Desde que a novela das 7 Rock Story estreou, em novembro, na Globo, o roqueiro Gui Santiago não teve sossego em sua trajetória de redenção. O personagem, vivido pelo ator Vladimir Brichta, começou o folhetim com a vida pessoal e a carreira em frangalhos. Perdeu a mulher, Diana (Alinne Moraes), e a fama. Mas ganhou uma segunda chance. Só que, para chegar ao tão almejado ‘happy end’ da novela, que está entrando na reta final, ao lado de sua nova amada, Júlia (Nathalia Dill), o herói criado pela autora Maria Helena Nascimento ainda terá de enfrentar um calvário quase diário. E quando Gui põe as mãos na cabeça, segurando seus longos cabelos para trás, pode estar certo: alguma coisa não vai nada bem.
“Acho que a novela tem uma dinâmica muito ágil, muita coisa acontece e o Gui realmente sofre bastante, e tem uma sucessão de coisas ruins que acontecem com ele, percalços. Eventualmente, profissional, eventualmente, pessoal”, concorda Vladimir Brichta, em entrevista ao Estado, por telefone, do Rio. Para ele, fazer uma novela com tantos capítulos é um desafio muito grande.
“Acho que, nessa guinada de modernização da novela, sofrendo influência das séries de TV, a gente consegue, numa certa medida, criar muitos conflitos, quase que diários. Falei da influência das séries de TV, por exemplo, mas eu não assisto muito. Só que as poucas que eu vejo me interessa esse movimento. Quando você falou do calvário do Gui, me lembrei do Breaking Bad. A trama não tem nada a ver, mas o fato de que diariamente, a cada episódio, ele tem algo muito angustiante com o qual precisa lidar, isso estimula na gente a empatia, porque é muito humano ao mesmo tempo”, completa ele.
Gui Santiago traduz a figura do roqueiro clássico e impulsivo. Tinha problemas com bebida e era briguento, mas, nessa fase de redenção, tenta viver de forma mais ponderada, equilibrada. Para se preparar para viver esse protagonista, Vladimir conta que voltou a fazer canto e teve aulas de guitarra. “Eu só tocava violão bem mais ou menos.” Mineiro criado na Bahia, o ator de 41 anos conta que sempre ouviu muito rock nacional e muito pouco rock estrangeiro. “Sou de uma geração depois de Renato Russo, Frejat, Titãs, Paralamas, mas eu entendi que esse personagem representa um desses caras. Então, eu não só voltei a ouvir esses caras: li as biografias deles e fiz um exercício de começar a ouvir todas as referências que eram citadas nos livros deles, para que eu, de alguma forma, fosse mais esses caras. Comecei a ouvir The Who, The Clash, enfim, tudo isso que era rock dos anos 1970, 80, pós-punk, new wave, para entender esse universo, para me sentir parte dessa galera, e tudo isso fez parte do meu estudo.”
Vladimir se apaixonou pelo personagem. Diz compreendê-lo, mesmo não concordando com ele várias vezes. Mas vê pontos de identificação entre ele e Gui, como a questão da paternidade. Lá no início da novela, o roqueiro, que já era pai da menina Chiara (Lara Cariello), fruto de seu relacionamento com Diana, descobre tardiamente a existência de um filho adolescente, Zac (Nicolas Prattes), que ele teve com uma fã. Mas não demora muito para pai e filho estabelecerem uma relação de amor e proximidade. Vladimir é pai de Vicente (com sua mulher, a atriz Adriana Esteves) e de Agnes (com a cantora Gena Carla, que morreu em 1999), e ainda padrasto de Felipe, filho de Adriana com seu ex-marido, o ator Marco Ricca. Agnes e Vicente moram com o casal, e Felipe vive entre a casa de Adriana e a de Ricca.
“Cada um é de um jeito, e acho isso tão bacana”, comenta Vladimir. “Eu não chamo para conversar, eu sou chamado para conversar, e converso com muito prazer, mas eu não estimulo tanto como a Adriana eles se expressarem, se colocarem. Acho que tem muito mérito dela nessa motivação. Tem o Marco, que é pai do Felipe, e nós todos temos uma relação muito saudável, todos nós somos amigos. Tenho muito orgulho das nossas famílias viverem dessa forma, é isso que eu acredito pra vida. É muito bom a gente se entender, ter diálogo, a gente respeitar as diferenças, e nas nossas famílias isso acontece e acho isso um bem muito valioso.”
