Início Adriana Esteves Sobre Justiça: José Luiz Villamarim dá entrevista à Folha de SP.

Sobre Justiça: José Luiz Villamarim dá entrevista à Folha de SP.

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Com mais de 20 anos de carreira e novelas como “Avenida Brasil” na lista de trabalhos, José Luiz Villamarim, 53, é diretor de alguns dos projetos mais autorais da Globo nos últimos anos.

O mineiro realizou “Amores Roubados”, “O Canto da Sereia” e “O Rebu”, todas em parceria com o autor George Moura, que também assina “Redemoinho”, primeiro filme de Villamarim, previsto para este ano.

No segundo semestre, além de“Justiça”, irá ao ar outro trabalho do diretor: “Nada Será Como Antes”, série de Guel Arraes, Jorge Furtado e João Falcão que fala da chegada da TV ao país.

Em 2017, Villamarim retorna às novelas das 23h, em parceria com Lícia Manzo.

Leia a seguir a entrevista dele à Folha:

Folha“Justiça”discutirá o que é justo? Há uma crítica ao nosso sistema Judiciário?
José Luiz Villamarim – Não vai discutir, vai expor esses temas, sem levantar bandeiras. Esperamos que as pessoas debatam. Tudo passa por uma questão individual. Você acha justo que o cara que matou sua filha fique sete anos preso? A minissérie contempla essas injustiças da lei, mas não é nosso objetivo fazer uma crítica.

Qual a maior dificuldade nesse projeto? Cruzar as tramas?
Tem dramaturgia e também matemática. Precisamos calcular como os atores de uma trama aparecerão como figurantes de outra, como deixar o espectador interessado e compreendendo. É uma história de muita emoção, então busco filmar de uma maneira muito simples, brinco até que parece câmera VHS. Estou indo fundo na busca dessa crueza, dessa vida como ela é. Podemos até discutir o que é feio, o que é belo. O texto da Manuela permite essa realidade.

“Justiça” é muito realista e há quem diga que o público não quer ver realidade.
Sou contra todas essas máximas. Ninguém sabe o que o público quer ver. O público quer boas histórias, algumas dão certo, outras não. É entretenimento, mas podemos fazer coisas mais potentes.

Por que escolheram o Recife como locação?
Eu já gostava dessa ideia, a Manuela também. Precisamos contar nossas histórias fora do eixo Rio-SP. E eu também gosto de tirar todo mundo de sua rotina, de todos ficarem concentrados em outra cidade, de criar essa imersão. Pode dar muito certo ou muito errado. Tem dado muito certo nos últimos trabalhos. O Recife tem uma síntese dessa história. O Brasil inteiro tem isso, mas a distribuição de renda aqui é mais desigual. Você abre a janela em Boa Viagem, o bairro mais chique, e atrás já é confuso, já tem uma pobreza. Acho que tem tudo a ver com a história de ‘Justiça’, com as pessoas que se cruzam na rua. Acho que o Nordeste é um lugar em que entendemos muito o país que a gente tá vivendo. E aqui a gente contempla essa mistura de classes, sai dessa coisa da favela.

Você disse que a escalação de tantos atores de peso em ‘Justiça’ tem um conceito de fidelização do público. Pode explicar?
É um conceito de escalação e fidelização. E houve uma junção, porque coincidiu que muitas pessoas também queriam trabalhar comigo. Pensei na fidelização porque é importante que, nesse formato de uma história por dia, o telespectador tenha vontade de ver lá na frente. E que ele se pergunte: por que a Adriana Esteves passou ali no fundo e não falou nada? Por que o Cauã Reymond tá falando ao telefone nessa outra história? Acho que desperta uma curiosidade. Agora, ter grandes atores não é garantia de sucesso. O que dá audiência são boas histórias, bem narradas, bem contadas. Mas ator ajuda muito.

Qual uma característica forte nesse texto da Manuel Dias?
É um texto muito visceral, muito feminino, com diálogos muito bons. E tem esse desejo de contar uma coisa diferente. Detesto falar que é novo, mas tem novidade aí na tentativa de cruzar essas histórias.

Por que diz que é um texto feminino?
Porque fala dessas mulheres fortes. E é um texto que toca as mulheres. Tem essa questão do estupro, por exemplo. A personagem da Adriana Esteves é uma mãe batalhadora, não é uma mãe coragem brechtiana, mas uma figura brasileira. Essa mulher que sai da prisão e vai resgatar os filhos, que quer trabalhar, dar a volta por cima. São figuras femininas fortes na existência do brasileiro.

Você tem trabalhado com uma nova geração de autores. É importante essa renovação?
É essencial que a televisão se renove, que faça essas apostas como na Manuel, no George Moura. Há um desejo de fazer coisa nova. E, para mim, depois dos 50 todo salto é mortal (risos). Esse novos autores não têm a radionovela tão incorporada, não têm a reiteração como uma questão. São autores cuja formação é a televisão, e que muitas vezes batem bola com o cinema. Ao contrário dos nossos grandes autores, que eu adoro, como Benedito Ruy Barbosa, Gilberto Braga, Manoel Carlos, Aguinaldo Silva, que beberam da radionovela em sua formação.

Seu trabalhos recentes foram novelas menores, minisséries e séries. O que te atrai nesses formatos?
Nos projetos menores você sabe do início ao fim como vai ser, conceitualmente é melhor. Novela como obra aberta é bom também, você pode mudar, apesar de eu ser contra. Acho que você deve perseguir aquilo que você bolou lá no início. Mas o que gosto nesses outros formatos é a ideia de avançar na linguagem. Não tô dizendo que tô criando nada novo, longe de mim, detesto essa coisa. Mas acho que avança um pouco do ponto de vista da filmagem, da gramática televisiva. E é bom como pesquisa, porque a novela receberá isso também e vai avançando.

Você é contra obra aberta?
Não, acho que você pode mexer. Isso vai de autor para autor, às vezes pode haver uma rejeição. Mas em geral eu sou fã da primeira ideia, acho que ela tem que ser perseguida.

Hoje como identificar se há rejeição?
Os números, né?! Pela audiência você sabe direitinho se uma história bateu ou não.

Como enxerga a mudança dos números de audiência hoje em dia? Não temos mais um ibope tão alto…
A gente vive esses questionamentos, tem novos maneiras de se ver conteúdo. O cinema vai acabar com o teatro? A internet vai engolir o jornal? A Netflix vai destruir tudo? Mas tudo depende de conteúdo. O que temos que fazer é não parar, é ir avançando. Se tiver uma boa história, conteúdo, isso vai passar onde quiser. Uma boa história sempre vai ter seu lugar, todo mundo vai querer escutar. E a TV aberta ainda tem muito fôlego.

FONTE: Folha de SP – ir para o site – 

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