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Vladimir Brichta: ‘Exerço a paternidade de forma distinta’

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Foto: Guilherme LIma

“Que colocar o sapato o quê? Vamos descalços mesmo”, disse um divertido Vladimir Brichta para os filhos Agnes, de 27 anos, e Vicente, de 17, além do enteado Felipe, de 24. Os quatro se reuniram num sábado de sol no Parque da Cidade, na Gávea, para este ensaio fotográfico em homenagem ao Dia dos Pais. Entre piadas, zoações e muito chamego, a única dificuldade da equipe da Canal Extra foi fazer com que a família segurasse o riso na hora de posar para as primeiras fotos. Ainda bem que Felipe assumiu a “direção” do padrasto e dos irmãos e organizou tudo bonitinho.

Já no momento de relaxar e criar imagens mais espontâneas, Vicente foi o responsável por fazer as caretas que provocavam gargalhadas na turma. Enquanto isso, Agnes aproveitava cada segundinho para matar a saudade grande que estava dos três, por conta de uma semana sem vê-los. “Uma semana é tempo demais, porque somos muito grudados”, explicou a atriz, que contracenou com o pai em “Quanto mais vida, melhor!” (2021).

— Aprendi que cada filho é um filho. Cada um tem características particulares. Gosto muito da paternidade, e a exerço de forma muito distinta, a começar pelo respeito dos desejos deles, mas sempre sinalizando o que considero serem escolhas mais inteligentes — pontua Vladimir, o coronel Egídio de “Renascer’’.

Aliás, a relação do ator com as crias em nada lembra a conturbada convivência do vilão da novela das nove com Sandra (Giullia Buscacio), principalmente depois que ela se casou com João Pedro (Juan Paiva), herdeiro de seu maior inimigo, José Inocêncio (Marcos Palmeira).

— Egídio acaba sendo um pai autoritário, com pouca demonstração de afeto. Ele não ignora a existência da filha, mas é egoísta. Acho que nessa relação falta amor. Já conheci figuras de pais com dificuldade tremenda de carinho com o próximo. Não foi tão difícil ser o pai que sou, uma vez que eu tinha bons exemplos em casa. Tenho muita admiração por meu pai (Arno Brichta) e minha mãe (Carmem Barros) — afirma o artista, de 48 anos, que foi pai em dois momentos muito distintos de sua vida.

Uma experiência foi completamente diferente da outra, e teve um intervalo de cerca de dez anos. Fruto da relação de Vladimir com Gena Karla (falecida em 1999), Agnes nasceu quando o ator tinha apenas 21.

— Fui pai muito novo. Meu amadurecimento foi fortemente afetado por isso. Mudou tudo de repente. A responsabilidade aos 21 me consumiu mais do que aos 30 (com Vicente, filho de Adriana Esteves). Com ele, fiquei mais relaxado. Quando eu estava com Agnes (pequena), me sentia sozinho. Enfrentei um processo na Justiça pela guarda. Tudo isso fez com que a paternidade, naquele momento, não fosse tranquila. Eu planejei ser um pai com a energia de quem tinha 20 anos, em meio aos deslumbramentos e às descobertas do mundo. Com o passar do tempo, chegando aos 50, os assombros são outros, mas acho que não decepcionei. Um filho não é um projeto nosso.

Um filho não é um projeto nosso. Percebo um vacilo recorrente cometido pelos pais: pensar que o filho deve correr tão rápido quanto o (Usain) Bolt, ou ser inteligente como o (Albert) Einstein — diz o mineiro de nascença, mas baiano de coração.

No início dos anos 2000, Vladimir travou uma briga com a avó de Agnes na Justiça pela guarda da filha. Num primeiro momento, o juiz havia concedido uma liminar desfavorável a Brichta sob a alegação de que ele era ator e não tinha condições de criar a menina.

