Vladimir Brichta levou personagem ambíguo de ‘Pedaço de Mim‘ para a terapia
Vladimir Brichta, de 48 anos, estreia sua primeira produção internacional nesta sexta-feira (5). O ator vive Tomás, em Pedaço de Mim, o marido de Liana (Juliana Paes), a protagonista. Advogado, ele compartilha o sonho de ser pai ao lado da esposa, mas sua imagem de bom moço cai por terra no decorrer do melodrama da Netflix.
“Quando o Maurício Farias me convidou e contou do personagem me interessei muito porque é muito bom. Complexo”, elogiou o ator ao falar sobre o diretor da trama. “As histórias vão surgindo e determinando quem ele é. Em uma vida morna, todo mundo é legal. Mas diante dos dilemas da vida, as pessoas mostram quem são de fato e esse personagem tem muito isso”, completa.
Logo de saída o personagem aparece para o público em um incômodo. Liana está agoniada para ser mãe e o aciona no seu período mais fértil. “Ele está diante de um dilema, depois de outro, e vai mostrando que é um cara muito egoísta e com muita dificuldade de se colocar no lugar do outro, de pensar a vida quando não pelos seus olhos e ponto de vista”, avalia.
Feliz com as nuances de Tomás, Vladimir está curioso em como o público deve encarar o personagem. “Mas ele sofre, não é um cara frio, psicopata”, defende. Após o encontro com a esposa, uma traição do advogado é descoberta e o drama de Liana se inicia no novo melodrama. “Ele é um cara que sempre teve tudo na vida. Se foge do controle dele, ele dá chilique, quebra, ameaça. Mas ao mesmo tempo quer uma vida com aquela mulher, ele ama meio errado, mas ama. E tem nela uma adoração”, completa.
Dilema real
Pedaço de Mim tem apenas 17 episódios, mas demandou um tempo ímpar da equipe para ser gravada. Foram cerca de seis meses de preparação e dois rodando para que todas as cenas estivessem prontas. Para Vladimir a construção do personagem foi além das rodas de conversas, ensaios, preparação e outros momentos de convivência com os amigos de cena.
“Ele tem desdobramentos que mostram como o personagem vai se complicando pela inabilidade de lidar com o controverso. E preparar isso foi desafiador porque ele não segue uma linha reta. Vai tomando curvas. Levei um certo tempo para entendê-lo”, revela.
Além da troca com o diretor e os amigos atores, Tomás foi com ele para casa em muitos momentos. “Todo personagem faz escolhas e somos as escolhas que fazemos. Algumas faziam sentido, mesmo que eu discordasse; mas outras não e me perguntava porque ele fazia aquilo. Foi muito legal isso. Foi uma construção que me tomou bastante atenção e cheguei a levar para a terapia, que é uma coisa que não faço”, confessa aos risos.
Punitivismo, sim
Os primeiros episódios da história se passam em 2006 e abordam um assunto que está em rodas de conversa atualmente: o punitivismo. O termo fala sobre fazer justiça com as próprias mãos, o que foge à legislação que garante ao Estado, na forma do Judiciário, o poder de punir outra pessoa.
Mas Tomás, sabedor das Leis pela sua profissão, se aproveita do seu conhecimento para atacar de longe seu algoz, Oscar (Felipe Abib). “Uma coisa é você ser vítima de uma violência e se defender buscando os meios legais. Outra é fazer justiça com as próprias mãos. Manipular uma verdade para atingir uma pessoa que, de fato, cometeu um equívoco, um erro, um crime, como se os fins justificassem os meios. E o personagem faz isso”, entrega.
“O Tomás quer se vingar e tem uma hora que ele manipula, ele forja uma realidade. Sabemos que isso não pode dar certo. Quem cometeu um crime tem que pagar por ele, mas, se manipularmos, estamos sendo criminosos também. Um erro não justifica o outro. Ele é esse cara equivocado mesmo”, conclui.
Foto: Reprodução Netflix