Distante da TV desde o fim do seriado “Tapas & beijos”, há quase um ano, Vladimir Brichta anda numa toada frenética. A partir do dia 22, volta ao ar em “Justiça”, minissérie da Globo que vai explorar os limites entre ética, justiça e vingança na faixa das 23h. Em novembro, estreia na novela “Rock story”, próxima trama das 19h da Globo, que ele começa a gravar na terça-feira. No ano que vem, ressurge no cinema como protagonista de “O rei das manhãs”, de Daniel Rezende, inspirado na vida de Arlindo Barreto, um dos intérpretes do palhaço Bozo. E já está escalado para outra série da Globo, inspirada no livro “O corno que sabia demais e as aventuras de Zózimo Barbosa”, de Wander Antunes. Férias, portanto, só no fim de 2017.
— Eu sonhei com todas essas coisas — empolga-se o baiano de 40 anos.
Há cerca de uma década, após emendar cinco novelas em cinco anos — começando por “Porto dos milagres” (2001) e terminando com “Belíssima” (2005) —, Vladimir passou por uma crise profissional. Insatisfeito com seu rendimento, negou trabalhos sucessivas vezes. E acabou pedindo suspensão de seu contrato com a TV Globo.
— Eu tinha perdido o foco no trabalho, nos objetivos. Fui honesto, estava em crise, fui fazer terapia. Faltava alegria e ousadia — reconhece.
Egresso do teatro baiano, da mesma turma de Lázaro Ramos e Wagner Moura, ele voltou aos palcos. Trabalhou em “A hora e vez de Augusto Matraga” e no musical Os produtores” (ambos em 2007). Enquanto isso, seguiu com a carreira no cinema, trabalhando em longas como “Fica comigo esta noite” (2006), e “Romance” (2008).
A volta à TV aconteceu também em 2008, na pele do taxista Oswaldir da série “Faça sua história”. Ali, diz, se reencontrou.
— Foi a aproximação com um formato de que sempre gostei: série. E era um personagem que quebrava essa imagem de galã associada a mim — afirma ele, que gosta de se definir como “galã cômico”. — Já usei esse rótulo até como argumento de negociação: “Pô, me valoriza, aí, não tem em todo canto” (risos).
PALHAÇO ENTRE DROGAS E A PRESSÃO DA FAMA
Enquanto encarnava um de seus galãs cômicos na TV — o sedutor Armane de “Tapas & beijos” —, Vladimir começou a rodar o filme “Um homem só”, premiado com três kikitos no ano passado no Festival de Gramado. Vladimir vive Arnaldo, que cria um clone para lidar com seu casamento frustrado e com um trabalho que não lhe satisfaz. Uma “comédia meio indie americana, com ficção científica”, ele define, coestrelada por Ingrid Guimarães e Mariana Ximenes.
Depois do filme, quando “Tapas & beijos” acabou, ele resolveu dar outro tempo na TV e mergulhou de novo no cinema, em “O rei das manhãs”, com roteiro de Luiz Bolognesi.
— O personagem tem uma nuvem negra. Ele se torna famoso, mas ninguém sabe quem ele é. Aí vêm a droga, a bebida, a cocaína. Acho que ver um palhaço cheirando cocaína é algo que traz curiosidade. E o filme fala da pressão dessa nossa carreira, né? O ator vive esse dilema de querer muito a fama, e pra quê? Que busca é essa? Fama é bom, mas eu atrelo o sucesso a algo mais pessoal. Na Bahia, eu não pagava as contas, era sustentado por pai e mãe, mas eu tinha reconhecimento. Eu me sentia um sucesso — pondera.
Seu próximo papel na TV, em “Justiça”, também vai girar em torno de drogas. E armas. E prostituição. Na série escrita por Manuela Dias e dirigida por José Luiz Villamarim, Vladimir será Celso, que usa um quiosque como fachada para vender sexo, armamento e entorpecentes, e acaba levando à prisão da personagem Rose (vivida por Jéssica Ellen).
— Ele é aquele cara que a sociedade cada vez mais recrimina e que discute, é o sujeito que quer levar vantagem em tudo. E que reclama do político corrupto. Só que isso não justifica os erros que comete. Agora, eu não julgo, não acho que é papel do ator. Não é meu feitio e nem a linguagem da trama — diz. — Hoje se discute a ética e a política mais abertamente, mesmo que num estágio primário. A democracia é quase juvenil, assim como nosso pensamento, e, como tal, temos a necessidade brutal de convencer o outro. Eu acho que existe o caminho do meio.
A volta de Vladimir às novelas — em “Rock story”, de Maria Helena Nascimento, com direção de Dennis Carvalho — vai ser bem diferente dos papéis que viveu até aqui. Na pele de um roqueiro decadente, ele vai cantar, dançar e contracenar com novatos como Rafael Vitti e Nicolas Prates, conhecidos de “Malhação”.
— Vou reaprender a decorar texto. Mas chego com frescor, espero não fraquejar. Que nem o atleta que joga com 20 e com 35, ele sabe cadenciar, a hora de explodir. O foco é aproveitar o know-how. Quando estou cantando, dançando, sou eu sem idade. Que nem o Mick Jagger, que arrebenta no palco, mas aposto que sente os efeitos da idade quando passeia com os netos (risos).
“HOMEM DE 40 NÃO SE COMPORTA COMO UM DE 20”
Vladimir conta que recentemente andou negando papéis para evitar personagens que estejam fora de sua idade. Aliás, jura que só quer interpretar homens que tenham a ver com ele de alguma forma.
— Dei não até para o Guel Arraes, que é um cara que adoro. Eu tenho 40 anos, sou pai de família. Se alguém me escalar para fazer um personagem que está saindo da casa dos pais, não vou conseguir. E, com relação ao físico, já sinto que não posso fazer as mesmas coisas que fazia antes. Mas é isso, um homem de 40 anos se comporta e corre como alguém de 40 anos, e não de 20 — analisa o ator, casado com a atriz Adriana Esteves e “pai” de três, Vicente (de 9 anos, filho dos dois), Felipe (16, filho dela com o ator Marco Ricca) e Agnes (18, filha dele com a cantora Gena Ribeiro, morta em 1999). — Ou eu não amadureci o suficiente para ser pai ou eles são nota mil (risos).
Fonte: http://oglobo.globo.com/cultura/revista-da-tv/vladimir-brichta-revela-que-ja-perdeu-foco-no-trabalho-fui-fazer-terapia-19917230