Três fábulas morais compõem o espetáculo “Tudo”, que traz o olhar do diretor Guilherme Weber para a obra do dramaturgo argentino Rafael Spregelburd. A peça, que fez sua pré-estreia no 30º Festival de Curitiba tem em seu elenco, Julia Lemmertz, Dani Barros, Vladimir Brichta, Claudio Mendes e Márcio Vito.
Para Weber, Spregelburd é uma das vozes mais originais da dramaturgia contemporânea, atento às questões latino-americanas, mas com olhar profundamente universal e humano. Ele comenta, “Montá-lo no Brasil é, certamente, também uma compreensão de nossa identidade como latino-americanos, atravessada pela história do continente. O Brasil, pelo seu tamanho e pluralidade, é uma espécie de lente de aumento dos impasses da problemática latino-americana; uma espécie de fantasma no qual todo o continente vê seus medos e desejos”.
As fábulas levadas à cena investigam o indivíduo em confronto com o poder a partir de três perguntas. A primeira (“Por que todo Estado vira burocracia?”) apresenta um grupo de funcionários vivendo suas rotinas em uma repartição pública, quando começam a questionar valores impostos e alguns comportamentos absurdos. A segunda (“Por que toda arte vira negócio?”) mostra os convidados de um jantar de natal que dão início à ceia somente após uma contundente discussão sobre valores absolutos e particulares do pós-modernismo. A terceira (“Por que toda religião vira superstição?”) traz um casal e seu filho recém nascido que fica doente em uma noite de tempestade. “Situar no Brasil estas fábulas morais é ressignificar, sob a ótica nacional, as contradições de nossa identidade e o surrealismo da obra de Spregelburg”, observa Weber.
A escrita de “Tudo” foi comissionada por um festival de teatro na Alemanha que celebrava, em 2009, os vinte anos da queda do Muro de Berlim e tinha como tema “ideologias em colapso e questionamento das identidades.
Em “Tudo”, as cenas se apresentam como perguntas sobre a transformação ideológica que qualquer sociedade passa. Ao tentar construir respostas, os personagens e os espectadores se deparam com temas como o absurdo das regras que definem um determinado grupo social, a dissolução das palavras e seus significados, a ausência de Deus e a inexorável presença da morte.
“Toda pergunta sobre ideologia implica uma estreita relação com o conceito de cidade/ comunidade. O que é que em um determinado momento torna-se a “identidade” de um povo? E o que a história faz aos povos? Acreditamos que nossa identidade é casual? Somos uma solidariedade partilhada perante o temor dos nossos colapsos coletivos?”, pontua o diretor.
Aliás, “Tudo” adquire, às vezes, o valor de um manifesto, mas que visa efeitos sensoriais e ambíguos e em nenhum momento cai na armadilha da arte que faz do discurso e do didatismo sua meta explícita. Além disso, a peça é uma comédia apresentada em ritmo de farsa.
Teatro Firjan SESI Centro (Av. Graça Aranha, 01 – Centro)
Temporada: 16 de junho a 17 de julho de 2022
Quintas e sextas, 19h
Sábados e domingos, 18h
Ingressos à venda pela plataforma Sympla e na bilheteria do teatro
Foto: Lina Sumizono