O ator passou anos lutando pela guarda da filha na Justiça – a avó materna dela também queria a guarda. “Claro que foi importantíssimo ter batalhado por isso. Teve um momento que eu perdi, logo depois recuperei a guarda dela e nunca mais a perdi. Mas também aprendi que é muito comum em Vara de Família os processos serem arrastados, propositadamente para que o tempo também diminua as broncas. Tem uma questão emocional muito forte que envolve questões familiares. O tempo também é um forte aliado disso.”
Bozo. De volta a seu Gui Santiago, Vladimir lembra que iniciou a preparação do personagem quando ainda gravava a minissérie Justiça, em que fazia o papel de Celso, que estava envolvido em todas as histórias da trama. Mas, antes mesmo de Justiça e Rock Story, ele já tinha se comprometido com outra produção da casa. “Quando saí do Tapas & Beijos, logo depois me comprometi com o Zózimo, uma série que agora vai se chamar Cidade Proibida. Se passa nos anos 1950, no Rio. Zózimo é um detetive particular, e ele investiga casos de adultério. Ainda tinha uma aristocracia mais forte e o submundo, e ele flerta nesses dois universos.”
A série é inspirada no quadrinho O Corno Que Sabia Demais: E Outras Aventuras de Zózimo Barbosa, de Wander Antunes. “Eu me comprometi com essa série há muito tempo. Depois o (diretor) José Villamarim me convidou para fazer Justiça. No meio disso, já com as duas séries topadas, fui convidado para fazer a novela. Achei que não ia dar para fazer, mas eu li para entender o que era, gostei muito do personagem, me empolguei. Eu disse que fazia. Falaram que eu ia emendar os três trabalhos. Os três são projetos interessantes.”
E não bastasse, na TV, pular de um personagem para outro com linhas de interpretação tão distintas, no cinema, seu novo papel não é menos desafiante. Em agosto, estreia o filme Bingo – O Rei das Manhãs, dirigido por Daniel Rezende e com roteiro de Luiz Bolognesi, baseado na trajetória do Arlindo Barreto, que reinou nas manhãs do SBT como Bozo, nos anos 1980. Uma figura complexa, que era famoso como o palhaço, mas que ninguém reconhecia quando tirava a fantasia; que levava alegria para as crianças, mas, nos bastidores, era dependente de drogas.
Na tela, Vladimir vive Augusto, que se torna o palhaço Bingo diante das câmeras. “Ele (Arlindo) tem uma história incrível. Ele não era palhaço, era ator, fez pornochanchada, novela, fez coisa na Globo, na Manchete. Quando pintou oportunidade de fazer um teste para ser palhaço e apresentar um programa, ele foi e fez, mas teve problema com bebida, com droga, no meio disso foi casado com a Gretchen, foi casado com outras atrizes também”, diz. “Ele era famoso, bem remunerado, mas era um anônimo, ninguém sabia quem ele era. Para artista, a falta desse reconhecimento também pode ser uma questão. Para ele era.”
Vladimir lembra que assistia um pouco aos programas do Bozo na infância. Quanto ao próprio Arlindo, o ator só conheceu e conversou durante as filmagens – Arlindo faz uma participação especial no longa. “Tinha a história do palhaço que era muito forte. Tive de me afirmar palhaço. Fiz uma preparação com o Fernando Sampaio, que era parceiro de Domingos Montagner, no La Mínima, os dois fazem uma participação no filme – foi o último filme de Domingos. E cheguei a me apresentar em circo, para tomar as rédeas do meu palhaço.” Esse é o primeiro longa como diretor de Daniel Rezende, montador renomado, indicado para o Oscar por Cidade de Deus. “Digo que ele (Daniel) certamente vai suprir todas as expectativas, porque eu vi o filme e está incrível o trabalho dele.
Fonte: http://cultura.estadao.com.br/noticias/televisao,vladimir-brichta-fala-de-seus-protagonistas-na-novela-rock-story-e-no-filme-bingo,70001747937