“Temos que fazer uma arte que grite”, diz ator Vladimir Brichta em live
O ator Vladimir Brichta participou de um bate-papo, transmitido ao vivo nesta quarta-feira, 20, nas redes sociais do Grupo A TARDE, com mediação do editor da Caramurê e artista plástico, Fernando Oberlaender, falando sobre a sua trajetória no teatro e na televisão, além de tocar em assuntos mais sensíveis como o papel do artista diante da política atual.
Um dos trabalhos comentados pelo artista foi a atuação na novela Segundo Sol, da Rede Globo, exibida em 2018 e que se passou na Bahia. Segundo Brichta, o convite para participar da novela foi comemorado, pois ele, por ser baiano, achou “uma boa” para que pudessem ser minimizadas as falhas que a produção poderia vim a apresentar.
“Vi com entusiasmo o fato de mostrar a Bahia e Salvador em um ambiente mais urbano. A Bahia sempre foi retratada principalmente baseada em obras do Jorge Amado, mas que fugia da coisa urbana mostrava outra época. Existe realmente o olhar de fora de enxergar a Bahia como um lugar pitoresco”, observou o ator.
Bastante criticada pela falta de atores baianos e negros, a novela foi se modificando aos poucos, ao longo dos episódios, para corrigir algumas falhas apontadas pelo público. Vladimir afirmou concordar com a crítica em relação a pouca presença de baianos e negros. Ele contou também que quando foi participar de uma reunião com o diretor Dennis Carvalho chegou a perguntar sobre a presença de atores baianos e negros no elenco. “Pela representatividade e pela importância disso”, disse, acrescentando que a reclamação surgiria de qualquer forma.
Durante a conversa, Vladimir Brichta defendeu que produções locais deveriam acontecer muito mais para que o baiano se reconheça nas histórias. Segundo ele, muitos jovens afirmaram que tiveram suas perspectivas modificadas e que a produção teve um significado especial. “Eu sonho em poder, de repente, passar uma temporada grande em Salvador e produzir algo”, declarou.
O ator não deixou de falar sobre temas mais sensíveis, durante o bate-papo, como o assassinato do jovem João Pedro, de 14 anos, no Rio de Janeiro, que foi baleado durante uma operação policial. Para Brichta, o artista precisa fazer uma arte que grite o desespero dessa “sociedade sendo atropelada”. Mas ele frisou também que o artista não deve abrir não da poesia, pois a arte tem as mais diversas formas de estimular a empatia.
Mencionando o filme “Alemão 2”, ainda a ser lançado, que se passa na comunidade do Alemão, no Rio de Janeiro, Vladimir contou que se perguntou se deveria mesmo fazer o papel de um policial e se tinha domínio sobre o tema, já que, de acordo com ele, é tão caro à sociedade. “Essa polícia violenta é um braço da nossa sociedade violenta. Quando fiz o filme, pensei em como poderia contribuir com essa história, em como eu, enquanto pessoa de esquerda, posso discutir sobre segurança pública”, questionou.
“A gente precisa falar sobre esse assunto. Esses fascistas se apropriaram da polícia, porque a polícia deveria ser para todo mundo, a segurança pública deveria ser para todo mundo. Assim como esse grupo roubou a bandeira, ele também roubou a polícia e a polícia não pode ser deles. A gente precisa abordar esse assunto e aí vem muita coisa para ser discutida”, concluiu
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