— Perdi a guarda provisória da minha filha por causa de um despacho ridículo sob o argumento de que eu era homem, jovem e ator. Quando isso aconteceu, eu me desesperei. Uma advogada no Rio entrou com recurso e conseguiu reverter. Me acalmei um pouco, mas o processo ainda teve uma disputa de competência. Durante todo esse tempo, era uma tensão, principalmente nos primeiros dois anos do processo — recorda o astro, que durante o passeio no Parque da Cidade era permanentemente afagado por Agnes, uma verdadeira “agarradinha’’.

“Gente, resolvi ir pra casa do meu pai depois das fotos. Vou voltar no mesmo carro que ele então, tá?’’, avisou a jovem que havia chegado ao local mais tarde que o restante da família porque foi maquiada em casa. Ao vê-la pronta para as fotos com o casaco bege da produção, os irmãos logo comentaram: “Nossa, muito parecido com o seu casaco preferido!”. O entrosamento entre os três chama mesmo a atenção, e Vladimir credita tamanha harmonia à mulher, Adriana.

— Ela é uma mãe incrível pra Agnes. Me apaixonei vendo o quanto boa mãe ela era. Meus filhos têm sorte, porque ela é extremamente cuidadosa, atenta e carinhosa, ao mesmo tempo que é exigente. Enxerguei uma supermãe ali. Obviamente não foi planejado. Não seduzi Adriana para que ela se tornasse a mãe de Agnes (risos), mas tinha um encantamento. Fui entendendo que a família que a gente formaria me daria muito orgulho. Os nossos melhores momentos envolvem a presença dos filhos. São encontros, viagens, almoços em que conversamos amenidades e sobre os planos mais ambiciosos. Minha relação se deu pelo desejo de constituir uma trajetória através da família — conclui o artista, que começou a namorar Adriana em 2004, com quem se casou dois anos depois.

Grande parceiro do enteado, Felipe, Brichta mantém uma forte amizade com Marco Ricca, pai do jovem ator que faz parte do elenco de “Pedaço de mim”, série da Netflix protagonizada justamente por Vladimir.

— Marco e eu conversamos bastante. Ele é muito amado lá em casa, assim como somos na casa dele. Eu também tive padrasto, mas nunca o imaginava como pai. Eu já disse muito “não” e “sim” para o Felipe, mas também digo: “Isso você tem que perguntar ao seu pai”. Em algumas coisas, eu não posso arbitrar. O padrasto não serve para ocupar o lugar do pai, mas para somar. Quando houve o processo pela guarda de Agnes, fiquei um tempo sem ela. Percebi que a avó (materna) estimulava a presença do tio na vida da minha filha. Aquilo me doeu. Pensei: “Tá tentando substituir minha paternidade?”. Quando me tornei padrasto, me coloquei no lugar do pai, e nunca tentei disputar. Estive atento para invadir o menos possível — avalia o ariano.

Na trama da Netflix em que Felipe interpreta Kiko, um playboy que estupra uma jovem numa boate, Vladimir, assim como em “Renascer”, pode ser visto como um pai controverso. Na pele de Tomás, ele vive um homem que vê seu sonho da paternidade desmoronar quando descobre que a mulher, Liana (Juliana Paes) está grávida de gêmeos. O drama é que só uma das crianças é dele. A outra é fruto de uma violência sexual.

— Certamente, Tomás é um pai muito pior que Egídio. A conduta dele é muito reprovável. O modo que a história termina deixa claro que ele é o pior exemplo do mundo. A coisa vai indo para outro lugar, ele distorce completamente o papel de pai. É maravilhoso fazer personagens tão distantes de mim. Ao mesmo tempo, é horrível porque acessa coisas muito ruins. Fazer cenas maltratando filhos é doloroso — afirma ele, que durante o ensaio fotográfico foi consultado pelo enteado para opinar se a camisa por dentro da calça estava estranha.

“Ficou muito engomadinho”, respondeu bem-humorado Vladimir, que deixou a maquiadora da equipe confusa, acreditando que os três fossem filhos biológicos do ator, já que não percebeu nenhuma diferença no tratamento entre eles.

