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Vladimir Brichta brilha em Bingo: O Rei das Manhãs, drama que mostra a vida desregrada do palhaço Bozo

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Texto de: Roberto Midlej
Filme de Daniel Rezende mistura aspectos cômicos e dramáticos

Muito antes da  internet  e da TV a cabo surgirem, as crianças brasileiras mantinham os olhos grudados na TV aberta. E nos anos 80, quando os programas infantis tiveram o seu boom com as loiras Angélica e Xuxa, uma terceira atração, revelada ainda no início daquela década, também alcançava boa popularidade: Bozo, o palhaço criado nos Estados Unidos e importado para o Brasil graças ao pioneirismo de Silvio Santos no seu SBT, chegou a ficar no ar por oito horas diárias em seu auge.
Entre os diversos intérpretes do personagem circense que conquistou as crianças da época estava o baiano Arlindo Barreto, ex-ator de pornochanchadas que levavam milhões de brasileiros aos cinemas durante o regime militar. Ele havia estrelado filmes como Corpo Devasso (1980) e Anarquia Sexual (1981). Nascido em Ilhéus, e hoje com 64 anos, ele viveu o palhaço entre 1984 e 1986. Viciado em cocaína e álcool, Arlindo acabou afastado da TV quando as drogas comprometeram seu rendimento.
No auge do vício, sofreu um acidente que o levou ao hospital, onde recebeu a visita de um pastor evangélico e foi convertido à Igreja Batista. Anos depois, Arlindo se tornaria pastor e se apresentaria em igrejas vestido de palhaço.

A história inusitada de Arlindo chamou a atenção de Daniel Rezende, montador brasileiro que se destacou internacionalmente com o trabalho em Cidade de Deus, que lhe rendeu uma indicação ao Oscar em 2004. Desse interesse de Rezende surgiu Bingo – o Rei das Manhãs, filme que mistura elementos cômicos e dramáticos com qualidade que raramente se vê no cinema. A classificação indicativa é de 16 anos.
No papel principal está Vladimir Brichta, que, no filme, se chama Augusto Mendes. O elenco, ótimo, conta ainda com Emanuelle Araújo, como Gretchen, Leandra Leal, como Lúcia, uma diretora de TV durona, e o dinamarquês Soren Hellerup, que interpreta Peter Olsen, o criador do Bingo (que não pode ser chamado de Bozo no filme por questões de direitos autorais).
O filme é uma coleção de acertos e começa com a escolha de Brichta, que, merecidamente, tem mais uma chance de provar ser um bom ator dramático, como já havia feito em Coleção Invisível (2012). O ator baiano, nascido em Minas Gerais, como ele mesmo gosta de explicar, encontra a dose certa de cinismo que seu personagem merece, especialmente, nas cenas em que contracena com Leandra Leal e nos momentos em que tira sarro de Peter Olsen. De quebra, Brichta tem ainda a companhia de Augusto Madeira, que se sai muito bem como Vasconcelos, colega de Bingo.
Anos 80 – Mas, para o público que hoje tem entre 40 e 50 anos, uma das grandes atrações do filme deve ser a viagem até os anos 1980, década marcada pela cultura pop e deliciosamente caracterizada no filme: estão ali a publicidade destacada, os brinquedos que marcaram o período e, claro, a trilha sonora que rendeu clássicos como Serão Extra, do Dr. Silvana, Tudo Pode Mudar, do Metrô e Casanova, de Ritchie.

E uma das musas brasileiras do período também está lá: Gretchen, que ressurge com muita graça na pele de Emanuelle Araújo, cantando um dos seus maiores sucessos, Conga, Conga, Conga. É ela, aliás, com seus dotes glúteos, que ajuda a alavancar a audiência do programa infantil. A boa química entre Emanuelle e Brichta rende uma  inusitada cena de sexo no banheiro.
O submundo do sexo e das drogas, retratado em festas regadas a cocaína e orgias, lembra, às vezes, momentos de filmes como Lovelace (Rob Epstein e Jeffrey Friedman/2013) e Boogie Nights (Paul Thomas Anderson/1997), ambos sobre o universo do cinema pornô.
Mas, Bingo vai muito além de um mero retrato sobre os coloridos anos 80. É também um filme sobre solidão e sobre como um homem pode ser eclipsado por um personagem que ele próprio criou. Embora o Bozo fosse muito famoso, Arlindo Barreto, por questões contratuais, não podia jamais revelar que era o intérprete do palhaço, o que lhe impedia de desfrutar da fama e de ser reconhecido pelos próprios fãs. Ou seja, no fundo, em algum momento da vida, todos nós queremos que os holofotes se voltem para nós.

FONTE: Correio24horas

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