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Entrevista Vladimir Brichta para o jornal O Globo

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Leo Martins/Agência O Globo

Vladimir Brichta costuma brincar que não pode ouvir falar de uma novela na Bahia que quer entrar. Espécie de embaixador do estado na teledramaturgia, não queria estar fora de “Renascer”, atual novela das 21h da TV Globo— ainda mais com a trama ambientada em Ilhéus, região que conhece tão bem.

Criado entre Salvador e Itacaré (“ próximo a Ilhéus, mas com um porto que não se desenvolveu tanto por questões geográficas”, diz o filho de um geólogo), o ator pode até saber bastante do cenário da trama. O tipo de personagem, porém, é uma novidade para o público, acostumado a sorrir — e rir — quando ele aparece. Desta vez, Vladimir vive Egídio, um coronel assediador moral e sexual, que persegue Joana (Alice Carvalho), mulher do funcionário Tião Galinha (Irandhir Santos). Na primeira versão da obra de Benedito Ruy Barbosa, exibida em 1993, e agora reescrita por Bruno Luperi, coube a Herson Capri interpretar o vilão.

— Quando li, falei: “putz, estou com uma coisa especial na mão, tomara que consiga dar conta” — diz o ator, que estreou na TV em 2001, em “Porto dos Milagres”, novela das 21h também baiana — Mas, em “Porto”, não tive a petulância de achar que precisava estar escalado (risos).

O ano de 2024 é, portanto, de experimentação. Além do vilão, ele protagoniza a primeira novela da Netflix, “Pedaço de mim”, ao lado de Juliana Paes, com lançamento previsto para os próximos meses. Mas, na vida pessoal, segue uma rotina que já dura 20 anos: o casamento com Adriana Esteves, mãe de seu filho Vicente, de 17, e madrasta de Agnes, de 27, filha do casamento com a cantora Gena Karla, que morreu em 1999.

Na entrevista abaixo, além do trabalho, Vladimir fala sobre a opção de manter a relação com Adriana longe de redes sociais e acordos publicitários, além da viuvez precoce. Parte do elenco fixo do programa “Papo de segunda”, do GNT, em 2023, também comenta a experiência de expor as opiniões de sua “pessoa física”.

O GLOBO: Antes de “Renascer” estrear, você disse que seria a novela da sua vida. Por que tinha essa sensação?

Quis dizer que torço para que seja a novela da minha vida, por causa, talvez, do meu envolvimento emocional com ela. A primeira versão é muito marcante para mim, ainda que não tenha a acompanhado inteiramente. Achei que tivesse, depois percebi que, em 1993, estava me profissionalizando no teatro, tinha curso toda noite. Mas pensava ter visto porque repercutiu muito forte em Salvador. E sempre que tem uma novela na Bahia, fico achando que tenho que estar nela. Isso aconteceu em “Segundo Sol”. Lembro de quando o Dennis (Carvalho, diretor da novela, exibida em 2018) me chamou para o elenco. Falei: você está muito certo. Se não me chamasse, estava errado” (risos).

Por que acredita ter demorado tanto para interpretar um vilão do tipo desprezível?

Acho que tem a ver com o fato de eu ter feito muito humor desde “Portos Milagres” (2001). Teve “Coração de estudante” (2002), “Kubanacan” (2003)… Depois houve um hiato de dez anos em novelas, fiz séries também de humor, cinco anos só em “Tapas e beijos”. Tudo muito identificado com essa linguagem. Mas, nos meus 10 anos de carreira no teatro em Salvador, antes de vir para o Rio, não atuei em comédia. Não era dessa praia. Foi uma certa surpresa, então, ver como isso ficou tão forte. E, quando se pensa num vilão, imediatamente se enxerga algo obscuro. O humor, num primeiro olhar, parece o oposto disso. Eu, particularmente, não acho. Antes de ler sobre Egídio, acreditava que ele não teria graça nenhuma. Depois, vi que havia algumas situações cômicas porque são patéticas. Essa figura que cheira a roupa (de Joana, interpretada por Alice Carvalho) tem algo de bestial, de uma violência tremenda, mas dependendo da forma como está escrito, de como fazemos, pode ganhar desdobramentos risíveis. É possível rir de situações trágicas. A gente tem crise de riso em velório, né?

Tinha lembranças da Adriana Esteves como a Mariana da primeira versão?

Tinha flashes. Comecei a gravar e não quis ver nada. Quando as filmagens embalaram, resolvi assistir cenas do meu personagem. Depois fui ver outras e assisti também a um pouco da Dri recentemente, coisas que não tinha visto.

O que ela te falou quando te chamaram?

Quando recebi o convite, estava no set, gravando outra coisa. Ia mandar mensagem para ela, mas pensei em falar pessoalmente. Guardei como um trunfo. E ela ficou muito feliz, disse: “se joga, qualquer personagem é bom”.

Você e Adriana Esteves estão juntos há 20 anos, são muito admirados pelo público. Mas vão na contramão de um mercado que adoraria vê-los numa “publi”. O que pesa nessa decisão de se manter longe dessa máquina que seduz tantos casais famosos?