Com a experiência de ser pai de um casal, Vladimir tentou criar os filhos sem diferenciação de gênero, mesmo com temas mais preocupantes.

— Durante a adolescência, na fase de autoafirmação, essa questão de gênero impacta. É diferente, mas o mesmo medo que eu tinha de Agnes, por exemplo, sofrer um assédio, eu tinha de um filho virar um babaca assediador. Eu não queria que fossem vítimas de bullying nem que cometessem.

Apesar dos herdeiros estarem crescidos, com o caçula prestes a fazer 18 anos, Vladimir afirma que a preocupação com eles ainda existe, mas de forma diferente do passado.

— Agnes mora há dois anos sozinha, não fico preocupado com a hora em que chegou em casa. Já com o Vicente, sim, porque mora comigo e tem 17 anos. As preocupações vão diminuindo, mas não desaparecem. É para sempre. Com eles adultos, a gente fica pensando em como vão se inserir no mercado de trabalho, nas contas que precisam pagar… Mas a gente ensina muito para uma criança. Chega uma hora em que eles apontam as soluções. Até quando tenho dúvida em uma cena, um filho bate o texto comigo e chegamos a uma conclusão (risos)! — conta.

Hora de ir embora pra casa… Que tal tirar uma foto com toda a equipe? A produtora de moda lamenta: “Pena que o Vladimir não tem Instagram pra postar este registro!”. Pai acima de qualquer coisa, o ator durante a entrevista explica que um de seus maiores desafios foi criar os filhos valorizando o tempo com eles. Ausente das redes sociais, ele pondera sobre os malefícios da internet com os herdeiros, todos usuários.

— A gente nunca proibiu. Não sou contra as redes, mas acredito que elas podem ser muito nocivas. Podem trazer benefícios de comunicação, informação, estimular curiosidades e monetizar. Mas tudo depende da forma de uso, a começar pelo tempo dedicado, além do impacto que tem no cérebro. Disse a eles que nossa privacidade custa caro. Sem falar no respeito. No meio virtual, as pessoas se tornam mais agressivas e desrespeitosas. Mas sempre acreditei no exemplo que Adriana e eu demos — destaca.

Preparando-se para se despedir de Egídio na TV, já que “Renascer’’ termina no próximo mês, o ator, que não sabe se o personagem morrerá como na primeira versão da novela, em 1993, diz que o Coronel Picapau é seu primeiro vilão de verdade:

— Até cheguei a fazer o Remy, de “Segundo sol” (2018), mas ele não era o cara que mobilizava as ações. Agora, na reta final, a história acelera e a gente se anima mais, mesmo cansado de tanto trabalho. Nas últimas semanas, ele fica mais cruel. Espero que o desfecho dele seja à altura de sua maldade.

O plano para depois do último capítulo é dar uma pausa nas novelas, exatamente como quando sumiu dos folhetins em 2006, ficando dez anos fora. Vladimir quer se afastar sem prazos:

— Quando eu parei lá atrás, não sabia que seriam dez anos. Só sabia que o meu trabalho estava aquém do que eu poderia fazer. Estava satisfatório para o meu contratante, mas não para mim. Quando voltei em 2016, começou a acontecer uma coisa parecida com o que havia rolado antes: fiz cinco novelas em cinco anos. Não é que agora eu esteja insatisfeito, mas realmente é uma demanda muito grande. É um trabalho desgastante e que ocupa muito tempo. Por enquanto, só quero descansar — avisa.

 

 

Foto: Guilherme Lima

Fonte: https://extra.globo.com/entretenimento/tv/noticia/2024/08/pessimo-pai-na-ficcao-vladimir-brichta-posa-com-os-filhos-e-enteado-em-ensaio-exerco-a-paternidade-de-forma-distinta.ghtml?utm_source=dlvr.it&utm_medium=twitter

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