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Sucesso na TV e Bozo no cinema, Brichta admite: “Ser anônimo é perturbador

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Foto: Alisson Louback/Warner

A maturidade parece fazer bem aos galãs da TV. Aos 41 anos, Vladimir Brichta acaba de entrar para a lista dos atores de sua geração que alcançaram o sucesso no teatro, na TV e, agora, também no cinema.

É claro que o roqueiro Gui de “Rock Story”, que estreou na Globo em 2001 com a novela “Porto dos Milagres”, já é velho conhecido, com personagens que caíram no gosto do público, como o malandro Armane, de “Tapas & Beijos”. Mas com “Bingo, o Rei das Manhãs”, que estreia nesta quinta (24), Brichta finalmente ganha um protagonista de cinema à altura de seu talento tanto para a comédia quanto para o drama.

Inspirado na vida de Arlindo Barreto, um dos intérpretes do palhaço Bozo na TV, o filme havia sido pensado para o ator Wagner Moura, e caiu no colo de Brichta quase por acaso, depois que Moura assinou contrato para viver Pablo Escobar na série ‘Narcos’.

“Quando ele leu o roteiro, ele falou: ‘Cara, esse é o personagem que eu fiquei esperando até agora para aparecer na minha vida, e eu vou agarrar ele com os dentes’”, conta o diretor Daniel Rezende. “Quando o Wagner não pôde fazer, eu fiquei um pouquinho sem chão. Mas foi o próprio Wagner quem falou: ‘Acho que quem tem que fazer esse filme é o Vladimir’”.

Moura e Brichta, aliás, são amigos de longa data, da época em que eles, junto com Lázaro Ramos, ainda faziam teatro em Salvador.

“Eu não conhecia o Vladimir pessoalmente”, continua Rezende. “E a gente sentou para tomar um café. No olhar dele, eu vi: ‘É ele que vai fazer’. Eu senti o Augusto ali, um cara que vê uma oportunidade e vai pegar com todas as forças e vai se jogar intensamente’.

Augusto, no caso, é a versão nem tão fictícia de Arlindo. Um ator de pornochanchada buscando uma chance nas novelas, que agarra a oportunidade de se tornar o palhaço Bingo em um novo programa infantil, e transforma o personagem em um grande sucesso. Junto com o sucesso, no entanto, vêm as farras, as drogas, o distanciamento do filho e principalmente a frustração de ser um famoso anônimo, já que não pode revelar sua identidade. Um sentimento que Brichta reconhece.

“Ser absolutamente anônimo é perturbador. Todo mundo precisa de reconhecimento”. Vladimir Brichta.

“Eu olhei isso e falei: ‘Cara, eu entendo, eu entendo total’. Não precisa em todo restaurante o maître te oferecer uma garrafa de champanhe. Mas ser absolutamente anônimo é perturbador”, diz. “Todo mundo precisa de reconhecimento. Não é só todo ator, é todo mundo. Por mais que hoje em dia os atores digam: ‘Eu preferiria a minha privacidade, se eu pudesse escolher’.  Não, se você pudesse escolher, você teria sua privacidade preservada, mas o trabalho reconhecido. Você gostaria de ganhar prêmio, de ser parabenizado na rua”, acredita.

Brichta reconhece que esse desejo de ser reconhecido já estava presente quando quis ser ator, aos seis anos de idade, em Salvador, para onde o mineiro se mudou ainda pequeno. “Eu fazia parte de um grupo de teatro na escola. Estava ali porque tinha muito prazer em ser o cachorro dos ‘Saltimbancos’, mas também porque, quando terminava, as pessoas diziam: ‘Gente, eu vi um cachorro’. Não vou esquecer isso nunca”, confessa.

Só mais tarde entendeu a outra faceta do trabalho do ator. “Depois, com o passar do tempo, você começa a entender que o seu trabalho também significa abordar determinados temas que são valiosos para a humanidade. Mas, num primeiro momento, a motivação é ser reconhecido, mesmo que não seja pelo grande público”, diz.

Paizão

Um dos temas valiosos que o novo trabalho de Brichta aborda é a paternidade. Augusto, muito ligado ao filho, vai se deixando encantar pela fama e se afasta do menino. É só quando corre o risco de não poder mais vê-lo que o personagem decide lutar para mudar de vida e não perder o filho –outra sensação que Brichta conhece muito bem.

“Eu briguei na justiça para ter a guarda da minha filha, e não foi uma coisa fácil. Aquilo reforçou o meu compromisso com a paternidade.”

“Depois que meus pais separaram quando eu era muito pequeno, eu fui criado boa parte da minha vida pelo meu pai, com férias com a minha mãe”, relembra, sobre a época em que passava o ano escolar em Salvador, e as férias em Itacaré, no sul da Bahia, onde a mãe morava. “O dia a dia, a parte chata, era com o meu pai. Mas isso também mostrou um pai muito presente na minha vida”.

Mais tarde, outro fato tornaria essa questão ainda mais importante para Brichta. Aos 21 anos, ele teve Agnes com sua primeira mulher, Gena Carla Ribeiro, que morreu dois anos mais tarde. Depois disso, Brichta costumava mandar Agnes para passar as férias com a família materna, em Aracaju, e em uma dessas ocasiões a avó não “devolveu” a menina, dando início a uma disputa pela guarda de Agnes. A separação durou quase dois anos, mas, quando a menina tinha cinco, Brichta finalmente conseguiu trazê-la para morar com ele no Rio.

“Eu briguei na justiça para ter a guarda da minha filha, e não foi uma coisa fácil. Aquilo reforçou o meu compromisso com a paternidade, reforçou meu desejo de exercer a paternidade. E depois, mesmo com esse pequeno trauma, eu fui pai de novo. Então, quando eu vejo essa história, me interessa”, diz ele, que também é pai de Vicente com Adriana Esteves, com quem está casado há 11 anos, e padrasto de Felipe, filho dela com o ator Marco Ricca.

“Eu várias vezes fiz escolhas por causa da paternidade. Mas já senti muitas saudades também. Não me arrependo”.

Não que seja fácil exercer a paternidade com a agenda tão cheia –Brichta engatou, desde 2015, as filmagens de “Bingo”, a série “Justiça”, a novela “Rock Story” e, enquanto cumpre a agenda de divulgação do filme, já está gravando a série “Cidade Proibida”, ambientada nos anos 1950, em que interpreta Zózimo, um ex-policial que virou detetive particular especializado em casos de adultério. E conciliar tudo isso às vezes envolve abrir mão de uma ou outra coisa.

“Eu várias vezes já me vi fazendo escolhas ou deixando de fazê-las por causa da paternidade. Por exemplo, assim que cheguei no Rio de Janeiro, fiz uma novela, fiz a segunda, aí pintou uma peça muito legal aqui em São Paulo mas ia ficar longe da minha filha, e naquele período eu não estava a fim”, conta. “Tinha acabado de conseguir trazer ela [para o Rio], e também não estava a fim de trazer, botar numa escola aqui etc., porque eu queria uma estabilidade lá, não ia ficar pingando com ela. Fiz opções na minha vida como essa, em nome da minha filha. Mas já senti muitas saudades também, já trabalhei longe. Não me arrependo das minhas escolhas, não”, conclui.

Fonte: https://cinema.uol.com.br/noticias/redacao/2017/08/23/sucesso-na-tv-e-bozo-no-cinema-brichta-admite-ser-anonimo-e-perturbador.htm

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