Início Vladimir Brichta Vladimir Brichta entrevista sobre ‘Segundo Sol’

Vladimir Brichta entrevista sobre ‘Segundo Sol’

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Vladimir Brichta está de volta ao horário nobre, com um dos principais papéis da novela Segundo Sol. Remy será irmão do protagonista Beto Falcão (Emílio Dantas) e terá um caráter, no mínimo, duvidoso. Para se ter ideia, ele será amante da cunhada Karola (Deborah Secco) e vai fazer de tudo para se beneficiar da suposta morte do irmão.

Em entrevista exclusiva ao Observatório da Televisão, Brichta contou como está sendo essa experiência na trama de João Emanuel Carneiro. Ele detalha as características de seu personagem, apesar de deixar claro que a novela é uma obra aberta. Além disso, o ator relembrou trabalhos importantes, como nas novelas Rock Story e Belíssima e na série Cidade Proibida. Confira a entrevista completa.

 

Depois de protagonizar Rock Story e Cidade Proibida, como está sendo participar de Segundo Sol, nova novela das 21h?

Eu me empolguei muito com o convite, não só por trabalhar com a mesma equipe de Rock Story, com direção do Dennis Carvalho, mas também por poder interpretar pela primeira vez um texto do João Emanuel Carneiro, e atuar de novo ao lado da Adriana (Esteves) em uma novela. O fato de se passar na Bahia também me atraiu, e senti facilidade de me apropriar daquele universo, além de gostar muito do personagem, o que é o mais importante. Meu personagem se chama Remy Falcão, é o irmão mau caráter do Beto Falcão (Emilio Dantas), o herói da nossa história, que durante toda a vida o enrolou, e teve inveja do sucesso dele, do seu carisma e talento, e por não lidar bem com isso, meu personagem acaba fazendo algumas vilanias digamos, sempre motivado por essa competição louca com esse irmão mais novo.

Mas ele é o tipo de vilão que a gente fica com raiva ou aquele mais atrapalhado?

É para ficar com raiva mesmo, porque se as pessoas não ficarem com raiva com as atitudes dele é porque não estou fazendo bem. Ele explora o irmão, rouba dinheiro, é amante da namorada do irmão. Se isso não é para ser odiado então, não sei mais o que ele precisa fazer para isso, talvez só superfaturar obras mesmo (risos).

Eu perguntei porque tem aquele vilão que a gente odeia e tem aquele vilãozinho que é tranquilo aturar hoje em dia.

Na verdade os arquétipos fazem parte de qualquer novela. O vilão, a mocinha, a mãe, o pai, uma pessoa que busca identidade, que busca vingança, são arquétipos recorrentes. Não sou muito fã desse tipo de classificação porque acho reducionista, mas se eu precisar classificar o Remy, ele é sim um dos vilões sem dúvida. Ele é um cara mau caráter, mas com questões humanas que pretendo trabalhar, não para defendê-lo, mas para que as pessoas possam ter o julgamento final a respeito dele. Eu não componho um vilão, eu componho um cara que você pode questionar as escolhas e a conduta dele.

Você e a Adriana Esteves vão contracenar bastante?

Não sei, por enquanto temos informações somente até o capítulo 24, e até lá tivemos alguns encontros. Parece que os personagens viveram algo no passado, algo que não ficou muito claro, mas dá margem ao reencontro que acontece entre eles. De alguma forma tanto meu personagem, Remy, quanto a personagem da Adriana, Laureta disputam o controle sobre a Karola, personagem da Deborah Secco, e por isso acabam não se dando tão bem. Karola é casada com Beto, mas amante do meu personagem então existe certo controle sobre ela. A Laureta é a mentora das vilanias dela, das maldades, dos golpes e acaba disputando com Remy essa atenção, o que acho mais interessante do que virar uma liga da justiça dos vilões. Prefiro que sejam indivíduos que defendam seus interesses, e não necessariamente se entendam só por serem classificados como vilões.

Nessa novela você vai trabalhar novamente com o Danilo Mesquita, com quem você já atuou em Rock Story. Como será a relação entre Remy e Valentim?

Em Rock Story meu personagem tinha uma aproximação com o dele por ser o cara que criava a banda em que ele tocava, e cuidava de tudo, mas em Segundo Sol existe uma relação mais complexa pelo fato de eles serem família. À medida que o Valentim vai ganhando corpo dentro da história, vai entendendo quem é o Remy. Logo no início é dito que o Remy costumava levar o Valentim para noitadas, e passeios meio adolescentes, mas certamente em algum momento isso vai virar e haver certa rejeição por parte do garoto. Isso provavelmente vai aproximar a gente, e eu vou trabalhar mais com o Danilo como espero que aconteça.

