Filho de geólogo e irmão de biólogo, Vladimir Brichta sempre esteve familiarizado com as questões relacionadas ao meio ambiente. Nos próximos meses, ele mergulhará ainda mais fundo no tema por causa de seu personagem em “Amor de mãe”, nova novela das 21h da Globo. O ativista Davi trabalhará num galpão de reciclagem e lutará pela despoluição da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro:
– A despoluição da Baía é um tema que está sempre em voga. A gente acompanhou, por exemplo, a vinda das Olimpíadas e o projeto de limpeza que nunca aconteceu. Eles jogaram produto químico para baixar a sujeira, matar um monte de peixes e fingir que a água está mais clara. É um assunto que está nas manchetes recorrentemente há bastante tempo. Tudo isso é muito próximo de mim e sempre me afetou. Gritamos pela preservação do meio ambiente e o nosso governo o tempo inteiro está um passo atrás, regredindo e negando estatísticas. Então, esse personagem está em sintonia com o momento do Brasil e também do mundo.
Vladimir acredita que a novela terá um papel importante no debate sobre políticas ambientais:
– Eu torço por isso. O programa mais visto e discutido é a novela das 21h. Acho que ela vai prestar um belo de um serviço. No cinema, você se aprofunda nos temas, mas, por outro lado, não repete tanto a informação. Novela é um formato muito diferente, em que as informações são repetidas ao longo de seis, oito meses. O impacto disso sobre o grande público é bem maior. É um benefício quando a novela se presta a abordar temas tão valiosos para a sociedade.
O principal rival de Davi na história será Álvaro, dono de uma fábrica de plástico que tem dutos ilegais despejando lixo industrial na Baía de Guanabara:
– A guerra do meu personagem não é contra o progresso, mas contra um progresso irresponsável. Vai haver um grande embate entre eles e no meio dessa briga entrará Vitória (Taís Araújo), a advogada da empresa do Álvaro. Davi se envolverá com ela e os dois terão um filho. De repente, descobrirá que está com a mulher que trabalha para o seu rival, a pessoa que ele mais execra. Davi se afastará dela porque viverá um dilema ético. É interessante a forma como a Manu (Manuela Dias, autora) coloca isso. Os casais são afastados por inúmeros motivos nas novelas. Os mais clássicos são a vilã ou o vilão forjando uma situação em que a pessoa é pega flagrante ou tem um beijo roubado. O mais distante disso é quando um casal não pode ficar junto não por uma interferência de uma pessoa de fora, mas por um dilema que não consegue resolver. Acho muito maduro que a discussão romântica seja levada por esse viés. Isso me agrada, gosto de contar essa história.
Para o papel na trama, Vladimir colocou uma extensão capilar:
– Dá trabalho para lavar e é incômodo, mas não reclamo, não, porque concordo com a proposta do Zé (José Luiz Villamarim, diretor). Ajuda a compor a personalidade e diz muito sobre o personagem.
Com 18 anos de carreira na TV, Vladimir interpretará seu oitavo personagem em novelas. Ele diz que sempre encarou com tranquilidade a repercussão de seu trabalho, seja ela positiva ou não.
– Eu nunca fui de sofrer muito para falar a verdade. Nesse sentido, sou um ator um pouquinho atípico. Apesar de torcer para que as pessoas gostem e me esforçar para que seja legal, eu nunca sofri com as críticas. Eu também tive sorte porque, mesmo quando meu trabalho não foi bem recebido, nunca levei uma cacetada grande. Essas coisas traumatizam, mas eu não vivi isso. Posso dizer que hoje em dia eu talvez sofra ainda menos. Não só pela maturidade, mas é que, atualmente, por conta das redes sociais, todo mundo está exposto e é criticado. Eu fiz uma escolha de não ter rede social nem acompanhar a dos outros. Não sei do que estão falando. Claro que, se eu fizer um filme, eu vou ler uma crítica no jornal. É um jornalista que se preparou para aquilo teoricamente. A opinião do público eu sei na rua, quando me abordam. Nas redes sociais, as pessoas mostram um lado bem mesquinho e eu não frequento esse lugar. Essa escolha de alguma forma também me obriga a dizer assim: ‘OK, então você vai relaxar em relação a isso’. Curiosidade eu tenho, mas exercito meu desprendimento. Quando eu abrir o jornal e tiver um comentário, aquilo vai chegar a mim e eu vou pensar. Mas sou bem relax com essa história – explica o ator, de 43 anos.
“Amor de mãe” será o segundo trabalho seguido de Vladimir com a mulher, Adriana Esteves, na TV. Os dois, que estão casados desde 2006, contracenaram como Remy e Laureta em “Segundo Sol” no ano passado:
– Quando nos conhecemos lá atrás e nos apaixonamos, nos demos muito bem também trabalhando juntos. Eu acho que falamos uma língua parecida como artistas e isso faz com que os trabalhos acabem convergindo. As pessoas veem isso e eventualmente querem contar conosco. Além disso, se você faz uma novela, na próxima não estará, mas pode ser escalado para a seguinte. Isso também acaba sendo favorável aos reencontros. Nos agrada bastante atuar juntos. Fica mais difícil administrar a vida pessoal porque a demanda é grande, mas ao mesmo tempo é bacana estar na mesma história e acompanhá-la. E ainda dá para tirar férias juntos depois, a família acaba se beneficiando.
Pai de Vicente, de 13 anos, e de Agnes, de 22, do relacionamento com a cantora Gena Karla, Vladimir conta que a filha está seguindo seus passos:
– Ela faz teatro e tem participado de audições eventualmente. E está concluindo a faculdade de Psicologia. Ela vem se dedicando, vamos ver… Se a gente se encontrar (no mesmo projeto), vai ser uma delícia. A minha preocupação é não interferir na carreira. O fato de ela ser minha filha já faz com que você me pergunte a respeito dela. Isso é uma interferência de alguma forma. Ela vai achar sua linguagem e seu caminho. Sempre digo que a escolha é dela e a dificuldade também. Assim como o sucesso será quando ela conquistá-lo.
Foto: João Cotta/ TV Globo