para Paraizo. Firmado há anos no mercado internacional, o formato ainda foi pouco explorado no Brasil.

Paraizo quis fazer uma antologia porque passou anos preso ao modelo tradicional de seriado no drama médico “Sob a Pressão”, com cinco temporadas lançadas entre 2017 e 2022. Foi nessa época que ele virou figura de prestígio na Globo, uma carta na manga da emissora para lançar produções consideradas mais cabeçudas.

Para tentar alcançar o resultado, o Globoplay pôs na direção Luisa Lima, tida como uma das mais autorais da Globo, com “O Rebu” e “Justiça” no currículo. Em “Os Outros”, ela abusa dos ângulos não convencionais para dar uma cara mais artística à série.

Foi Lima quem convidou Leticia Colin para interpretar Raquel. As duas já tinham trabalhado juntas em “Onde Está Meu Coração”, série que rendeu a Colin uma indicação à estatueta de melhor atriz no Emmy Internacional do ano retrasado pelo papel de uma médica que sofre com vício por crack.

“Eu me atraio por esse lado estético da Luísa, o enquadramento, a luz, os planos sequência. É o tipo de coisa que numa novela não podemos fazer. Mas eu não seria nada sem as novelas ruins que já fiz”, diz Colin.

Ela se junta a um elenco que tem Sergio Guizé, Thomas Aquino e Adriana Esteves, que reprisa o papel de Cibele, uma mãe superprotetora. Sua personagem, protagonista na primeira temporada, segue buscando o filho Marcinho, interpretado por Antonio Haddad, agora barbudo e foragido. Nos novos capítulos, o menino tenta reencontar sua ex-namorada e o filho, que estão sob vigia do antagonista Sérgio, interpretado por Eduardo Sterblitch.

O ator atribui ao vilão uma virada na sua carreira. Isso porque ele ficou conhecido como humorista, fazendo uma sátira de Freddie Mercury no programa Pânico da TV!, da Rede TV! e da Band, há mais de uma década. “Eu era moleque de teatro ruim, feito para pouca gente”, diz.

Na nova temporada, Sérgio enriquece e se muda com a família para a residência vizinha de Raquel, com quem vai entrar em conflito. Em paralelo, ele usa sua lábia e malícia para vencer uma eleição na Câmara dos Vereadores.

“Existe muita gente como ele no Rio de Janeiro, que faz merda e se acha acima da lei”, diz Sterblitch. “Meu desafio é levar o Sérgio a ter carisma mesmo sendo um mau-caráter. Isso faz com que o público queira, de certa forma, ser como ele, sem vergonha de quem é.”

 

 

Foto: Daniel Klajmic/Divulgação

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