Em novelas, você vem de um personagem incrível que era o Gui Santiago, que era o protagonista, o ídolo. Como é para você estar fazendo esse vilão?

Eu acho que o grande barato dessa profissão é poder variar, seja no gênero, na linguagem, ou caráter dos personagens, então eu não ser mais o responsável pelo mocinho da história agora, que é aquele que tem a trajetória do herói trágico, é um desafio que me agrada.

A Karola se diz apaixonada pelo Beto, mas tem um relacionamento com o Remy. Ele gosta dela de verdade ou faz parte da inveja que ele tem?

Boa pergunta! Existe um gostar entre Karola e Remy, porque para permanecerem juntos durante tantos anos, é porque existe um encontro ali. Acho complexa a relação entre amantes, e me pergunto o motivo por não assumirem logo. Defendi um amante inveterado, que era o Armani em Tapas & Beijos, claro que com um olhar bem humorado, mas a dinâmica entre aquele casal só funcionava daquela forma como amantes, tanto que na segunda temporada eles se casaram, não deu certo e eles voltaram a ser amantes. Karola e Remy têm essa dinâmica confusa, e existem outros interesses que os une além da paixão, certamente um deles é essa disputa entre Remy e Beto. Para mim, isso só enriquece o personagem visto que não é apontado claramente, ele se interessa por ela, sente tesão, e eles se entendem numa série de coisas, inclusive possuem valores parecidos, mas ela ser namorada do Beto era o que faltava. É como se o Beto fosse quem norteia o Remy, quem coloca sombra sobre ele. Na minha cabeça, como o Beto nasceu quando o Remy era filho único, ele acabou ficando maluco ao ver o irmão mais novo ser mais querido e mais talentoso.

Mas existe alguma coisa boa nele? Porque o ódio e o amor são algo muito próximos. Ele também ama esse irmão?

Ele poderia empurrar e puxar. Ele ama esse irmão, vocês vão ver quando a novela for ao ar, que eu tentei deixar claro que é isso, uma complexidade de você conseguir amar e odiar numa proximidade muito parecida. Como se a vida da pessoa te pertencesse um pouco, e para você não ser “eclipsado” por aquela pessoa, você tem que “eclipsar” primeiro, mas ele seria capaz de matá-lo, assim como seria capaz de matar outra pessoa caso essa pessoa quisesse matar o irmão. Ele tem uma inveja tremenda porque o irmão é a luz e o sol da casa, porque o irmão tem talento, e ele acha isso tudo o máximo, mas ao mesmo tempo gera sofrimento. Então de fato ele ama o irmão, a relação dele com o pai é horrorosa, porque o pai é extremamente agressivo com ele, acho que ele entende quem é esse filho e isso é uma coisa horrorosa, é uma faceta humana dele de alguém que queria ser amado, querido pelo pai, que faz você criar empatia por ele. É um cara que cresce ouvindo o pai dizer assim: “Pô esse cara não presta, eu me arrependi de ter esse filho.” Isso é muito doloroso, isso não justifica a maldade, mas isso explica também um pouco da dor daquele indivíduo, isso faz com que de alguma forma gere empatia por ele. O cara cometeu um crime, mas você começa a observar que é um ser humano vítima de determinadas coisas, você vai entender um pouco que aquilo ali não se trata de um monstro, mas se trata de alguém que desenvolveu valores que são errados, ruins na sociedade, que são julgados de forma dentro da sociedade, é inaceitável você ser amante da mulher do seu irmão, isso porque a sociedade se convenceu que isso é um valor que a gente não aceita.

Ciúme é algo que existe entre irmãos, sobretudo mais nesse caso quando um é filho único durante muito tempo e aí vem outro e ele fica imaginando: “Ele está pegando meu lugar, meu quarto, agora tenho que dividir…”. Você na vida real, teve alguma técnica para que se evitasse isso entre os seus filhos ou entre você na sua família?

Não, eu acho que por isso me interessa tanto esse personagem, essa relação dele com os irmãos, com o próprio Beto, porque ele tem uma ingerência sobre o Clóvis (Luis Lobianco) e ao mesmo tempo quem mais saca ele é o Ionan (Armando Babaioff), então eu acho que essas relações fraternas são muito valiosas e eu me interesso por elas, porque elas dizem muito a respeito dessa dinâmica dentro de casa que eu tive com meus irmãos, e que eu vejo que meus filhos têm entre eles. Essa dinâmica diz muito sobre a gente, ela é muito reveladora e ela é muito complexa, acho isso de uma complexidade tremenda, a capacidade que você tem de ter muita raiva e ao mesmo tempo ter muito amor.

