Aumenta que Vladimir Brichta é rock’n’roll. Protagonista de “Rock story”, novela das sete que estreia quarta-feira, o ator de 40 anos aceitou o convite da Canal Extra para homenagear duas lendas do gênero musical: Raul Seixas e Elvis Presley. Ao posar para o ensaio, o intérprete do roqueiro Gui Santiago representa duas fases do personagem da trama de Maria Helena Nascimento: a glória e a decadência. Os últimos dias do Rei do Rock serviram para traduzir em imagem o momento atual de Gui, que fez sucesso nos anos 90, mas está em baixa, vítima de sua autodestruição. Já o auge do astro da ficção tem o baiano, “conterrâneo” de Vladimir, como inspiração.
— Raul foi minha primeira referência de rock. Ele é anterior àquela fase dos anos 80 que tinha Legião Urbana, Paralamas do Sucesso, Lulu Santos, Lobão, Titãs… Ouvia muito todos eles e fui buscar um pouco do Gui nesses caras. Quando me deparei com esse personagem, que fez sucesso nos anos 90 e 2000, fui resgatar o meu ouvido para o rock nacional. Nunca ouvi tanto rock, estou na fase mais roqueira da minha vida — conta o ator, nascido em Diamantina (MG), mas que se considera um autêntico baiano, já que se mudou para Salvador aos 4 anos.
Elvis é uma referência internacional, seguido dos Beatles e do Nirvana. Nas lembranças que Vladimir guarda do ídolo americano, uma cena não sai da cabeça.
— Uma imagem do Elvis muito forte é a da última vez em que ele se apresentou. Foi tocante demais. Ele estava gordo, suando à beça e o último som que emitiu foi um suspiro ao finalizar a canção “Forever my darling”. Duas semanas depois, morreu. Elvis teve depressão, era viciado em remédios… Paga-se um preço alto por ser uma figura icônica — observa o ator.
Guardadas as devidas proporções, a arte imita a vida em “Rock story”. Na trama que marca a volta de Brichta às novelas depois de 11 anos — a última foi “Belíssima” —, Gui sofre com o excesso de consumo de álcool.
— Seria imprudente colocar esse cara muito junk (lixo) no horário das 19h. Tem bebida na história, Gui comete excessos, mas não é um fio desencapado. Em “Justiça” (minissérie), o meu personagem vendia drogas, mas a faixa era própria para isso. No filme “O rei das manhãs”, em que eu interpretei o ator que dava vida ao palhaço Bozo, a gente mostra esse lado pesado dele, o uso de drogas, de pó… A abordagem da novela é da forma como tem que ser — avalia o pai de Agnes, de 19 anos, e Vicente, de 10, que ainda é padrasto de Felipe, de 15 anos, fruto da relação de Adriana Esteves com o ator Marco Ricca.
Se em “Rock story” o tema drogas ilícitas é ignorado, na vida Brichta não se esquiva de falar sobre o polêmico assunto, nem mesmo com os filhos.
— Não sou careta, converso com eles sobre isso, e tendo a achar que a legalização das drogas é a melhor saída. Nunca me aprofundei nessa discussão, mas o pouco que já li dá a entender que os países que legalizaram fizeram com que as drogas deixassem de ser um problema da polícia para ser um problema de saúde. Sou a favor da legalização, mas não sei dizer se de todas as drogas. Maconha? Não sei, mas a discussão é extremamente necessária — acredita o ator, que leu as biografias de Lobão, Dado Villa-Lobos, Kid Vinil e Nasi, vocalista do Ira, para compor o personagem da trama dirigida por Dennis Carvalho.
Alertar sobre os riscos de optar por esse caminho também é uma preocupação do ator:
— Droga é um perigo, lógico, e a ignorância é a maior inimiga de todos nós. Quando você ouve alguém falar que uma pessoa é a favor da legalização, imediatamente acredita que ela seja defensora do consumo. O uso excessivo, inclusive do álcool, é um problema. A cerveja é legalizada, eu tomo cerveja, já fiz campanha de cerveja, mas o exagero não é legal. Isso está abordado na novela e é bom que esteja. O fato de eu dizer que sou a favor da legalização não significa que eu seja a favor do consumo. Drogas fazem mal! Na adolescência, prejudicam mais ainda, porque ainda não se tem a formação total do córtex cerebral. Isso quer dizer que o usuário seja um criminoso e que a droga deva permanecer no lugar da marginalidade.
É justamente na facilidade de emitir suas opiniões que está a atitude mais rock’n’roll do intérprete do roqueiro Gui da novela. Brichta tem consciência de que mais do que um gênero musical, o soar das guitarras representa um estado de espírito.
— Meu posicionamento rock’n’roll é ser autêntico, genuíno. Não preciso botar o dedo na cara de ninguém, mas, se tenho uma opinião, defendo e dane-se — dispara o artista, que há dois meses se prepara para fazer o papel principal da obra supervisionada pelo autor Ricardo Linhares.
A verdade tão presente no discurso do ator é nua e crua, porém construída com leveza. Essa característica o distancia do temperamental Gui, de “Rock story”, apresentado ao fracasso por não saber lidar com situações adversas. Mas nem sempre foi assim. Na infância e na adolescência, a calma não era uma característica de Brichta.
— Era uma criança explosiva, mas não me tornei um adulto rebelde. O teatro teve papel importante na minha formação em relação ao coletivo. Seria oportuno dizer que a minha carreira teve sucesso porque me controlei. Comecei na profissão aos 17 anos, mas, aos 10, já fazia parte do grupo de teatro, que me fez viver de forma mais harmônica. Não cabe dizer que a minha carreira foi salva pelo teatro, mas o indivíduo foi salvo pelo teatro, sim — afirma o ex-aluno do grupo de teatro da Escola Experimental, de Salvador.
A sabedoria adquirida nos palcos o preparou para entender os altos e baixos da vida, o que não o impede de refletir sobre o peso da ausência do sucesso, principalmente quando se dá aos olhos do público.
— O fracasso é mais duro para os artistas e esportistas, porque você lida não só com a sua expectativa como com a dos outros. A carga, de fato, é cruel. Não me preparei para o fracasso nem para o sucesso. Não superdimensiono as coisas. Por exemplo, procuro não criar expectativas de que “Rock story” vai ser a maior novela de todos os tempos. Trabalho e torço pelo sucesso, mas não projeto muito isso — diz ele, que não vê fama, assédio ou eventuais críticas como incômodos.
Casado há 11 anos com a atriz Adriana Esteves, Brichta chama atenção ainda pela intensidade com que exerce a paternidade, característica que seu personagem não tem, apesar de ser pai de dois filhos:
— Gui só vai ter contato com Zac (Nicolas Prattes) quando o menino já está com 16 anos. Até então, só pagava pensão. Com a filha, Chiara (Lara Cariello), ele tem uma relação de tiozão, só de brincar. Já eu tenho prazer e compromisso. Vicente me cobra que o ajude na escola, tenho experimentado isso. Já Agnes e Felipe nunca me pediram essa participação nos estudos. Acho que Vicente faz dengo (risos).
Fonte: http://extra.globo.com/tv-e-lazer/vladimir-brichta-astro-decadente-em-rock-story-fala-sobre-fracasso-mais-duro-para-artistas-20413201.html