Antes de ser uma escolha do casal, é uma escolha individual. Até já conversamos sobre isso algumas vezes. Mas não foi um pacto conjunto. Individualmente, chegamos à conclusão de que isso preservaria a nossa saúde emocional. É claro que, sem rede social, por exemplo, não divulgamos a nossa peça de teatro ou filme com a mesma facilidade. E não monetizamos. (Rede social) é fonte de dinheiro também. Mas fizemos esse cálculo e concluímos que valia a pena. Como casal, ganhamos uma certa privacidade e damos valor a isso. Ela ainda mais do que eu. Dri é mais acanhada, eu diria. E já somos muito expostos. Estamos no ar o tempo inteiro, e eu adoro. Gosto de ser um artista popular, de televisão. Talvez seja o lugar onde acontece o meu diálogo com o público. Mas, olha que interessante, no “Papo de Segunda”, estava lá eu, não um personagem, com as minhas opiniões. Foi um lugar também de exercitar a comunicação como pessoa física. Mas as pessoas não precisam saber tanto o que penso.

Como foi, então, essa experiência de participar desse tipo de programa de bate-papo ao vivo?

Adorei. Fui duas vezes como convidado e cheguei a pensar: “como seria estar ali, fixo?”. Porque existe um risco muito grande nesse tipo de coisa: você ter opinião sobre tudo. Esse é o mal dos tempos atuais. A internet nos dá acesso, ainda que às vezes superficial e equivocado, a tudo. Mas não adianta achar que viu um tutorial e vai trocar o encanamento de casa. Dito isso: ao mesmo tempo que é legal debater vários assuntos, é perigoso querer opinar de forma definitiva. Adoraria poder guardar toda a informação que ouço. Quando mudei de convidado para elenco fixo, fui sem a pretensão de ser definitivo.

 

Uma das suas falas no programa que mais reverberou foi a declaração de amor ao Marco Ricca, ex da Adriana. Isso te surpreendeu?

Um pouco. Ao mesmo tempo, quando a gente fala em público, sabe que há uma escuta diferente da mesa do bar e tem a expectativa de que algumas coisas repercutam, sim. Outras, a gente prefere que as pessoas esqueçam, porque comete gafe também (risos). O que eu disse foi muito baseado na verdade: temos uma relação de amor, de muita admiração, carinho e respeito. Achei que prestaria um serviço, se as pessoas vissem que dá para lidar não só com civilidade, mas com afetos mais profundos.

Você ficou viúvo da sua primeira mulher muito cedo, quando sua filha ainda era bebê. Como isso moldou sua paternidade?

Estávamos há três anos juntos quando Gena morreu. Agnes ia fazer 2. Um ano depois, a avó entrou com um processo na Justiça pela guarda. Foi muito conturbado aquilo: estar sem a mãe, mas não sozinho, porque minha família e amigos foram muitos próximos e calorosos nesse processo difícil da perda, do luto e da luta pela guarda. Com 23 anos, precisei bancar essa história e batalhar pela guarda dela, me tornar um pai presente de tudo. Precisei fazer escolhas profissionais que, de alguma forma, viabilizassem a paternidade e me beneficiassem financeiramente. Houve um momento em que, entre fazer uma novela e fazer um filme, optei pela novela, que me renderia mais dinheiro. Poderia estar com apartamento alugado por mais tempo e convencer a Justiça de que tinha uma casa, um lugar com estabilidade para ela. Isso tudo me afetou. Quando veio o Vicente, Agnes já tinha uma mãe. A Adriana é mãe dela. Ela já tinha o Felipe (filho de Adriana com Marco Ricca) como irmão. Eu já era padrasto dele. A estrutura familiar estava estabelecida e eu, mais relaxado, com uma vida mais estruturada. Para falar bem a verdade, ao fazer um pouco de análise aqui, realmente não vislumbrava ser pai de novo. Não estava nos meus planos.

 Mas comecei a embarcar um pouquinho por causa da Dri. Casamos, e ela falou: “vamos ter mais um filho?”. Por causa do desejo dela, fui resgatando o meu próprio desejo.

Você reparou que está no ar ao mesmo tempo que seus dois grandes amigos Lázaro Ramos (na novela “Elas por elas”) e Wagner Moura (na reprise de “Paraíso Tropical” no “Vale a pena ver de novo”)?

Reparei! Na verdade, quem reparou foi o Marcelo Flores (ator, que complementa o quarteto). Ele que disse: “vocês três estão numa trincazinha aí”.

Toda amizade tem fases, altos e baixos, como qualquer relação. Nesse momento, como anda a amizade de vocês?

Fisicamente, a gente se vê muito pouco. Wagner mora em Los Angeles desde 2017, 2016…Marcelo morou aqui, mas agora está em Salvador. Mas a gente faz Zoom de vez em quando. Eu e Lazinho, vira e mexe, tentamos nos encontrar nos Estúdios Globo para ver se trocamos um minutinho de conversa. Mas é por rede social, quer dizer, por WhatsApp, que a gente se fala. Não tem uma semana em que a gente não troque alguma mensagem. A gente é muito íntimo e preserva muito a intimidade um do outro. Antes do WhatsApp, talvez nos falássemos menos. Nos amamos e nos ajudamos também. Aparecem questões da vida pessoal e inseguranças na vida profissional que nos levam a procurar uns aos outros. Até coisas que estão longe do nosso alcance… Eu, por exemplo, nunca fiz, não sei como é a dinâmica dos Estados Unidos, mas, mesmo assim, Wagner eventualmente diz: “pô, está rolando isso aqui”. Ele pede uma sugestão e trocamos um pouco. Somos formados pela mesma matéria e movidos por anseios muito parecidos.

 

 

 

Foto: Leo Martins/Agência O Globo

Fonte: https://oglobo.globo.com/cultura/televisao/noticia/2024/03/24/vladimir-brichta-reflete-sobre-discricao-no-casamento-com-adriana-esteves-fizemos-esse-calculo-e-concluimos-que-valia-a-pena.ghtml

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