E como você lida com a inveja na vida real? Porque agora a gente está na época das redes sociais e aí todo mundo se expõe…

Eu não tenho rede social. Não sei o que falam de mim, não me interessa. Whatsapp conta?

Mas chega para você de alguma forma? Alguém te passa?

Não. Se passar eu mando de volta (risos). Não, não passam não. O que a imprensa fala eu fico sabendo logicamente, porque eu acho que todo mundo tem direito de ter uma opinião, mas a imprensa é composta por pessoas que se prepararam, que estudaram, se prepararam para comunicar determinada coisa, fazer aquela informação correr, eventualmente opinar sobre aquilo. Eu acho isso muito diferente da pessoa querer dar a opinião sem embasamento, acho que esse direito todo mundo tem que ter, mas eu também tenho o direito de não me interessar por uma opinião que seja a meu respeito e não seja embasada para eu levar em consideração. É basicamente isso.

Hoje muito se mede de audiência ou de repercussão através das redes sociais. Por lá se sabe como o público está interagindo, o que está rolando. Como é isso para você que não tem rede social? Não fica vendo os memes?

Não, os memes por exemplo, essas brincadeiras surgem e eventualmente eu recebo, tudo que eles conseguem copiar no Whatsapp. Sobre essa forma de contabilizar o sucesso, acredito que o ator precisa atuar com qualidade o suficiente para que o público assista e se interesse, e meu termômetro quanto a isso é a Globo continuar me contratando, com isso sinto que está dando certo. Já ficar medindo passo a passo eu não gosto. Existem diretores que têm acesso ao medidor de audiência por exemplo, que é uma coisa muito antiga, se me perguntassem se eu gostaria de ter um em minha casa, eu diria que não, porque isso seria alimentar uma ansiedade em mim, o que não é saudável. Eu não sou desinteressado por isso, mas eu perderia o foco que preciso ter para fazer o meu trabalho que é me concentrar, decorar e eventualmente me dedicar a alguma outra coisa. Não sou contra as redes sociais, tanto que meus filhos têm e eu não tenho o menor problema com isso. Acho que se eu tivesse uns 20 anos e estivesse iniciando a carreira de ator, acho que eu não teria nem opção de não ter uma rede social, porque é um lugar para divulgar e etc… Isso é uma das melhores coisas inclusive, ao invés de você pagar uma fortuna, botar um anúncio no jornal para divulgar sua peça, se você já tem uma comunicação com as pessoas, você divulga ali, isso eu acho maravilhoso. No entanto, eu ainda não senti essa necessidade, mas eu volto a falar que não sou contra e eu provo isso com meus filhos em casa, já que eu poderia proibir e não proibi.

Foi comentado que você estava mais forte. O que você tem feito para ajudar na composição física desse personagem?

No processo para entender o personagem eu li uma peça chamada Paloma que se passa em Salvador e tem uma relação de irmãos. Tentei compreender qual seria a família Falcão em Salvador e principalmente como seria o Remy, e quem ele gostaria de ser. Ele é ambicioso, não se contenta em trabalhar para ganhar dinheiro, então rouba, e comecei a imaginar que ele gostaria de pertencer a uma família mais elitizada da região. Comecei a lembrar dessas famílias com as quais convivi e estudei eventualmente, e comecei a localizar o Remy dentro do universo da classe social. Depois pensei na questão física, porque por querer fazer parte de uma elite baiana, hipócrita e muito vaidosa com o corpo, acredito que ele queira também ter um corpo diferente. Com isso achei que faria sentido eu voltar para a academia, ficar um pouco mais forte.

Quanto você ganhou de peso, massa?

Eu achei que eu ia ficar fortinho e emagrecer ao mesmo tempo, mas fracassei (risos), só fiquei fortinho. Estou cerca de 8 quilos acima do meu peso normal. Quando eu estava fazendo o Zózimo em Cidade Proibida, eu já estava um pouco acima do meu peso normal, porque eu imaginava que aquele cara não frequentava academia na década de 50, nem sabia o que era Whey Protein. Meu peso normal é 78 quilos, e agora estou com 86 quilos. 

O seu personagem tem muito esse lado de espertalhão, de que quer se dar bem e isso é uma coisa que a gente vê muito hoje, não só no jeitinho brasileiro, como na política. Eu queria saber o que você espera as eleições de 2018, se você acha que o país tem jeito.

Primeiro eu espero que a gente eleja menos “Remys”. Partindo do pressuposto que meu personagem é esse mau caráter e ele é, é obvio que a gente espera que isso não aconteça. No entanto sobre a política, eu repito veementemente que uma coisa que por mais que a gente se decepcione com a política e não é com a política, é com os políticos e não são todos os políticos. Eu bato muito nessa tecla, não são todos e generalizar é burrice e é desonesto com as pessoas que são honestas e é um tiro no pé, porque se você começar a dizer que cem por cento das pessoas que fazem política são desonestas, você provavelmente tá inviabilizando a política e por consequência você vai inviabilizar a democracia de caminhar, então eu acho que eu defendo determinadas pessoas na política e eu acho que a política precisa se modernizar, ela precisa de figuras, de atores novos, sempre que a gente falar isso pensam: “Atores na política, né?”. Eu acho que precisa sim, de um pensamento novo, um pensamento jovem, eu acho que isso é importante, sou otimista e acho que nesse momento eu preservo o meu otimismo, alimento ele de que sim, teremos eleições em 2018, antes de “quem elegeremos” é “teremos eleições”, existe essa preocupação. Eu de fato, se alguém agora me garantir cem por cento, teremos eleições, eu já fico animado e vamos votar. Porque eu acho que é votando…

E você concordou com a prisão do Lula?

Aí você quer polemizar…

Mês que vem vai voltar Belíssima, que foi sua última novela antes do seu afastamento. Qual a lembrança que você tem do Narciso?

Pois é, foi a última novela que eu fiz e depois teve aquele longo hiato de novelas. Eu fazia parte daquele núcleo central, da família central da novela e eu fiquei tentando recordar que não tinha a relação com os irmãos. Bom o que aconteceu foi o seguinte, quando eu me vi de novo na novela das oito, seguinte aquela que agora é nove e me vi também no mesmo núcleo central, eu falei: “espera aí, eu estou repetindo alguma coisa aqui, deixa eu ver o que lá me desagradou no meu trabalho”, porque eu fiquei insatisfeito com o meu trabalho, “para eu não repetir aqui”, pensei nisso e quando eu pensei nisso eu falei: “espera aí, o meu personagem, essas relações interpessoais entre os irmãos é muito mais o foco, do que era lá”, lá cada personagem tinha seus objetivos para fora de casa, dentro de casa não me recordo de relações truncadas. Então eu percebi que de uma forma parecida, as motivações eram bem diferentes e isso me tranquilizou.

Mas você acha que te desagradou lá por causa de um desgaste?

Na verdade, o que aconteceu não tem a ver com aquela novela especificamente, porque aquela era a minha quinta novela em cinco anos e isso é muita coisa e eu sobrevivi bem a isso levando em conta que eu ainda que fosse jovem, vinha de uma experiência como ator muito grande, porque eu não comecei a atuar fazendo TV, eu vinha de 10 anos fazendo teatro, então assim, de alguma forma eu tinha um certo nível de segurança e tudo, mas eu assistia à novela e falava: “Isso não está legal”, eu nunca ouvi alguma crítica severa em relação ao meu trabalho vindo de outra pessoa, não que não tivesse mas nunca chegou a mim, tanto que depois disso eu neguei em seguida alguns trabalhos, algumas novelas e aí depois disso eu tive uma conversa com um pessoal aqui na Globo e aí eu disse que não estava legal, não estou trabalhando bem e aí me disseram: “Olha, se você não estivesse trabalhando bem, você não estaria sendo convidado para outras coisas”, óbvio que isso me envaidece, mas a questão é que eu posso estar trabalhando o suficiente para eles, mas não para mim, eu me cobro muito e eu olhava e dizia: “Não tá bom”, pode estar bom para eles, mas não está para mim. E aí foi a hora de parar um pouco, voltar ao teatro e aí depois tive a oportunidade de voltar e fazer séries que era uma coisa que me interessava muito também, eu cresci vendo muita novela, mas também cresci vendo muita série, tudo isso me interessava, então de repente pintou a oportunidade de fazer e eu passei um longo período trabalhando mais com esse gênero.

E como foi que gravar 30 dias em Salvador? Você acabou sendo um pouco de guia do pessoal, e eu queria também saber sua relação com o Axé.

Vladimir – Foi muito bom voltar a Salvador, não só Salvador, mas a costa do descobrimento também. Foi realmente, muito especial poder voltar e trabalhar em Salvador, eu tive uma sensação de voltar… E desde que eu saí de lá com meus 17 anos, eu tive uma conexão interna emocional, muito valiosa e rica, eu não sei se foi uma coincidência ou a novela me presenteou assim, mas pintou um negócio que me deixou feliz. Claro que a gente grava pouco em Salvador, mas se dependesse de mim e do elenco inteiro, da equipe inteira, a gente faria a novela inteira lá, porque boa parte da equipe queria ficar morando lá sempre, a galera ficou encantada, não sem motivos, mas é óbvio que não dá, não tem como manter uma equipe inteira e fazer cento e tantos capítulos lá. A gente fez coisas muito pontuais lá e de resto faz aqui assim. Sobre ser guia eu não fui guia de ninguém não (risos). Fui, fui de Adriana, porque a gente teve umas saídas, começo de novela é sempre uma descoberta de personagem, descoberta de sotaque, descoberta de ambiente, de relações, das relações familiares, então basicamente um tempo que você está perdendo, sei lá, no bar do hotel, tomando um café, conversando, aquilo ali está dando lastro para o nosso trabalho e isso é saudável, isso é inteligente proporcionar isso. O que acontece é que quando eu fui encontrar com a turma, porque quando a Adriana chegou em Salvador eu já estava lá, porque a gente ficou meio que indo e vindo, quando a gente foi já estava tudo no largo da mariquita que é um largo famosíssimo lá, um dos melhores acarajés, não vou nunca dizer qual é o melhor e aí de repente já estava todo mundo lá sentado, tomando cerveja e aí a gente já sentou, já conversou e todo mundo já “abaianizou” um pouquinho mais. Sobre o Axé, você fala a música, aquele… curti muito, curti demais, a gente… No carnaval e em festas era o que tocava, carnaval obviamente e qualquer festinha, menos no período de música lenta, que dançava agarradinho e aí tocava umas músicas internacionais, fora isso, festa era música baiana que tocava, menos no período de São João, que aí tocava música de São João, eventualmente baiana também, mas eu ouvi muito, ouvi muito e frequentei carnaval, sempre na pipoca e agora eu posso dizer que acho a pipoca mais legal, mas eu nem sempre tinha dinheiro para comprar abada, então eu não tinha nem essa opção, mas era mesmo a melhor opção ficar no meio da pipoca, seguir trio ou ficar mesmo parado em algum lugar que era o mais comum ver os trios passarem e eu curti bastante.

E como é esse resgate do seu sotaque? Tanto tempo aqui, tanto tempo tentando amenizar por causa dos trabalhos, que até o Danilo falou: “Eu amenizei tanto por causa do tempo que estive aqui, que eu estou com medo agora”. Como é para você também isso? Agora é deixar fluir a natureza.

Isso e resgatar algumas gírias. Na verdade, é a primeira novela que eu faço depois que eu saí de lá, quero dizer depois de Portos dos Milagres, que se passa na Bahia, mas eu fiz três filmes lá, então eu tive que resgatar o sotaque em algumas ocasiões, mas é claro que no dia a dia aqui, trabalhando a gente ameniza, porque o Gui Santiago ele não precisa ser baiano, não é que ele não pode, não precisa, o Zózimo, não é que ele não pode, não precisa. Eventualmente fazer um outro sotaque é divertido também, compor dependendo do personagem é legal, então você acaba realmente dando uma amenizada, e aí quando você vai retomar você nunca sabe o tamanho, porque na verdade você não se escuta o suficiente para saber se você já tem sotaque ou não tem. Mas é muito prazeroso poder voltar e às vezes por exemplo coisa que ajuda muito o sotaque é se você não só usa determinadas gírias, mas se você muda a construção frasal, porque às vezes tem uma forma de falar que se você eventualmente muda o sujeito e o verbo de lugar ali e aquilo soa mais característico de uma região, enfim, essas coisas todas são um barato de resgatar, mas não fiz aula de prosódia, dá para ajudar a Adriana, mas ela me perguntou: “Você não vai fazer aula de prosódia?”, mas eu não tenho o sotaque porque ela às vezes não percebe.

 

Fonte: https://observatoriodatelevisao.bol.uol.com.br/entrevista/2018/04/vladimir-brichta-relembra-belissima-proxima-reprise-da-globo-eu-fiquei-insatisfeito-com-o-meu-trabalho

 

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